Há cada vez mais "guetos" no nosso século.
Prisioneiros da dor e do desespero, marginalizados por uma
solidão e indiferença que também mata, já mal escondem a miséria que deles se
abeirou neste mundo cruel cada vez mais desigualitário e mais injusto.
Já não disfarçam a fome, a inquietação e o medo. Esperam sempre uma voz amiga, uma mão amiga, um canto em paz,
um país em paz.
Há gente, cada vez mais gente nestes "guetos" do século XXI, mas também gente, cada vez mais gente que
os conhece mas deles finge não saber.
Desempregados, emigrantes, refugiados, vivem as terríveis consequências
de um capitalismo selvagem cada vez mais avassalador por esse mundo fora e de políticas nacionalistas, ditatoriais, alicerçadas interna e externamente num jogo de interesses diplomáticos do qual saem sempre a perder os que não se deixam corromper, os pobres, os mais vulneráveis e os valores democráticos.
Que mundo este!
Que mundo este!
Dói tanto não poder ajudar e saber
que quem pode não o quer fazer!
Cada vez é mais notória a falta de uma cultura humanista que,
na prática, olhe o outro de igual para igual e se consolide pela força de um diálogo
civilizacional, multicultural, cada vez mais urgente, sério e politicamente responsável.
Os guetos do século XXI são as pessoas que sofrem os horrores de uma dignidade sistematicamente roubada e sacrificada em nome da ganância, da ambição desmedida e da fome de Poder.
Os guetos do século XXI são as pessoas atormentadas por uma vida sem Esperança.
Os guetos do século XXI são o Presente sem saída.
Nazaré Oliveira