quinta-feira, 1 de novembro de 2012

PSD, CDS e PS de Sócrates

No meio de tantos teóricos de bolsa farta, no meio de tantos comentadores de barriga cheia, no meio de tantos políticos por acaso, ouvem-se coisas que são um completo desrespeito pelos que de um simples e pequeno salário vivem, que dele só vivem e no qual sistematicamente lhe vão cortando, sem respeito, sem a mínima consideração por direitos constitucionalmente adquiridos e, por isso mesmo, legitimamente reivindicados.

Quando ouvi há dias mais um atentado ao POVO português, desta vez pelo banqueiro F Ulrich, quando disse “o País aguenta mais austeridade? Ai aguenta, aguenta!”, recordei-me daquilo que Durão Barroso (o homem que rasgou as suas responsabilidades políticas perante o povo que largou a troco de um cargo na UE) disse ao Expresso no dia 4 de fevereiro de 2012 - certamente com aquele arzinho de quem pensa mandar em tudo mas que na realidade obedediente terá que continuar a ser -, não haver motivos para cenários catastrofistas sobre Portugal e que a Europa vivia um momento de refundação que implicava medidas consistentes, destacando o êxito de Portugal na execução do programa de assistência financeira.

 


Esta gente está louca! Esta gente não faz a mais pequena ideia do que se passa no Portugal real, no Portugal que vive amargurado e que a custo já sobrevive, no Portugal que já vem para a rua porque encurralado está por gente que, descarada e vergonhosamente lhe aperta cada vez mais o cinto e o humilha cada vez mais, gente que rouba  e exige a quem com dificuldades sempre viveu , quase nada teve ou se o teve ou tem ao trabalho o deveu.
E quem austeridade aos pobres tem imposto e mais austeridade aos pobres quer impôr, tem sido gente que de mordomias ou gordos salários aufere e de bom viver habituado sempre esteve.
Claro que não é preciso ser-se pobre para se compreender a pobreza mas é preciso ter-se consciência de que se se continuam a exigir sacrifícios, não a todos mas aos do costume, pobres mais pobres ficarão e de imoralidade a nossa vida política e económica mais cheia ficará, nada restando daquela madrugada clara e limpa que o sonho, afinal, não fez cumprir: a justiça e a iguldade social.
Depois de 48 anos de fascismo, quando estoicamente nos libertámos dos grilhões da ditadura não foi seguramente para dar guarida a aprendizes de política, políticos corruptos, ligações obscenas da Justiça com a Política, da Política com a Banca, com a Comuniação Social, com a Europa Comunitária mais presa ao euro do que à solidariedade entre os diversos cidadãos, tal o divisionismo e a hipocrisia que de Bruxelas e Estrasburgo tem vindo. 

Não foi para continuar a ver este quadro desolador que os meus pais lutaram e que muitos morreram.

Aqui, como na maioria dos países  onde a crise está instalada, foram políticos e governantes como os que temos tido ultimamente que desgraçaram as economias nacionais à custa do roubo institucionalizado e das mordomias com as quais precaveram o seu futuro comprometendo o nosso, com favorecimentos  que ao caos nos levaram e que agora nos obrigam a pagar o preço das suas continuadas irresponsabilidades e compadrios financeiros.
Mas não impõem austeridade a si próprios. Nem austeridade nem Ética nem Moral, quer da parte dos que lá continuam quer mesmo dos que lá estiveram e que agora, estranhamente, vêm em defesa dos que a custo lá vão sobrevivendo até ao dia em que nada restará, opinando sobre o exagero das medidas de austeridade mas das tais mordomias não prescindindo nem delas abrindo mão.
Por que não se retiram essas mordomias? Em democracia, um cargo que se ocupou foi um cargo ao serviço da causa pública, logo, cessando, não tem que haver lugar a compensações ou benesses, muito menos de natureza fiscal, remuneratória ou outra.
A Política é e deverá ser sempre um serviço para os outros, para o país e não para si próprio, jamais havendo lugar para pagamentos que, no final dos mandatos, escandalosamente continuem a processar-se ou a fazer-se sentir como se de um estatuto especial a pessoa em questão tenha de ter.
Especial, é a marca que um político deixa como tal. Especial é e deve ser a atitude de um político para com o seu povo e o seu bem estar, esse, sim, o objetivo fundamental da sua nobre ação.

Mas não é isso que temos visto, como sabemos, particularmente no nosso país.
Muitos dos que lá estão vão-se aproveitando e quem lá esteve também não abdica dessas compensações que, afinal, ninguém ousa retirar-lhes mas devia, porque a todos nós pertencem.
Agarram-se às exigências da troika para aplicar sem compaixão medidas de clara injustiça social e de forte componente fascizante, fingindo-se esquecidos das grandes fortunas e dos criminosos políticos e financeiros que à bancarrota nos levaram, colocando-nos essas medidas como únicas e incontornáveis, como se se tratasse de um caso de vida ou de morte perante o qual o povo se deva submeter, quando este mesmo povo, a arraia miúda, continua a ver aqueles criminosos intocáveis, sem o mínimo beliscar da Justiça, ou até mesmo os que falam cinicamente, com pena, muita pena, "dos pobrezinhos e coitadinhos", mas não prescindem a bem desses coitadinhos  das regalias que à sua custa conseguiram, mas que nunca, nada nem ninguém justifica que as mantenham.
 
Antigos responsáveis de cargos políticos (presidentes da República, ministros, secretários de estado, gestores, administradores, assessores, deputados & Cª Lda), que continuam a usufruir, por isso mesmo, de reformas milionárias e outras que tais, que enriqueceram à custa da sua passagem (mesmo fugaz) pela Política e que, principescamente cá vivem ou no estrangeiro gozam dos seus “rendimentos”politicamente obtidos, deviam dar provas da sua dedicação ao país colocando parte das mesmas ao serviço do pagamento da dívida e até prescindir definitivamente da aceitação de certas benesses, caso de motoristas, carros topo de gama, gabinetes, sem falar da listagem de “ofertas”e “agradecimentos” que todos sabem existir.

Em democracia não há intocáveis.

Onde está a Justiça neste país quando se sabe quem para este fosso nos levou e nem sequer obrigados são, na barra dos tribunais, a explicar por que razão assim fizeram ou deixaram que acontecesse?
Onde está a Justiça neste país que deveria aplicar as medidas de austeridade a todos e não só a alguns, de forma justa e implacável? Onde está a Justiça neste país que a uns consente, “come e cala” e a outros rouba e despreza? Onde está a Justiça neste país que faz de conta que não vê a desgraça em que, dia após dia, está a fazer cair a nossa democracia e a nossa soberania, tornando cada vez mais perto o ajuste de contas que naturalmente surgirá?
O grito da rua é revolta, fúria, fome e desespero, agigantando-se a passos largos contra os que a isto nos levaram e continuam a querer levar, sem dó nem piedade, como se a gestão política danosa que os últimos governos fizeram contra o povo e nas costas do povo, tivesse agora de ser paga por quem na sua boa fé e promessas eleitorais confiou, votando, enquanto habilidosamente “doutores”e“engenheiros” se enfardavam em dinheiro, benesses e paraísos fiscais, eles e as suas famílias, maravilhosamente instalados na terra da impunidade da qual nunca saíram nem sairão, a não ser que Justiça se faça e rápido as leis se alterem e as penas se cumpram.

Do mesmo modo que defendo que em democracia não há intocáveis, também não aceito, em democracia, nem a redução de pena nem a prescrição de crimes ou amnistias.
Afinal, somos ou não um Estado de Direito?
 
Há dinheiro, sim, para pagar a dívida que essa gente nos arranjou e que nos tem obrigado a pagar! Há dinheiro, sim, e nós sabemos onde é que os cortes devem ser feitos para o obter. Então, por que não se fazem? Que se encobre ou quem se encobre com isso? Por que razão os deputados não atuam, severa e exemplarmente, legislando contra este estado de coisas e, sobretudo, contra estes crimes políticos e financeiros e este desfalque constante das contas públicas? Sim, por que razão os deputados não alteram as leis, com vista ao bem comum, ao verdadeiro bem comum, tornando as penas mais pesadas e os julgamentos mais céleres?

Nada justifica a inação neste âmbito nem a manutenção das impunidades. Nada nem ninguém.

Tal como em todos os partidos e governos, há bons e maus elementos e conjunturas político-económicas mais ou menos favoráveis. No entanto, atendendo à gravidade da situação a que chegámos, considero que a responsabilidade da mesma também não deve ser somente assacada ao governo PSD e CDS mas, igualmente, ao PS de José Sócrates.
 
A memória é curta? Sim, mas não devia.

nazaré oliveira