domingo, 11 de setembro de 2011

Pobres, Políticos, Seriedade

Mendigos à beira-mar, de P. PICASSO
O livro de Paul Collier - Os Milhões da Pobreza: Por Que Motivo os Países mais Carenciados do Mundo Estão a Ficar cada vez mais Pobres? – é interessantíssimo, com uma abordagem muito clara de um problema complexo e doloroso que persiste, que nos envergonha, precisamente porque ainda não houve da parte de quem verdadeiramente pode (e deve) aquela vontade enorme de acabar com este flagelo e este horror.
A sua leitura, como tantas outras leituras e pensamentos, levou-ma a escrever estas linhas pensando justamente que a pobreza não é inevitável e a ajuda e formas para a combater existem, do mesmo modo que o esbanjamento de uns é e será sempre desgraça de outros.

A indiferença dos grandes centros de decisão política e económica mundial perante as desigualdades cada vez mais contrastantes do mundo actual, o individualismo e arrogância dos países mais ricos, a sedução por carreiras na política e na banca rápidas, com ganhos escandalosamente fáceis, o fascínio pela mediatização meteórica de quem sempre à sombra esteve, a falta de formação política e cultural, a falta de seriedade, de humanidade, a indiferença dos governantes perante a adversidade do seu povo, o autoritarismo da sua acção e a forma como se continuam a apropriar do Poder, continuarão a demolir a democracia, alheios que estão ao clamor do povo a que pertencem, até ao dia em que esse mesmo povo os confronte, olhos nos olhos, com a real dimensão da sua perversidade e mesquinhez.

Este livro de Paul Collier levou-me, mais uma vez, a esta constatação e a esta angústia. Faz uma abordagem extraordinariamente inteligente e muito acessível da pobreza, um dos factores que mais conflitualidade gera no mundo actual e que mais se tem imposto para esta terrível diferenciação entre ricos e pobres (países e pessoas), trazendo para a reflexão a corrupção e aquela gente que continua a fazer da mesma o seu modus vivendi e modus operandi graças, claro, ao avolumar da miséria humana que vai provocando, à diferenciação social consequente e à conflitualidade interna e externa que naturalmente ocasionará, tornando cada vez mais instável as relações de vizinhança entre países e a concretização dos tratados de paz e de ajuda alimentar, entre outros, que garantam estabilidade e justiça para todos.

Mas muitos governantes continuam a servir-se das Política, melhor dizendo, acham-se políticos mas não são governantes e, nesse sentido, afastam-se premeditadamente e de forma vil de tomadas de posição que verdadeiramente visem o bem comum, o bem-estar do seu povo. E até falseiam, na prática, os acordos bilaterais efectuados, ferindo de morte e de cinismo a harmonia tão desejada, incentivando, com uma parcialidade política repugnante, as decisões acordadas quer se trate de situações de cessar-fogo, de acudir humanitariamente às populações, de as proteger e defender.

As relações internacionais não se compadecem da falta de integridade moral dos seus elementos, caso contrário, nada passará, como tem passado, de meros encontros ocasionais e promocionais.

Também considero que dentro das nações, sobretudo as que vivem mais profundamente esta tragédia e este drama da pobreza, o confronto entre reformadores e líderes corruptos está a ser ganho por estes últimos. E não estou a pensar só na África Subsaariana!

Embora compreenda que os conflitos armados actuais têm na sua base, quase todos, o problema da dependência do petróleo e a exploração de outros recursos naturais, continuo a considerar fulcral a má governação que deriva, naturalmente, da inexistência de bons políticos, leia-se, políticos sérios, seriamente envolvidos com o seu povo e não com a sua carreira e projecção política.

Políticos sérios que levem a sério ACÇÕES SÉRIAS, planeadas quer economicamente quer comercialmente e militarmente, no sentido de ajudarem, realmente, a combater os verdadeiros factores que tanta dor têm trazido a tanta gente por esse mundo fora, aos mais pobres, aos desfavorecidos de sempre da sorte e da vida.

De nada valerão os tratados de paz, ajudas humanitárias, sorrisos diplomáticos e fotos de conjunto se não houver seriedade na Política.

Jamais se resolverá a pobreza no Mundo e a injustiça no Mundo enquanto se continuar a fazer de conta que se faz aquilo que de facto, pouco ou nada se faz:

olhar para o outro e ajudá-lo, porque devo e posso, e não por mera atitude de caridadezinha política, como quem uma esmola dá porque da bajulação necessita e dela espera tirar proveito.

Nazaré Oliveira



Mais leituras:
http://www.whiteband.org/
http://www.worldmapper.org/textindex/text_poverty.html
http://www.madrimasd.org/blogs/universo/2008/10/16/103747
http://www.schwartzman.org.br/simon/causasp.html
http://www.monografias.com/trabajos12/podes/podes.shtml
http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1309943272N1oFR1kd5Wr48SW2.pdf
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/edicion_impresa/economia/pt/desarrollo/1046490.html