Não
querer votar nas eleições para os órgãos e instituições políticas do meu país,
é deitar por terra, banalizar e renegar uns dos maiores direitos conquistados
com a Revolução de Abril, que foi e continua a ser a liberdade de escolha
através do meu voto.
Liberdade de escolha que nesse pequeno gesto,
nessa cruz que se traça ou não, fará certamente a diferença, dela dependendo
o aparecimento de minorias ou até maiorias parlamentares, governos e políticas cuja continuidade - a História nos ensina - ameaça se torna ao regime democrático, abrindo frequentemente lugar à prepotência política e à arbitrariedade na ação governativa e legislativa que não queremos, mas que, inevitavelmente, sobretudo com a abstenção, a todos atingirá.Quando voto, decido, julgo, avalio e até penalizo os partidos e as suas políticas. Sim, os partidos, sem os quais nenhuma democracia se constituirá. Por isso é que voto. Por isso é que deves votar.
Quando
não votas, não existes. Escondes-te numa posição fácil de clara
desresponsabilização pelo que do teu gesto possa resultar para o país e para a
continuação do estado democrático. Demites-te, assim, daquilo que era legítimo
e até obrigatório fazeres se fosses um tipo consciente do que estudaste e até
ensinaste, porque muitos morreram a lutar por esse dia, essa liberdade, torturados
e perseguidos que foram por travarem um combate do qual agora foges vergonhosamente.
Quando
não votas, és como um desertor que abandona o país à sua sorte e nada dele quer
saber. Não, nada se fará ou mudará se não intervieres com o teu voto e ele falar por ti.
Quando
não votas, acobardas-te porque foges a um dever e a uma responsabilidade cívica
que a ti também cabe mas que não assumes, deixando perigosamente que outros por
ti decidam, mal ou bem, os destinos do nosso país e da tua autarquia. Depois, de
forma perversamente subtil, passas para os outros, falsamente envaidecido, um
discurso oco, árido, sistematicamente oco, sistematicamente árido, próprio dos
que à espreita sempre estarão só para criticar, nada fazendo ou tendo feito,
sequer pensado em fazer, interessados somente em denegrir quem com seriedade o
seu programa político fez e a sua ação pautou, entregando-o para sufrágio
popular.
Estás
descontente com os partidos? Com a Política? Com certos candidatos? Com a
corrupção e o compadrio? Com o despesismo do Estado? Estás descontente? Que
fizeste ou tens feito para acabar com isso?
Estiveste
na Rua, nas manifestações contra a cada vez maior pobreza dos portugueses? Contra
esta austeridade terrível que nos atormenta e mata lentamente? Estiveste na
Rua, nas manifestações contra a delapidação das contas públicas, as mordomias
das elites, de certos políticos, dos banqueiros, dos gestores públicos, contra
as PPP, contra a falta de transparência da gestão do erário público, do roubo
de salários e de direitos constitucionalmente adquiridos, da desigualdade social crescente, do desrespeito pela Constituição e conquistas dos trabalhadores? Onde tens estado
quando lutamos contra o fim do Estado Social? Que tens feito? Falas, sim, mas
nada fazes para combater aquilo que criticas. Aliás, só criticas e nem votar
vais, entrincheirado que estás e continuas a estar no teu discurso de espetador
passivo, sempre com as mesmas palavras, acomodado com as mesmas palavras, os
mesmos gestos e a mesma atitude, agarrado aos erros do passado que outros
cometeram mas nada fazendo hoje para que uma nova mudança na Política aconteça.
Que
exemplo dás aos teus filhos, aos nossos jovens que pela primeira vez vão votar?
Quantas vezes andaste na tua cidade, na tua freguesia, e viste o que foi feito
ou não foi feito e devia ser? Quantas vezes contataste órgãos do teu país ou da
tua autarquia sobre incumprimentos graves acontecidos mas prometidos nos seus
programas eleitorais? Quantas vezes?
Não
condenes os partidos porque sem partidos não tens democracia. Assume a sua
existência como um sinal de desenvolvimento e maturidade política do teu país mas não lhes delegues,
exclusivamente, uma discussão e uma responsabilidade da qual sistematicamente
te excluis como cidadão crítico e ativo que se esperava que fosses e ás vezes dizes ser, tu, que nem
interessado estás em votar.
Quem
não vai votar não tem autoridade cívica nem moral para exigir ou criticar seja
que governo, presidente ou autarquia for.
Todos
deviam pensar no que fazem, melhor, no que não querem fazer para mudar aquilo
que criticam.
Quem
não vai votar não se importa com o seu país.
Eu
importo-me.
Não
me chega pertencer-lhe. Quero participar nele.
Nazaré Oliveira