Não, a minha intenção não é falar agora nem do rio nem do
país que o mesmo, para além de atravessar, em grande medida conforma e até
modela. A minha intenção é outra, pois quero simplesmente dar expressão ao que
vejo quando vejo uma imagem assim (Reuters): dialéctica do incomensurável,
neste caso entre o que possa ser a superfície ou a profundidade que a mesma
sempre encobre; transitoriedade das formas, imagem do que se passa com os
sentimentos; dificuldade da navegação, quando se trata de evitar escolhos;
importância da Amizade para não tropeçar e, de preferência, poder progredir.
Como um rio que nunca se repete, assim também é a vida que
temos: transitória, fluida, dinâmica, crescentemente decrescente, para além de
ser o que sabemos ela ter de ser: decrescentemente crescente!
O rio, desemboca no mar; a vida, para uns, apenas leva à
morte; para os crentes na Pessoa de Jesus Cristo Ressuscitado, a vida leva à
Vida, o amor a mais Amor, a alegria à Festa que nunca acaba.
Como o Yangtze que move as areias escondidas daquela Xian que
ainda não conheço, assim também o Mistério que nos percorre move os átomos do
que somos, as porções da nossa vida, os escolhos que nos moldam.
Com muita ou pouca água, um rio nunca deixa de o ser. Mas
nós? Nós, para além de sermos «rio» somos algo infinitamente mais, pois somos:
Liberdade! E contudo, sendo livres, permanecemos focos de uma Esperança que só
pode ser dinâmica, que só mostra bem quando se sente e que, claro, nunca se
sente tanto como quando dela temos saudade ou falta. Por isso, mesmo quando
«secos», ou até sem vontade, uma coisa temos de saber fazer: continuar,
passo-a-passo, em direcção à Meta, correndo para a Foz em que, desembocando, se
encontra a Vida; ou, ainda mais, se revela o Amor que não pode mais ter fim,
pois o Fim é ele mesmo. Sem mais, já que só o Amor é fonte e razão de ser da
Esperança. E da corrida que fazemos em direcção ao Oceano da nossa mais
profunda, inequívoca e transcendente realização. Em Deus!
Pe. Vila-Chã