Em "Vozes no Centro do Mundo", o correspondente Henrique Cymerman relata o conflito árabe-israelense por meio de entrevistas com os principais líderes de ambos os lados.
"Vozes no Centro do Mundo" visa proporcionar ao leitor ferramentas para que aprofunde a sua compreensão e conhecimento deste conflito e das suas origens, como também, para familiarizá-lo com os processos que se desenrolam à medida que se busca uma solução articulada pelos seus heróis conhecidos e desconhecidos.
"Reuni aqui entrevistas que conduzi ao longo da última década com as figuras mais proeminentes deste drama, tanto do lado israelita quanto do palestino”. Acrescentei declarações de líderes fundamentalistas islâmicos e comentários de especialistas internacionais sobre um dos fenómenos mais apavorantes da nossa época, a ameaça terrorista" - conta o autor.
A obra apresenta a última entrevista de Yitzhak Rabin (ex-primeiro-ministro de Israel), concedida algumas horas antes dele ser assassinado por um ultradireitista israelense; uma noite na companhia de Yasser Arafat, em seu quartel-general parcialmente destruído na Mukata, em Ramallah; o ponto de vista fundamentalista de dois líderes do Hamas, Ahmad Yassin e Abd Al-Aziz Al-Rantisi, mortos durante ataque israelense; as entrevistas entrecruzadas com Avi Ohayon, que ouviu pelo celular sua ex-esposa e dois filhos serem executados no Kibutz Metzer e, por outro lado, com o líder da Brigada dos Mártires de Al-Aqsa que planejou a infiltração. Na entrevista com este último, Cymerman relata que a esposa dele chorou quando ficou sabendo da morte das crianças israelenses, entre quatro e cinco anos, a mesma idade que os filhos deles. A vida da mãe e da cunhada de Wafa Idris, a primeira mulher-bomba da palestina; os relatos do psiquiatra palestino Eyad El-Sarraj, diretor dos serviços de saúde mental em Gaza que revela os traumas das crianças e jovens palestinos que ambicionam a honra de se tornarem homens-bomba; Omar Osama Bin Laden, que revela que recebeu proposta de proteção por parte do ex-presidente norte-americano George W. Bush, em troca do paradeiro do líder terrorista. O livro ainda apresenta entrevistas com Shimon Peres (presidente do Estado de Israel), Abu Mazen (presidente da autoridade Palestina), Ariel Sharon (ex-primeiro-ministro de Israel), Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro de Israel), entre outros.
Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que prefacia a obra, o lançamento de Vozes no centro do mundo coincide com um novo despertar no mundo islâmico e árabe. "Ainda não estão claros os desdobramentos da sacudida político-tecnológica ocorrida na Tunísia, no Egito, no Iêmen, no Bahrein e até na Líbia, e quem sabe na Arábia Saudita.
Mas um sopro de algo mais do que ditadura e fundamentalismo, um quê de democracia, ou pelo menos de participação popular e de liberdade, parece que se está esboçando".
Segundo Cymerman, os jovens do Facebook acenderam a chama dos protestos contra a ditadura, a corrupção e a falta de horizonte econômico. "Há quem fale da primavera árabe, mas no fundo seria mais adequado falar das Quatro Estações de Vivaldi para classificar a situação de cada Estado. O que está claro é que a dimensão do tsunami político é tal, que um país pode mudar de estação num abrir e fechar de olhos (...) As pessoas no centro do mundo foram agraciadas com coragem, uma criatividade impressionante, um senso de justiça bem-desenvolvido e um grande desejo de paz. Dessa forma, o mais importante é encontrar uma saída dessa situação impossível, a qual fez com que tantos pais chorassem pelos filhos" - finaliza o autor.
Henrique Cymerman nasceu em 1959, no Porto, Portugal. O pai é de origem polaca e a mãe nasceu em Málaga.
Henrique é o mais novo de três irmãos. O irmão é jornalista e a irmã, tradutora. Fez licenciatura e mestrado na Universidadede Tel Aviv em Ciências Sociais, especializando-se em Sociologia e Ciências Políticas, tendo lecionado essas matérias por dois anos. Em 1982 começou a trabalhar como jornalista para o diário Maariv, de Tel Aviv, e para o semanário londrino The Jewish Chronicle. Posteriormente, tornou-se correspondente do jornal de Barcelona, El Periódico de Catalunya, da emissora de televisão madrilenha Antena 3 e da SIC, desde a fundação da empresa, em 1992.
Além de fazer comentários regulares para a BBC e diversos canais de televisão de Israel, Henrique Cymerman é correspondente do diário La Vanguardia, de Barcelona. Entre vários prêmios recebidos ao longo da carreira, em 1998 foi premiado jornalista do ano pela Associação de Jornalistas da Espanha; em 2003, pelo Festival de Cinema de Nova Iorque, na categoria de melhor documentário de notícias com a reportagem "Um suicida no quarto das crianças", e em 2010 recebeu o prêmio da Unesco "Repórteres sem fronteiras". Henrique Cymerman e Esther, especializada em terapia pela arte e escritora de histórias infantis, são casados há 24 anos e têm duas filhas e um filho. Residem em Herzliya, a norte de Tel Aviv.
Recém-lançado pela editora Almedina, o volume traz, entre outros entrevistados:
Shimon Peres, Mahmoud Abbas, Yitzhak Rabin, Ariel Sharon e Omar Osama Bin Laden, filho de Bin Laden, além de conversas com líderes islâmicos fundamentalistas, especialistas em terrorismo e colaboradores (considerados traidores pela população).
"O título do livro corresponde ao que ele é: uma história do conflito e das suas consequências na vida das pessoas contada pelos seus protagonistas. E o que distingue este livro - na verdade, uma série de entrevistas feitas por um repórter íntegro, conhecedor da matéria e capaz de redigir de forma a prender o leitor - é o que ele mostra, para além das posições políticas já conhecidas dos homens de governo e de partido, como pensam e agem os líderes religiosos (que muitos qualificam de fundamentalistas) e, sobretudo, as pessoas simples, vítimas ou menos autoras das violências praticadas pelos contendores", escreve o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no prefácio do exemplar.
Trecho da entrevista com o filho de Bin Laden:
O que pensa da violência e do terrorismo?
Como qualquer ser humano e, especificamente um ser humano na minha posição, não apoio a violência, os combates, os ataques e esse tipo de coisas. Apenas se ocorrerem por uma boa razão e com o consentimento dos grandes governos, e se estes estiverem buscando justiça, como ocorre na Líbia. Por exemplo, a ONU possui tropas e as usa em situações específicas para alcançar a paz. Em casos como esse, nesse tipo de circunstância, estou disposto a envolver-me.
Como se sentiu depois do 11 de setembro, depois do atentado aos Estados Unidos, onde você estava e como você se sentiu nesse dia?
Não quero falar muito sobre esse dia. Mas faz 10 anos e eu já disse que ninguém pode estar de acordo com isso. Eu não sei quem está por trás desses ataques e pronto. Isso é tudo o que eu posso dizer sobre o assunto. É um assunto doloroso e não gosto de falar muito sobre ele.
Você disse que não sabe quem levou a cabo o ataque de 11 de setembro; você realmente não sabe?
O importante não é se eu sei ou não. Não quero me pronunciar sobre isso pois é um assunto antigo e não irá beneficiar falar dele. O relevante é que não estou de acordo com o que foi feito.
Você disse que quer bem a seu pai, embora não esteja de acordo com ele. Pode explicar melhor?
Sim, as pessoas de cultura oriental têm, de vez em quando, opiniões divergentes. Eu deixei o esconderijo de meu pai quando tinha 20 ou 21 anos. Decidi ir em busca da minha vida independente. Não tem nada a ver com eles, eu queria voltar para casa, viver em paz, não me meter na vida de outros povos.
Quando há ataques terroristas em diferentes lugares do planeta, atentados onde morrem cidadãos inocentes, o que você sente?
Morrem inocentes em todos os lugares do mundo, é um facto. Sinto o mesmo por todos os inocentes que morrem pelo mundo: judeus, palestinianos, americanos, afegãos, iraquianos... são seres humanos e não importa qual a cidadania nem a que se dedica o governo de seu país; eu importo-me com as pessoas, são civis.
http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/972377-leia-trecho-de-entrevista-com-filho-de-bin-laden.shtml
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