quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Dispensar 50.000 professores?




Com a devida vénia, aqui publico uma mensagem que recebi da Associação de Professores de História (A:P:H:):


Dispensar 50.000 professores?A Associação de Professores de História manifesta-se frontalmente contra a notícia veiculada acerca da necessidade em dispensar 50.000 professores (ver em http://economico.sapo.pt/noticias/fmi-propoe-dispensa-de-50-mil-professores-e-novo-corte-nas-pensoes_159819.html e enviou para a LUSA o seguinte texto:

Explicita-se que “No relatório é referido que os polícias, os militares e os professores “continuam a ser um grupo privilegiado na sociedade”, que os médicos têm salários excessivamente elevados (principalmente devido ao pagamento de horas extraordinárias) e os magistrados beneficiam de um regime especial que aumenta as pensões dos juízes em linha com os salários”.

Relembramos o último relatório da OCDE que afirma que os professores portugueses são, na Europa, os que trabalham mais horas por menos dinheiro.

Em Portugal já houve momentos em que se discutiu o papel do professor na gestão da mudança económica, social e cultural. Mas de uma maneira geral e sempre que ocorreram grandes alterações sociais, instabilidade económica e descrença perante o futuro, o professor apareceu como responsável direto pelas deficiências na qualidade da formação, logo na preparação das novas gerações e, assim também, no seu desemprego e consequente agravamento das condições económicas e sociais (ver, a propósito, Martin Lawn, que explicita bem este fenómeno a partir do caso inglês – “Os professores e a fabricação de identidades” in A. Nóvoa, A difusão mundial da escola, 2000).

Se os professores são uma das “tecnologias” do sistema educativo (expressão de Martin Lawn) e, por isso mesmo, fortemente regulamentados pelo Estado, então atualmente uma das pretensões do Estado pode ser a de incentivar deliberadamente a destruição da identidade do professor ou, pelo menos, fazer com que o professor se sinta confuso, afastado do processo para o qual é chamado a trabalhar, disperso por múltiplos apelos, cada vez mais burocráticos e distantes da sua formação académica e pedagógica.

Apagar essa identidade (do professor enquanto profissional) pode ter vários objetivos, de entre eles talvez substituí-la por outra menos reivindicativa, menos coesa e confiante. Esta pode ser uma estratégia devidamente refletida e extraordinariamente eficaz para protelar a situação crítica que se vive nas escolas e, por conseguinte, no sistema educativo em geral. E, talvez por isso, se assista ao esquecimento do papel social e cultural que os professores têm numa sociedade democrática, se aumente a carga horária e o número de alunos por turma de uma forma cega, esquecendo as consequências.

Uma forma de manietar os professores é exigir-lhes o que não conseguem por não terem condições objetivas de alcançar. Se agora se acresce a isto o receio de perder o emprego, então temos um meio eficiente de manipular os professores, de criar um professor sem identidade, inseguro e dependente. E contribui-se para destruir de maneira dura e atroz o sistema educativo, a escola pública e a preparação das novas gerações. Estas poderão pagar caro este desprezo de uma política que sobrepõe a contabilidade ao futuro dos mais novos.

09 de janeiro de 2013

A Direção da APH