Posted on março 4, 2014 by Outra politica
Desigualdade social |
Todos os anos a revista Forbes publica a sua célebre lista dos bilionários.
A classificação de 2010, que acaba de vir à luz, dá informações esclarecedoras:
em um ano, o número de bilionários em dólares passou de 793 para 1011 e o seu património
acumulado monta a 3600 bilhões de dólares, uma alta de 50% em relação ao ano
anterior. Para os super ricos, a crise já está bem longe.
Pouco importa que Bill Gates seja apenas o segundo, ultrapassado pelo
mexicano Carlos Slim cuja fortuna atinge US$53,5 bilhões. O mais importante é
que um tal montante, concentrado nas mãos de uma única pessoa, representa 12
vezes o orçamento de um país como a República Democrática do Congo (RDC), que
abriga mais de 68 milhões de pessoas. Esta quantia também representa mais de
3,3 milhões de anos do salário mínimo (SMIC) em vigor em França.
Este forte aumento do número de bilionários verifica-se quando milhares de
milhões de pessoas vêm as suas condições de vida degradarem-se em consequência
da crise. Isto revela de maneira gritante que os muito ricos conseguiram fazer
com que o custo desta crise seja suportado pelo maior número. Em numerosos
países, tanto ao Norte como ao Sul, a dívida pública dos Estados explodiu,
nomeadamente para vir em socorro dos responsáveis desta crise (bancos privados,
fundos especulativos…) ou para pagar as consequências. O acréscimo desta dívida
é a seguir o pretexto para impor medidas anti-sociais que penalizam as
populações mas poupam os mais ricos.
Em oposição ao sistema capitalista que a cada dia mostra as suas
desastrosas consequências sociais, há uma ideia que faz o seu caminho: a de um
imposto mundial sobre as grandes fortunas, avançada desde 1995 pela Conferência
das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (CNUCED). Por exemplo: um
imposto de 20% sobre o património deste pequeno milhar de bilionários
permitiria recuperar 720 bilhões de dólares, ou seja, a metade da dívida
pública externa de todos os países em desenvolvimento no ano de 2008 (US$1405
bilhões) e 3,5 vezes o montante dos seus reembolsos anuais devido a esta dívida
(US$211 bilhões).
Às somas assim libertadas poderiam acrescentar-se outras para lançar as
bases de uma outra mundialização: recuperação das somas despejadas nas grandes
instituições bancárias privadas desde o começo da crise e reparações dos danos
sociais provocados pela sua sede desmedida de lucros tomando-os do património
dos seus administradores e dos seus principais accionistas, abolição da dívida
externa pública dos países do Sul, pagamento pelos países mais industrializados
de reparações em compensação por cinco séculos de dominação (escravidão,
colonização, destruição de culturas locais, pilhagem das riquezas naturais,
destruições do ambiente…), retro cessão dos bens mal adquiridos pelas elites do
Sul (o que implica a realização de inquéritos internacionais assim como a
supressão dos paraísos fiscais e judiciários), tributação das transacções
financeiras internacionais e dos lucros das sociedades internacionais… Ao mesmo
tempo, a plena soberania dos povos não poderá se efectiva senão se todas as
condicionalidades macroeconómicas de ajustamento estrutural, como o FMI e o
Banco Mundial impõem desde há trinta anos, forem abandonadas. Uma nova
arquitectura económica e financeira internacional será então possível, tendo
como prioridade absoluta a garantia dos direitos humanos fundamentais.
Os fundos recuperados permitiriam então às populações do Norte deixar de
suportar as consequências da crise e às populações do Sul principiar finalmente
um verdadeiro desenvolvimento que estariam em condições de decidir por si
mesmas, tendo em conta as suas próprias necessidades e os seus próprios
interesses, ao contrário do que lhes exigem os seus credores, aproveitando
plenamente os seus recursos naturais e no respeito das suas especificidades
culturais.
A publicação da classificação da Forbes deve portanto ser a oportunidade
para repor em causa as bases do modelo económico e financeiro existente e para
propor medidas radicais a fim de que os bilionários citados nesta classificação,
assim como todos aqueles que acumularam fortunas extravagantes, suportem o
custo de uma crise cujas vítimas têm sido os povos.
Apesar de os preceitos neoliberais terem sido brevemente vilipendiados após
o desencadeamento da crise em 2007-2008, nenhum ensinamento foi extraído, e são
os mesmo de sempre que lucram com a mundialização financeira e com a injusta
repartição das riquezas que ela organiza. Os muito ricos retomaram a sua marcha
para a frente, que se faz a espezinhar os direitos da grande maioria dos outros
e levando o mundo para um impasse suicida. Mas desde já germinam as ideias
força capazes de entravar a sua corrida louca. O desafio é chegar a impor-lhes
o mais rapidamente possível.
Damien Millet é porta-voz e Sophie Perchellet é vice-presidente do CADTM
França (Comité para a anulação da dívida no terceiro mundo).
Original: http://www.legrandsoir.info/Mille-milliardaires-a-faire-payer.html
Já agora, sugiro vivamente esta leitura:
http://outrapolitica.wordpress.com/2010/03/25/fazer-com-que-mil-bilionarios-paguem-a-crise/
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http://outrapolitica.wordpress.com/2010/03/25/fazer-com-que-mil-bilionarios-paguem-a-crise/