Com a devida vénia, aqui publico uma mensagem que recebi da Associação de Professores de História (A:P:H:):
Dispensar 50.000 professores?A Associação de Professores de História manifesta-se frontalmente contra a notícia veiculada acerca da necessidade em dispensar 50.000 professores (ver em http://economico.sapo.pt/noticias/fmi-propoe-dispensa-de-50-mil-professores-e-novo-corte-nas-pensoes_159819.html e enviou para a LUSA o seguinte texto:
Explicita-se que “No relatório é referido que os polícias, os militares e os professores “continuam a ser um grupo privilegiado na sociedade”, que os médicos têm salários excessivamente elevados (principalmente devido ao pagamento de horas extraordinárias) e os magistrados beneficiam de um regime especial que aumenta as pensões dos juízes em linha com os salários”.
Relembramos o último
relatório da OCDE que afirma que os professores portugueses são, na Europa, os
que trabalham mais horas por menos dinheiro.
Em Portugal já
houve momentos em que se discutiu o papel do professor na gestão da mudança
económica, social e cultural. Mas de uma maneira geral e sempre que ocorreram
grandes alterações sociais, instabilidade económica e descrença perante o
futuro, o professor apareceu como responsável direto pelas deficiências na
qualidade da formação, logo na preparação das novas gerações e, assim também,
no seu desemprego e consequente agravamento das condições económicas e sociais
(ver, a propósito, Martin Lawn, que explicita bem este fenómeno a partir do
caso inglês – “Os professores e a fabricação de identidades” in A. Nóvoa, A
difusão mundial da escola, 2000).
Se os
professores são uma das “tecnologias” do sistema educativo (expressão de Martin
Lawn) e, por isso mesmo, fortemente regulamentados pelo Estado, então
atualmente uma das pretensões do Estado pode ser a de incentivar
deliberadamente a destruição da identidade do professor ou, pelo menos, fazer
com que o professor se sinta confuso, afastado do processo para o qual é
chamado a trabalhar, disperso por múltiplos apelos, cada vez mais burocráticos
e distantes da sua formação académica e pedagógica.
Apagar essa
identidade (do professor enquanto profissional) pode ter vários objetivos, de
entre eles talvez substituí-la por outra menos reivindicativa, menos coesa e
confiante. Esta pode ser uma estratégia devidamente refletida e
extraordinariamente eficaz para protelar a situação crítica que se vive nas
escolas e, por conseguinte, no sistema educativo em geral. E, talvez por isso,
se assista ao esquecimento do papel social e cultural que os professores têm
numa sociedade democrática, se aumente a carga horária e o número de alunos por
turma de uma forma cega, esquecendo as consequências.
Uma forma de
manietar os professores é exigir-lhes o que não conseguem por não terem
condições objetivas de alcançar. Se agora se acresce a isto o receio de perder
o emprego, então temos um meio eficiente de manipular os professores, de criar
um professor sem identidade, inseguro e dependente. E contribui-se para
destruir de maneira dura e atroz o sistema educativo, a escola pública e a
preparação das novas gerações. Estas poderão pagar caro este desprezo de uma
política que sobrepõe a contabilidade ao futuro dos mais novos.
09 de janeiro de 2013
A Direção da APH