Falar em Srebrenica é lembrar os 520 muçulmanos mortos em 1995 pelas forças sérvio-bósnias, num massacre considerado pela justiça internacional como genocídio, passados que foram 17 anos.
Falar em Srebrenica é, infelizmente, recordar o holocausto nazi e lembrar que o perigo e a ameaça da extrema-direita permanecem nesta Europa falsamente ancorada em princípios e valores unionistas e, sobretudo, constatar que o Mundo continua a não olhar para a História, a História recente escrita com o vermelho do sangue de inocentes e envolvida com a mortalha negra da monstruosidade e do ódio sem limites que um genocídio sempre foi e sempre será.
Aqui, na Europa, como em qualquer parte do mundo, onde ditadores sanguinários continuam a enveredar pelo massacre como forma de limpar e excluir o que diferente lhes parece porque diferenças não admitem, sejam diferenças étnicas, religiosas, políticas, culturais e até sexuais.
Estamos no século XXI, perigosamente iludidos com o brilho efémero de uma civilização tecnológica que no essencial não tem unido, pelo contrário, mas marcado as grandes diferenças que têm tornado o nosso mundo num mundo cada vez mais desigual e desumano.
Coexiste a solidariedade e o sentido humanitário de tanta gente e de tantos países, sim, mas também a crueldade, a perversão e os crimes inimagináveis de gente dita normal que mata inocentes por puro prazer ou diversão.
Estamos muito longe de atingir um estádio civilizacional e um diálogo multicultural do qual nos orgulhemos, estádio esse que marcaria, sem dúvida, a diferença, quando ao olharmos à nossa volta e, em matéria de relações internacionais, não víssemos a desconfiança apoderar-se dos acordos efetuados ou até mesmo das negociações que se fazem, fracassadas quase de imediato num claro desrespeito por palavras e atos, assinaturas e apertos de mão sorridentes.
Cada vez é mais notória a falta de uma cultura humanista, que olhe o outro de igual para igual e o respeite até na diferença, vendo nessa diferença um meio de enriquecimento cívico e cultural, único, forte e duradouro, e o fortalecimento de verdadeiros acordos diplomáticos firmados com seriedade, inteligência e respeito mútuo.
Continuamos a assistir a ameaças constantes à Paz e aos Direitos Humanos. Aos jogos de guerra, à Diplomacia de ocasião, aos acordos de interesses no papel que fugazmente desaparecem no campo de operações e às mentiras que se forjam no mundo paralelo da corrupção, tráfico de armas e dos nacionalismos que à destruição tem levado gentes e terras por esse mundo fora.
Veja-se a realidade dos campos de refugiados, o horror das mulheres e meninas violadas e perseguidas nesses cenários de medo e terror, o horror da infância roubada às crianças-soldado e os assassinatos impiedosos de velhos para quem a vida mais morte lhes foi.
Pela primeira vez, desde o fim do conflito étnico de 1992-95, o aniversário do genocídio acontece com os principais responsáveis pelo massacre, Ratko Mladic e Radovan Karadzic atrás das grades e que, depois de vários anos foragidos, enfrentam agora a justiça internacional.
Srebrenica é considerada a pior atrocidade cometida na Europa desde a segunda guerra mundial, onde, aproximadamente 8.000 homens e adolescentes foram assassinados em poucos dias. Segundo o jornal ÚltimoSegundo (br), milhares de homens e meninos com idades de 10 a 77 anos foram cercados e assassinados. Aqueles que tentaram esconder-se nas suas casas foram, de acordo com as evidências apresentadas no julgamento do general sérvio Radislav Krstic, em Haia, em 2000, "caçados como cães e massacrados".
"Presenteamos a Srebrenica sérvia ao povo sérvio. Chegou o momento de vingar os 'turcos' (nome depreciativo para os muçulmanos bósnios)", disse Mladic em Srebrenica, aos repórteres de rádio e televisão.
Mais de 60 camiões com os refugiados saíram de Srebrenica para locais de execução onde foram vendados, tiveram as mãos atadas e foram mortos a tiro. Algumas das execuções foram feitas à noite sob a luz de refletores. Posteriormente, escavadoras industriais empurraram os corpos para valas comuns. Alguns foram enterrados vivos, disse em 1996 ao tribunal de Haia o polícia francês. Segundo ele, há provas de que as forças sérvias mataram e torturaram os refugiados à vontade. Muitos cometeram suicídio para evitar que seus narizes, lábios e orelhas fossem cortados e também há relatos de adultos que foram forçados a matar os seus filhos ou a assistir ao assassinato dos mesmos pelos soldados.
Há tantas Srebrenicas pelo mundo fora! Tantas Srebrenicas para combater!
Nazaré Oliveira
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