sexta-feira, 10 de março de 2017

Carta de um cão acorrentado




Nas aldeias e cidades.... Nos montes, isolados, nos campos agrícolas... sózinhos...nas quintas... sem verem ninguém, sem terem alguém que lhes fale ou sequer afague o pelo... nos quintais sombrios de sombria gente... nas varandas ... nas marquises... Cães que nunca são soltos desde que nasceram até à hora da morte... Desde que caíram em mãos e corações cruéis que os olham como se não existissem... Infelizmente, a muitos destes cães, sobretudo os que estão em terrenos/moradias das cidades, até coleiras que lhes desferem choques elétricos já têm, para que não possam ladrar! 
Meu Deus, quando é que o Homem deixa os animais em paz? 
Uma crueldade. Uma tortura para os animais. Uma dor e angústia horrível para quem os vê assim e não os consegue libertar desta morte lenta. 

Dê voz a quem não pode exprimir a dor de passar a vida acorrentado! 

Indigne-se.

Denuncie.

Obrigada.
Nazaré Oliveira

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CARTA DE UM CÃO ACORRENTADO*

Querido dono:
Consegui que escrevessem esta carta por mim! Nem sabes a alegria que sinto por poder comunicar contigo! Todos os dias, desde aquele longínquo dia em que me colocaste a corrente no pescoço e me prendeste neste espaço, eu sonho que me venhas visitar e fazer festinhas como me fazias quando eu era um bebé. Eu sonho que venhas conversar comigo, não entendo muito bem o que me dizes, mas nem imaginas como adoro ouvir o som da tua voz! Eu sei que fiz algo de errado, senão certamente não me terias colocado aqui. Desculpa! Não quero ser exigente mas começa a doer ter esta corrente atada ao meu pescoço... Às vezes tenho o pescoço dormente, e outras vezes tenho muita comichão e nem consigo coçar! Sinto o seu peso todos os dias... o peso da solidão que me prende. Tenho vontade de esticar as pernas e correr... e como eu gostava de poder fazer isso contigo! Adorava que me atirasses umas bolas, aí eu podia mostrar-te como sou rápido a correr e como as trazia rapidamente. Gostava de poder ver o que tu vês... o mundo lá fora é muito grande? E existem outros como eu? Às vezes tenho sede e alguma fome mas eu aguento porque sei que assim que puderes virás dar-me água e comida, sei que fazes o que podes, eu não quero incomodar, mas sabes, por vezes gostava de ter um pouco da tua companhia. Sei que talvez alguém te tenha dito que eu não tenho sentimentos, mas olha que é mentira! Nem imaginas quanta alegria sinto quando alguém me toca ou se dirige a mim. Nem sabes quanta tristeza e solidão sinto nas longas horas em que não vejo ninguém. Nem sabes o medo que por vezes sinto aqui sozinho no inverno, e tenho tanta vontade de estar perto de ti. Só queria um pouco mais da tua atenção e amor, uma cama quente no inverno e um local fresco no verão e uma festa tua no meu velho lombo. Eu sei que um dia tu irás chegar aqui, tirar-me a corrente e dar-me tudo isto, até lá eu fico quieto à espera. Só não demores muito meu dono, porque estou a ficar velho e começo a ver e ouvir mal. Faltam-me forças e não quero ir sem viver um pouco contigo!
 Do teu cão.


* in http://sic.sapo.pt/Programas/SOS_Animal/2014-02-10-carta-de-um-cao-acorrentado---uma-carta-emotiva