O BES de Angola não sabe a quem emprestou 5,7 mil
milhões de dólares
O
semanário Expresso noticia este sábado que o BES Angola não sabe a quem
emprestou 5,7 mil milhões de dólares, sendo que a atual administração suspeita
que 745 milhões foram parar às mãos de Álvaro Sobrinho, presidente daquele
banco até 2012.
O
empresário angolano Álvaro Madaleno Sobrinho é dono da Newshold, grupo angolano
que, além do semanário Sol, controla 15% da Cofina (Correio da Manhã,
Jornal de Negócios, revista Sábado), bem como o jornal i.
A Newshold ficou conhecida por ter entrado na corrida pela privatização da RTP,
entretanto gorada.
Segundo
o Expresso, a situação do BESA foi explicada pelo novo CEO do banco, Rui
Guerra, aos acionistas em duas reuniões que decorreram em Angola em finais de
2013. O panorama apresentado por Guerra foi no mínimo inusitado: para um valor
de 5,7 mil milhões de dólares de crédito concedido pelo BESA, que representa
nada menos que 80% do total da carteira, não há informação sobre quem são os
beneficiários económicos nem para que fins foi utilizado o dinheiro. Há muito
poucas garantias reais e as que existem não estão avaliadas.
O
próprio José Eduardo dos Santos mandou dar garantias
Recorde-se
que o presidente do BES, Ricardo Salgado, reconheceu recentemente que houve
problemas no BESA e que o banco recorreu diretamente ao governo angolano para
obter uma garantia que cobrisse o crédito duvidoso. “O presidente José Eduardo
dos Santos teve uma grande atenção, com certeza, na decisão [de ser dada uma
garantia do Estado angolano que cobre de 70% do crédito do BESA]. Eu estou
reconhecido porque também foi consideração em relação ao Grupo Espírito Santo.
(…) A garantia é inequívoca”, disse Ricardo Salgado em entrevista ao Jornal
de Negócios.
A
notícia do buraco nas contas do BESA já fora dada pelo site informativo Maka
Angola e reproduzida pelo Esquerda.net.
O jornalista Rafael Marques calculava que os créditos malparados eram na ordem
dos 6.500 milhões de dólares, incluindo 1.500 milhões em juros – um valor não
muito diferente do que foi adiantado agora pelo Expresso.
Empréstimos
generosamente distribuídos a figuras proeminentes do MPLA
Segundo
o artigo do Maka Angola, a origem do buraco foram os empréstimos generosamente
distribuídos por Álvaro Sobrinho, “a conhecidas figuras do regime angolano,
incluindo vários membros do Bureau Político do MPLA”.
Segundo
o Expresso, na reunião de acionistas Sobrinho afirmou que a ausência de
controlo na aplicação dos fundos emprestados é uma falha antiga na gestão do
BESA, muito comum em África, e que sempre reportou toda a informação ao conselho
de administração do BESA sendo que a maioria dos administradores foram nomeados
pelo BES. Alegou também que o BESA sempre prestou informação detalhada ao BES,
nomeadamente sobre os grandes riscos, bem como ao Banco Nacional de Angola e
que os auditores, KPMG, nunca colocaram quaisquer questões ou reservas
relevantes às contas.
Estavam
presentes na reunião Ricardo Salgado (BES), o general Leopoldino Fragoso do
Nascimento (Geni), o general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” (Portmill) e
o próprio Álvaro Sobrinho, acionista individual.
Estado
angolano poderá passar a ser principal acionista
Uma
fonte ouvida pelo Expresso afirma que há uma alta probabilidade de que o
aval do governo angolano terá de ser executado, de modo a proteger o Banco
Espírito Santo de impactos diretos nos resultados e no seu capital. Nesse caso,
o aval poderá ser convertida em capital social do BESA, o que tornaria o Estado
angolano no principal acionista do banco, cujo capital social não chega aos 700
milhões de dólares.