sexta-feira, 20 de julho de 2012

Eles não sabem, nem pensam, nem sentem

Hoje, nas minhas leituras pela imprensa e blogues que sigo, com a devida vénia, aqui publico o excecional texto do Mainstreet, sobre “o caso D. Januário Torgal Ferreira” e que, curiosamente, converge para a mesma linha de pensamento do meu artigo que publiquei dia 17 deste mês:



As reações de ministros, de homens do aparelho partidário do PSD e do CDS e, em particular, do ministro da defesa, Aguiar Branco, denotam um mal-estar impressionante.
Hoje, em declarações ao jornal i, D. Januário Torgal Ferreira, Major General da FFAA'S, responde de modo arrasador ao ministro, afirmações que pode confirmar aqui.

D. Januário é um homem da igreja católica, é um homem da filosofia, conhece os clássicos e sabe bem o que significa a ética, aparentemente dicotómica de Max Weber, da responsabilidade e da convicção.
No caso vertente, o Bispo das FFAA's arrima-se à da responsabilidade para afirmar isto:

“Não estou preocupado. Ele não é meu superior, não é meu ministro.” É a resposta de D. Januário Torgal ao ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, que ontem o desafiou a escolher entre “ser bispo das Forças Armadas e ser comentador político”.
Ao i, D. Januário contrapõe: “Um bispo não tem que escolher entre a sua função de membro da Igreja ou de comentador político. Um bispo tem de falar de tudo, é sua obrigação interceder pelos mais frágeis. Se isso é ser comentador político, que seja”.

Já o meu amigo e apreciado comentador JAM escreve texto seminal sobre a postura de D. Januário:
"D. Januário, visto por Aristóteles: a voz do homem não se reduz a um conjunto de sons. Não é apenas simples voz (phone), não lhe serve apenas para indicar a alegria e a dor, como acontece, aliás, nos outros animais, dado que é também uma forma de poder comunicar um discurso (logos). Graças a ela o homem exprime não só o útil e o prejudicial, como também o justo e o injusto. Como dizia Fénelon, "em Atenas tudo dependia do povo e o povo dependia da palavra". Nesta democracia também. Obrigado D. Januário, pela palavra, a que apenas se pode responder com outra palavra. Para podermos continuar a ser animais políticos, isto é, animais de discurso, que, muito simplesmente, significa razão."

Sobre a postura de D. Januário Torgal Ferreira, a propósito do que este disse sobre o estado a que o governo se deixou levar e o seu modus operandi, vale a pena ler as declarações do Professor (e Politólogo) José Adelino Maltez:

"D. Januário, de Janus (o deus bifronte, que olha para o passado e para o futuro, na imagem), o que abre portas, tem de optar entre ser bispo das forças armadas e comentador político, acabou de dizer o Ministro da Defesa, em comentário político. O porta-voz do CDS para a área acaba também de dizer que o ministro tutela e é superior hierárquico do senhor bispo. Vale-nos que o comandante chefe das forças armadas é professor da Universidade Católica e ainda não disse nada."
Quase como nota de rodapé, uma pequena súmula biográfica do homem que foi escolhido pelo Bispo do Porto (que esteve "exilado" em Roma por vontade de Salazar), para seu Chefe de Gabinete:

"(...) Alguns anos mais tarde, regressou a França para frequentar um curso de Pós-graduação em Paris-Nanterre (1977-1979), sob a direcção de Paul Ricoeur. De seguida, deu início à elaboração da sua dissertação de doutoramento em Filosofia, a qual veio a abandonar após a morte dos pais (a mãe faleceu em 1980 e o pai em 1983). Foi Reitor da Igreja de S. José das Taipas, no Porto, participou no Centro Diocesano de Preparação para o Matrimónio, foi Director do Secretariado para a Pastoral Familiar e da Pastoral Universitária e foi membro, a pedido do Prof. Daniel Serrão, da Comissão de Ética do Hospital de S. João. No decurso da sua carreira de docente universitário, entre 1970 e 1989, trabalhou como Professor Assistente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde ministrou as disciplinas de Introdução à Filosofia, Axiologia e Ética, História da Cultura Clássica, História da Filosofia Antiga, Introdução às Ciências do Homem, Introdução à Psicologia (no Curso de Pós-graduação em Ciências Pedagógicas), Técnicas e Métodos de Investigação em Filosofia, Temas da Filosofia Contemporânea e Medieval e Hermenêutica do Texto Filosófico. Paralelamente, leccionou as disciplinas de Introdução à Psicologia e de História da Cultura na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti (1970), também no Porto; regeu o seminário "Introdução às Ciências do Homem", na Universidade de Aveiro (1977) e leccionou no Instituto de Estudos Teológicos (1980), mais tarde transitando para o Curso de Teologia da Universidade Católica, no pólo do Porto. Em Abril de 1989, ao ingressar no Ordinariato Castrense como Bispo Auxiliar das Forças Armadas e de Segurança, abandonou a docência e a investigação científica. Nesse ano tornou-se Vigário-geral Castrense e Capelão-Mor das Forças Armadas, recebendo a patente de Brigadeiro e, mais tarde, de Major-General. De 1993 a 1999 foi porta-voz e secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, tendo estado em Oslo, em 1996, nessa qualidade, aquando da atribuição do Prémio Nobel da Paz a D. Ximenes Belo e a Ramos Horta. Em 2001 foi nomeado Ordinário Castrense, ou seja, Bispo das Forças Armadas e de Segurança, e, simultaneamente, Presidente da Comissão Episcopal das Migrações e Turismo e da Pax Christi, movimento católico internacional. A 24 de Junho de 2008 foi distinguido pelo Chefe de Estado-Maior do Exército, General José Luís Pinto Ramalho, com a Medalha D. Afonso Henriques, Mérito do Exército, 1ª classe. Januário Torgal Ferreira editou trabalhos de investigação em publicações periódicas, colabora nas enciclopédias Luso-brasileira e Logos e é comentador da rádio TSF."



Uma nota pessoal:

Num governo, em governos, em secretarias de estado, em empresas públicas, em gestores públicos, ministros, secretários de estado, assessores, secretárias... com "tantos e tão bons curriculum vitae e tantas e boas formações académicas", muitos deles sem nunca terem trabalhado em lado nenhum, a não ser lá, "nos gabinetes", realmente, é mais um caso para pensar nesta arrogância não só política como, também, intelectual, que tem governado a plebe!