quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Sadismo, crueldade, morte... Nada os faz parar


  
 
 




Ovacionam golpes mortais desferidos sem piedade no corpo de quem mal nunca lhes fez e que, ainda que lhes fizesse, em sua defesa seria, certamente.

Ao que leva a fome de sadismo e a crueldade!

Num cenário de dor e martírio ninguém tem compaixão.

Ninguém vê no outro um ser que também sente o medo e o pressentimento de um fim que se aproxima e que traiçoeiramente lhe tinham reservado.

Ninguém ousa ser alguém. Alguém com dignidade.

Embriagados com o sangue quente que borbulha e escorre pelo lombo do animal, a histeria da multidão não deixa que se ouçam os seus urros de dor a cada ferro espetado, fundo, bem fundo, rasgando a carne lentamente, muito lentamente, no seu corpo violentado e cada vez mais enfraquecido por uma luta desigual que lhe rompe as entranhas.

“Touro! Oh touro”, gritam-lhe ao longe.

Fintam-no. Gozam-no. Desesperadamente, investe como quem descobre o quanto enganado e usado foi. Mas é tarde!

O sangue inunda-lhe já os pulmões, a garganta, o peito, as narinas. Fraquejam-lhe as patas. Ajoelha. Mas nada pára os seus carrascos. Nada os faz parar.

Nem os que estão na arena nem os que estão nas bancadas.

O corpo magnífico do animal estremece cada vez mais e enfraquece em cada investida que faz.

Agonizante, olha o carrasco como quem pede clemência.

Busca, aterrorizado, um canto, uma pausa, um momento de paz que não achará.

Parado na imensidão cruel daquele círculo infernal que o aprisiona, cai pesadamente sobre a terra marcada pela dor e pela crueldade.

Ninguém lhe vale.

À sua volta, gente enlouquecida e excitada com a visão de uma tortura que à morte levará.

Resiste, corajosamente resiste, uma e outra vez, enquanto a música estridente acompanha o princípio do seu fim e galvaniza a multidão.

Fraquejam-lhe as patas dianteiras. O seu olhar é já escuridão e do seu peito, ainda, um sopro de vida que a custo sustém.

Contorce-se com dor, prende-se-lhe a saliva, o sangue sufoca-o cada vez mais e tenta desesperadamente soltar “os ferros” que o rasgam por fora e por dentro.

O seu corpo tomba devagar, penosamente devagar, sobre a terra manchada de sangue vivo, vermelho, mas que revoltada negro o tornou. 

Completamente agonizante, perdido no meio da multidão sádica que de pé lhe sorri e lhe acena, já não ouve, não pede, não sente.

O seu olhar já tem o brilho da morte.



Nazaré oliveira