O programa de História A do secundário começa no século V a.C. e vai até ao período atual. Na imagem, a Batalha de Aljubarrota, em 1385 |
O exame de História A teve a média mais baixa em 2016. Aumento da matéria
testada será uma das causas.
Não foi no
exame de Matemática, nem de Biologia, nem de Física e Química, provas
tradicionalmente associadas a maiores dificuldades, que os alunos do secundário
tiveram mais problemas no ano passado. Olhando para os resultados nos 22 exames
finais de 2015/16, foi no de História A (realizado pelos estudantes de Línguas
e Humanidades) que se registou o pior desempenho, com a média a ficar nos 9,5
valores. Apenas num outro a classificação ficou na negativa. Aconteceu a
Francês — 9,8 valores —, mas que contou com um número muito reduzido de testes
realizados: menos de mil contra mais de 14 mil a História A.
A consequência
imediata foi que também mais alunos chumbaram à disciplina: 14%. Só a
Matemática A (curso de ciências) a taxa de reprovações foi superior, mas apenas
por um ponto percentual. E entre os alunos que já tinham chumbado antes ou que
anularam a matrícula ao longo do ano — os chamados “autopropostos” — os
desempenhos a História A estão também entre os piores, com uma média de 7,2
valores e 73% de negativas.
Apresentados os
números, vamos às causas sugeridas por professores. A primeira tem a ver com a
própria estrutura do exame nacional que, a partir de 2014, passou a incluir a
matéria do 11º e, no ano seguinte, também do 10º. Ou seja, a prova realizada no
12º passou a versar conteúdos de todo o secundário e ainda outro tipo de
exercícios. Para Miguel Monteiro e Mariana Lagarto, da direção da Associação de
Professores de História (APH), estas foram “alterações substanciais” que
levaram a que “professores e alunos tivessem de adaptar o seu trabalho de
preparação para o exame” e que provocaram “decerto algumas perturbações”. A
média em 2014 foi de 9,9; no ano seguinte subiu para 10,7; caindo 1,2 valores
em 2016. Nos anos anteriores oscilou entre 10 e 11,9.
É certo que nas
informações publicadas pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) em relação
às provas finais são indicados os “módulos” que vão ser objeto de avaliação. Em
2017 já se sabe que a História A será um do 10º, dois do 11º e três do 12º, o
que inclui desde as “raízes mediterrânicas da civilização europeia”, passando
pela “Europa nos séculos XVII e XVIII”, até “Portugal e o mundo, da II Guerra
Mundial ao início da década de 80”.
“O próprio
Ministério tem consciência da extensão e complexidade do programa de História
do secundário”, sublinha Ana Schefer, professora da disciplina há mais de 30
anos. E é esta a primeira dificuldade sentida pelos alunos: “São três livros
dados no 10º, três no 11º e três no 12º. Em cada um dos anos temos de dar um
livro por período”, reforça.
“É muito
difícil os alunos reterem tanta matéria. Ainda agora acabei de dar uma aula
suplementar de revisão da matéria do 10º a uma turma do 12º”, corrobora Helena
Veríssimo, ex-presidente da APH, professora e autora de manuais. E a tarefa
torna-se ainda mais complicada quando as turmas são “enormes”. “A História não
pode ser uma disciplina indicativa, em que os alunos decoram e despejam a
matéria. Tem a ver com a análise e interpretação de fontes, que permitem
construir o conhecimento. Os alunos têm ritmos diferentes, mas é muito difícil
fazer um trabalho individualizado em turmas com 28 e 30 estudantes. Ou não se
cumpre o programa, o que não é uma hipótese, sobretudo quando há exames no
final, ou, muitas vezes, não conseguimos fazer o trabalho que gostaríamos e
debitamos mais”, assume.
Outro dos
problemas referidos tem a ver com o domínio do Português. “Os alunos têm muitas
dificuldades em interpretar e em expressar-se corretamente”, diz a
ex-presidente da APH. “O domínio da língua portuguesa é fundamental num exame
como o de História, em que é preciso inferir mensagens mais ou menos implícitas
e expressar o pensamento com clareza e correção”, concorda Ana Schefer,
professora na Clara de Resende, no Porto, a escola secundária onde se registou
a média mais alta do país (contando apenas aquelas onde se realizaram 20 ou
mais provas). As instruções do IAVE são claras: “Nos itens de resposta restrita
e extensa, a classificação a atribuir traduz a avaliação do desempenho no
domínio da disciplina e no domínio da comunicação escrita em língua
portuguesa.”
Para Ana
Schefer, há uma condição prévia para se conseguirem bons resultados: “As minhas
primeiras aulas são sempre para explicar a importância da disciplina. Se há
alguma em que se abordam todas as vertentes do ser humano é a História, com uma
vertente demográfica, social, económica, cultural, política. E se conseguir
incentivar os alunos a gostar da matéria é meio caminho andado”, defende. “Quem
se preocupe só em memorizar chega ao exame e tem negativa. É preciso compreender
o porquê”, acrescenta, juntando a disciplina na sala de aula e o gosto pelo
conhecimento e pela investigação à fórmula do sucesso.
Num total de
518 secundárias onde se realizaram exames de História A, em duas em cada três
(327) a média dos alunos ficou abaixo dos 10 valores. A atual direção da APH
lembra, no entanto, que um desempenho mais baixo pode dever-se a alguma
“desorientação” numa ou duas perguntas, “muitas vezes provocada pelo stress do
momento”. Além disso, acrescenta, os exames não “conseguem abranger tudo o que
os alunos aprenderam em três anos letivos”, havendo até o risco de se estar a
dar “demasiada importância a classificações e rankings”, em detrimento do “mais
importante”, como todas as outras tarefas que ajudam ao “desenvolvimento do raciocínio”.
NEGATIVO
9,5 valores foi a média
registada no exame
de História A, na 1ª fase
do ano passado.
Foi a classificação
mais baixa entre
todas as provas realizadas
no ensino secundário
14% dos alunos de Línguas e Humanidades reprovaram na disciplina de História no passado ano letivo. Apenas a Matemática A (curso de Ciências) houve mais chumbos: 15%
14% dos alunos de Línguas e Humanidades reprovaram na disciplina de História no passado ano letivo. Apenas a Matemática A (curso de Ciências) houve mais chumbos: 15%
EXPRESSO
22.01.2017