Em pleno conflito entre a Alemanha e a Grécia o país é surpreendido com a
notícia de que a ministra das Finanças de Portugal vai a Berlim, onde
participará num seminário ao lado Wolfgang Schaeuble. A sala tem um ar
deprimente, a meia dúzia de presentes tem todo o ar de funcionários
arrebanhados para fazerem de figurantes, a mesa tem uma flor tem no
centro e ao lado da ministra e do ministro aparece uma terceira
personagem que ninguém se deu ao trabalho de apresentar. A ministra lá
foi apresentada como o bom exemplo, a prova de que o programa de
ajustamento, logo ela que chegou ao cargo depois do preferido de
Wolfgang Schaeuble ter escrito uma carta onde reconheceu o falhanço.
A dignidade de Portugal foi respeitada quando uma ministra do governo da
República de Portugal se presta a participar numa encenação montada por
um governo estrangeiro que apenas pretende exibir a Grécia como um país
falhado, ainda por cima quando se sabe que em Portugal grassa o
desemprego e a miséria, quando os melhores jovens foram convidados a
emigrar para zonas de conforto pelo próprio governo ou quando nenhuma
meta acordada foi cumprida?
Que se saiba a ministra não foi a Berlim, ainda por cima à custa do
erário público, por ordem da troika, foi porque o governo português se
sente orgulhoso neste papel. A afirmação de Junckers de que a dignidade
dos portugueses e da Grécia não foram respeitadas só faz sentido em
relação àquele país, no caso português foram portugueses a não
respeitarem os portugueses, ainda que um deles fosse presidente da
Comissão Europeia.
Não foi Passos Coelho que perante o sofrimento do seu povo pediu aos
portugueses para não serem piegas? Não foi ele que disse não dar prendas
de Natal aos filhos e fez disso propaganda? Não foi Passos Coelho que
num seminário com membros da Troika lhes disse que não era por eles que
fazia o que estava fazendo mas sim pelos portugueses, o mesmo seminário
onde foi tirada a fotografia onde aparece curvado perante meros
funcionários de organizações internacionais?
Quem se esqueceu das imagens humilhantes de três funcionários, que nem
directores-gerais eram nas respectivas organizações, a entrarem pelo
parlamento com ar de bois a olharem para um palácio, para serem
recebidos com subserviência pela segunda mais alta figura do Estado
português? Não foi o FMI, a Comissão ou o BCE que obrigou os governantes
portugueses a proporcionarem estas figuras tristes e indignas. Foi um
governo que querendo usar a Troika para encobrir o seu projecto
ideológico não hesitou em arrastar um país e todo um povo pela lama.
De certeza que foi o FMI a impor uma reforma do Estado depois
transformada em guião e agora já em fase de conversão em programa
eleitoral, ou foi o governo a pedir ao FMI para vender a sua chancela
para um projecto que era seu, um projecto com muitas das medidas que
gente como Passos Coelho sempre defendeu? Este governo não hesitou em
colocar a intelectualidade deste país ai nível do Burkina Faso para
pedir a técnicos do FMI de preparação duvidosa, muitos deles reformados
da América latina ou contratados a prazo algures no mundo, para lhe
dizer o que fazer do Estado de um país membro da EU e da OCDE.
A passagem da Troika por Portugal é um período negro na história de
Portugal, não por causa da crise, não por causa do empréstimo, não por
causa das organizações internacionais. Mas sim por causa de gente quase
iletrada, ambiciosa e com uma ideologia de discoteca que sujeitou o país
a uma experiência económica, com base num livro cheiro de erros
técnicos e com pressupostos como o do ideólogo agora arrependido Vítor
Bento, de que os portugueses eram culpados do pecado do consumo acima
das suas possibilidades.
Não foi a Troika que ofendeu a dignidade dos portugueses, foi a direita
mais idiota deste país, gente sem dimensão humana e sem grande
currículo, com ministros doutores de diplomas aldrabados que humilharam
Portugal e os Portugueses.
in http://jumento.blogspot.pt/