sábado, 13 de junho de 2015

Quando um homem deseja uma mulher



 Fala-me de Amor

O sexo é a única matéria inteligente, palavras da minha escritora favorita de língua portuguesa, Agustina Bessa Luís. Não sei se tal frase poderia sair da cabeça de um homem, porque se há matéria em que mulheres e homens são bastante diferentes, é no sexo. Usei bastante, porque nuns caso são muito e noutros casos são pouco. E quando estão apaixonados ficam iguais a nós: o mundo transforma-se num lugar maravilhoso onde as cores são mais nítidas, cheira a pipocas e voam lindas a graciosas borboletas dentro e fora do estômago.
A  terapeuta belga Hellen Perrel também fala de inteligência erótica do sexo, considerando-o não uma acção, mas uma linguagem, que se desenvolve de formas diferentes. Matéria inteligente ou linguagem erótica, isto para as mulheres faz sentido, mas será que faz para os homens?
Quando um homem deseja uma mulher não quer dizer que a ame. Geralmente começa por deseja-la, e depois, encanta-se e apaixona-se. Mas o desejo físico, esse grande incendiário perturbador do nosso quotidiano, está lá para nos trocar as voltas e nos levar ao céu ou nos atirar para o inferno sem que sobre isso tenhamos algum controlo, pelo menos durante o chamado voo nupcial ou momento de acasalamento. Nessa fase é tudo muito fácil. O pior é o que vem a seguir. Há homens que não lidam bem com as suas emoções: ou se deixam dominar por elas e ficam uns chatos, ou as consideram perigosas e ficam frios. E há ainda outros tipos de homens: os que só se apaixonam por relações clandestinas ou extra-conjugais e os que têm o sexo dissociado dos afectos profundos, quando se apaixonam por uma mulher atiram-na para um pedestal e transformam-na numa estátua.
No entanto, a questão do erotismo é séria, porque se tornou um produto de consumo para grandes massas. E o povo português descobriu que afinal havia mais qualquer coisa para lá da penetração atabalhoada ao fim de noite, entre o sexto e o sétimo sono e uma bebedeira mal cozinhada, de luz apagada a disfarçar a vergonha, tudo misturado numa salada de confusão mental onde o prazer para as mulheres não era mais do que um luxo raro.
O sexo é para todos e nisso estamos todos de acordo. E já agora que seja bom. Mas será que com tanto sexo explícito e tanto erotismo barato, a vida sexual das pessoas melhorou mesmo?
A igualdade entre sexos ganhou contornos equívocos: agora são eles que gostam que elas lhes abram a porta, lhes comprem presentes caros e os convidem para jantar. As mulheres estranham, sentem-se apanhadas na sua própria armadilha. No sexo, as regras do jogo também não se alteraram. Os homens têm saudades de ir à caça, de prazer da perseguição, de fixar o alvo, de focar e disparar, de gozar intensamente o segundo imediatamente antes de agarrar a presa. Talvez a natureza humana tenha mudado menos do que aparenta desde o tempo das cavernas em que o macho arrastava pelos cabelos a sua fêmea e a cobria a um canto da gruta em solavancos descompassados.
 À custa da afirmação feminina, os homens confundem agora segurança com arrogância, independência com desprendimento, entrega com leviandade. E têm medo que as mulheres façam com eles o que sempre acharam natural fazer com elas: usar e deitar fora.
O sexo não pode por isso ser tratado como uma lata de tomate pelado, nem visto como um cartoon. Sem a sacralização do acto, este perde o seu lado mágico. E afinal, sem borboletas, quem não desiste à segunda volta? A alquimia da paixão é o que torna o sexo bom. Ou ótimo, já agora.


por Margarida Rebelo Pinto