A luta pela liberdade no continente europeu parece, pouco a pouco, destinada a fazer parte das estantes da história europeia. 13de Agosto de 1961 constitui uma data sombria da Europa no período da Guerra Fria.
A então República Democrática Alemã (RDA) ou Alemanha Oriental (como também era conhecida) iniciava a construção do tristemente célebre muro de Berlim.
Durante quase três décadas, as largas dezenas de quilómetros de barreiras físicas, arame farpado, torres de controlo, minas e guardas fronteiriços da RDA que circundavam Berlim ocidental tornaram-se um símbolo vivo e sangrento da divisão europeia e do elevado preço da liberdade por que almejavam muitos cidadãos da ex-RDA. Muitos deles pagaram com a própria vida a tentativa de escapar de Berlim oriental para alcançar a liberdade no lado ocidental. Para eles, a liberdade tornou-se um preço demasiado elevado. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1945) que a Europa se encontrava dividida, estando parte dela por detrás de uma cortina de ferro, expressão apropriadamente utilizada por Winston Churchill. Neste contexto, a cidade de Berlim já se tinha tornado o epicentro de enormes tensões entre o bloco ocidental (liderado pelos Estados Unidos) e o oriental (liderado pela então União Soviética). Basta relembrar o bloqueio de Berlim (1948-1949) em que os países ocidentais tiveram de lançar mão de uma gigantesca e arrojada ponte aérea para fornecer bens alimentares e de primeira necessidade à população berlinense sitiada. Mas o muro de Berlim - cuja construção foi iniciada em Agosto de 1961 - passou a ser o símbolo por excelência da divisão europeia e da falta de liberdade dos alemães de Leste e dos restantes povos europeus por detrás da cortina de ferro.
A bandeira da liberdade iria servir de mote ao discurso do Presidente norte-americano, John F. Kennedy, quando, em 1963, visitou a cidade sitiada e para gáudio da multidão que o ouvia, declarou: Ich bin ein Berliner (eu sou um cidadão de Berlim), enfatizando deste modo o apego aos valores da liberdade e dando nota do empenho dos Estados Unidos em apoiar a cidade de Berlim contra a adversidade totalitária. Nessa altura, a democracia e a liberdade ainda eram bens raros para muitos europeus.
A queda do muro de Berlim, a 9 de Novembro de 1989, desencadeou uma reconfiguração do velho continente.
A 3 de Outubro de 1990, oficializa-se a reunificação alemã. Helmut Kohl tornou-se no líder da Alemanha reunificada. Sucedeu-lhe mais tarde Gerhard Schroder, de 1998 a 2005. Depois, Angela Merkel, cuja carreira política muito deve a Helmut Kohl, que a integrou nos seus governos logo após a reunificação. A Alemanha ganhou um protagonismo acrescido na cena internacional e no processo de construção europeia em particular.
Após a queda do muro de Berlim, foi-se assistindo ao desabamento do bloco soviético e à rápida democratização e liberalização de países europeus que, durante cerca de meio século, tinham estado debaixo da cortina de ferro. Porém, mais de vinte anos após a queda do muro, Berlim não é tanto o símbolo da liberdade evocada nos anos sessenta, mas antes o de uma capital cosmopolita símbolo do poder económico e financeiro que dita as grandes linhas da política europeia e até mundial.
A luta pela liberdade no continente europeu parece, pouco a pouco, destinada a fazer parte das estantes da história europeia. Simplesmente é a própria história quem ensina que a liberdade e a democracia não estão imunes a ameaças, podendo sucumbir perante forças adversas. Por vezes, a liberdade tem um preço bastante elevado, preço esse que muitos se dispuseram a pagar ao procurar atravessar o fortificado muro de Berlim. Talvez, por isso, valha a pena evocar o dia 13 de Agosto de 1961 como (mais) uma data funesta da divisão do continente europeu e da construção de um muro opressor dos povos livres.
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A então República Democrática Alemã (RDA) ou Alemanha Oriental (como também era conhecida) iniciava a construção do tristemente célebre muro de Berlim.
Durante quase três décadas, as largas dezenas de quilómetros de barreiras físicas, arame farpado, torres de controlo, minas e guardas fronteiriços da RDA que circundavam Berlim ocidental tornaram-se um símbolo vivo e sangrento da divisão europeia e do elevado preço da liberdade por que almejavam muitos cidadãos da ex-RDA. Muitos deles pagaram com a própria vida a tentativa de escapar de Berlim oriental para alcançar a liberdade no lado ocidental. Para eles, a liberdade tornou-se um preço demasiado elevado. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1945) que a Europa se encontrava dividida, estando parte dela por detrás de uma cortina de ferro, expressão apropriadamente utilizada por Winston Churchill. Neste contexto, a cidade de Berlim já se tinha tornado o epicentro de enormes tensões entre o bloco ocidental (liderado pelos Estados Unidos) e o oriental (liderado pela então União Soviética). Basta relembrar o bloqueio de Berlim (1948-1949) em que os países ocidentais tiveram de lançar mão de uma gigantesca e arrojada ponte aérea para fornecer bens alimentares e de primeira necessidade à população berlinense sitiada. Mas o muro de Berlim - cuja construção foi iniciada em Agosto de 1961 - passou a ser o símbolo por excelência da divisão europeia e da falta de liberdade dos alemães de Leste e dos restantes povos europeus por detrás da cortina de ferro.
A bandeira da liberdade iria servir de mote ao discurso do Presidente norte-americano, John F. Kennedy, quando, em 1963, visitou a cidade sitiada e para gáudio da multidão que o ouvia, declarou: Ich bin ein Berliner (eu sou um cidadão de Berlim), enfatizando deste modo o apego aos valores da liberdade e dando nota do empenho dos Estados Unidos em apoiar a cidade de Berlim contra a adversidade totalitária. Nessa altura, a democracia e a liberdade ainda eram bens raros para muitos europeus.
A queda do muro de Berlim, a 9 de Novembro de 1989, desencadeou uma reconfiguração do velho continente.
A 3 de Outubro de 1990, oficializa-se a reunificação alemã. Helmut Kohl tornou-se no líder da Alemanha reunificada. Sucedeu-lhe mais tarde Gerhard Schroder, de 1998 a 2005. Depois, Angela Merkel, cuja carreira política muito deve a Helmut Kohl, que a integrou nos seus governos logo após a reunificação. A Alemanha ganhou um protagonismo acrescido na cena internacional e no processo de construção europeia em particular.
Após a queda do muro de Berlim, foi-se assistindo ao desabamento do bloco soviético e à rápida democratização e liberalização de países europeus que, durante cerca de meio século, tinham estado debaixo da cortina de ferro. Porém, mais de vinte anos após a queda do muro, Berlim não é tanto o símbolo da liberdade evocada nos anos sessenta, mas antes o de uma capital cosmopolita símbolo do poder económico e financeiro que dita as grandes linhas da política europeia e até mundial.
A luta pela liberdade no continente europeu parece, pouco a pouco, destinada a fazer parte das estantes da história europeia. Simplesmente é a própria história quem ensina que a liberdade e a democracia não estão imunes a ameaças, podendo sucumbir perante forças adversas. Por vezes, a liberdade tem um preço bastante elevado, preço esse que muitos se dispuseram a pagar ao procurar atravessar o fortificado muro de Berlim. Talvez, por isso, valha a pena evocar o dia 13 de Agosto de 1961 como (mais) uma data funesta da divisão do continente europeu e da construção de um muro opressor dos povos livres.
Alves Pardal, PÚBLICO, 13.08.11
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