O que se
segue é a descrição nua e crua da selvajaria tauromáquica que o Estado
Português legitima numa lei desumana e inconstitucional.
OS TOUROS
O
que talvez os governantes e o público não saibam…
Vive
uns 4 anos na campina na boa companhia de outros da mesma espécie em espaço
largo e com razoáveis condições. Passará por momentos difíceis, Desenvolve-se.
Um
dia é escolhido para a lide numa tourada.
Apartam-no
violentamente, com ou sem medicação, com ou sem uso do bastão eléctrico, para
uma manga, e enfiam-no numa caixa apertada onde mal se pode mexer.
O
stress da claustrofobia é tremendo, ao passar da liberdade e
tranquilidade da campina para o caixote onde fica confinado, brutalmente
afastado da companhia importante dos outros bovinos a que o ligam laços
emotivos fortes.
A
seguir acresce a ansiedade/pânico provocados pelo transporte.
Depois
a espera, provavelmente, com pouco ou nenhum alimento e bebida.
Talvez
sendo injectado, a ponta dos cornos será cortada até ao extremo vivo e muito
enervado, ficando extrema e dolorosamente sensível ao contacto.
Para
não sangrar cauterizam a sangue frio.
Há
touros que não resistem a esta operação. Sofre outras acções destinadas a
fatigá-lo, debilitá-lo, retirar-lhe capacidade para a lide.
Mais
tarde, a condução ao curro da praça de touros.
Empurrado
depois para a arena, beco cruel sem saída, suportando logo o enorme alarido,
que ainda o assusta mais.
Depois
a provocação, o engano, o cravar dos ferros, que o ferem e magoam
terrivelmente, através da pele, de aponevroses, de mais ou menos músculos,
atingindo tendões e, por vezes até pleura e pulmão (meu testemunho) e o fazem
sangrar e sofrer.
Tudo
isto o enfurece, magoa, deprime e esgota. Depois é retirado com as
“chocas”.
Brutalmente,
tal como foram cravados, os ferros são agora retirados sem anestesia,
arrancados ou por corte do couro.
Depois
o sofrimento cresce pela dor provocadas pelos ferimentos, infectando e
provocando-lhe febre, ficando animicamente derrotado, até que o abate o liberte
de tamanho sofrer.
Desgraçada vítima dos chamados
humanos, “corrida” e torturada unicamente para diversão de aficionados,
alimentar de vaidades, de negócios de tauromáquicos e no prosseguimento de uma
cruel tradição.
É,
portanto, uma aberração, comprovativa da maior hipocrisia, quando tauromáquicos
e ganadeiros afirmam serem as pessoas que mais gostam dos touros.
Deixam-nos
viver eventualmente bem durante cerca de 4 anos, para que então sejam
torturados na tourada e abatidos em sofrimento uns dias a seguir, em vez de
viverem no seu meio natural os 20 anos em média da sua expectativa de
vida.
Revoltante
e vergonhoso é que tal crueldade seja permitida legalmente, feita espectáculo e
publicitada.
PERCURSO DO CAVALO USADO PARA TOUREIO
É
um animal de fuga, que procura a segurança e que a atinge pondo-se à distância
daquilo que desconfia ou que considera ser perigoso.
Defende-se
do agressor próximo com o coice e por vezes com a sapatada do membro anterior,
se for mais afoito ou considerar o perigo menor.
No
treino e na lide montada, ele é dominado pelo cavaleiro com os ferros na
boca, mais ou menos serrilhados, puxados pelas rédeas e actuando sobre as
gengivas (freio ou bridão – este, com acção de alavanca, ambos apertados contra
as gengivas e língua por uma corrente de metal à volta do maxilar inferior –
barbela), elementos castigadores.
Em
alternativa pode ser usado o “hackamore”/serrilha exterior à boca actuando
contra o chanfro e também submetido à acção de alavanca.
O
cavalo é incitado pela voz e por outras acções, chamadas de “ajudas”, como
sejam de esporas que são cravadas provocando muita dor e até feridas
sangrentas.
Calcule-se
o sofrimento físico e psicológico do cavalo que por vezes lhe provoca a morte
em plena tourada por síncope cardíaca.
Ele é impelindo para a frente para
fugir à acção das esporas, devido à dor que elas lhe provocam e a voltar-se ou
travar pela dor na boca e pelo inclinar do corpo do cavaleiro.
Resumindo:
o cavalo é obrigado a enfrentar o touro pelo respeito/receio que tem do
cavaleiro, que o domina e o castiga, até cravando-lhe esporas no ventre e
provocando-lhe dor e desequilíbrio na boca. Isso transtorna-o de tal
maneira, que o desconcentra do perigo que o touro para ele representa, de
ferimento e de morte, e quase o faz abstrair disso.
É,
portanto, uma aberração, comprovativa da maior hipocrisia, quando cavaleiros
tauromáquicos afirmam gostarem muito dos seus cavalos e lhes quererem
proporcionar o bem-estar.
Revoltante
e vergonhoso é que tal crueldade seja permitida legalmente, feita espectáculo e
publicitada.
Dr. Vasco Reis (Médico Veterinário)