quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Um bom político



 
Sempre defendi e defendo que o exemplo, os bons exemplos, devem vir de cima!

Num país onde a Política e a Governação têm sido tudo menos isso, é bom lembrar que a Política é fundamental mas com bons políticos que mereçam a confiança do povo e inequivocamente se coloquem ao seu lado.

Mas, "ó glória de mandar, ó vã cobiça", têm sido um horror estes últimos governos e os deputados e partidos que os apoiam! Tem sido um horror esta Política!

Pretensamente preocupados com a gestão do bem-estar social do qual teoricamente se apropriam para o marketing político-partidário, tudo tem servido para os servir ou dele se servirem, seja o défice orçamental que em espiral se agigantou sejam os interesses de uma União Europeia que mais desunião tem sido ou parecido ser.

Tudo tem sido feito em nome do povo mas quase nada pelo povo.

Num estado de Direito nunca tal deveria acontecer ou, a acontecer, imediatamente acionados deveriam ser mecanismos que punissem exemplarmente quem criminosamente do voto popular se apropriou para desvirtuar promessas que afinal por promessas se ficaram.

Nunca na Política os interesses corporativos deveriam vingar, muito menos os interesses de quem na Política busca carreira ou enriquecimento rápido, tal como vem acontecendo pós-25 de abril.

Nunca o coletivo deveria sujeitar-se, como está a ser sujeitado, a meia dúzia de maus tecnocratas ou péssimos estrategas que, habilidosamente, da vida têm tirado proveito pessoal em prejuízo do bem público que cinicamente julgam servir, sejam eles oriundos das “Jotas”, clubes desportivos, comunicação social ou outras formas subtis de parecer o que nunca foram ou serão: trabalhadores e conhecedores do terreno que pisam, com diplomacia, é certo, mas sem sentirem verdadeiramente o pulsar do país e o sofrimento do seu povo pelas privações que passa.

Num país onde todos se sentem especialistas ou opinion makers, promove-se a oratória fácil e a contra-argumentação à medida da encomenda ou de quem os encomenda. Mas nada se aprende com isso e nem por isso o país tem progredido, pelo contrário, atendendo ao estado de letargia e de inação a que chegámos, de um estranho aceitacionismo que cada vez mais vai minando a capacidade de indignação de um povo – do nosso povo -, indignação indispensável à mudança e à Revolução que tarda.

Conquistas democráticas são selvaticamente derrubadas ao arrepio dos mais elementares direitos constitucionalmente garantidos, em nome dessa gente que se governa não nos governando.

Fingem esquecer que a justiça social e um Estado de Direito passam, acima de tudo, pela adoção de medidas justas e adequadas aos diferentes setores da vida nacional e que nem todos os meios justificam os fins, mesmo que esses fins sirvam objetivos claramente nacionais mas sistematicamente deturpados precisamente pelos que, em cargos para os quais foram delegados, tudo têm feito menos representarem os seus eleitores.

Não se pode continuar a ver, por exemplo, o sacrificar constante de um povo que no limite do seu sofrimento há muito se encontra, e, ao mesmo tempo, assistir ao esbanjamento e gastos milionários do Estado para a manutenção de mordomias e futilidades institucionaise, bem como, ao enriquecimento rápido e ilícito, aos crimes de colarinho branco, aos descarados favorecimentos de lóbis espalhados por todos os setores e à promoção de rapazolas que do Trabalho mal ou pouco sabem porque mal ou pouco o experimentaram.

Depois, do cimo do seu pedestal de fascizante arrogância, querem fazer passar a imagem daquilo que nunca virão a ser ou nunca foram: políticos sérios e gente de palavra.

Estes e muitos outros que por lá passaram, apesar dos discursos paternalistas que agora proferem, esquecidos que estão de uma prática governativa que também feridas abriu no processo democrático ou de silêncios comprometedores que acabaram por proteger quem para o descalabro financeiro e penúria social nos encaminhou.

De palavra e de honra se fazem os grandes homens e os grandes políticos, sem as quais nada de bom se augura para país algum.

A dignidade de um povo nunca deverá ser negociável do mesmo modo que a luta contra os tiranos tréguas nunca lhes dará. Contra os tiranos, os "vendilhões do templo" e os falsos democratas.

Hoje, mais do que nunca, é importante ser-se um bom político, sabedor, justo, voltado para o país e para os cidadãos, a pensar e a olhar com razoabilidade para os sacrifícios que pede e a quem pede, sem perder a noção de que um bom governo é sempre aquele que nunca põe acima dos interesses dos cidadãos quaisquer outros interesses, muito menos, os interesses de quem pela voz do dinheiro poder emana e por causa desse poder obedecido quer ser.

Um bom político não existe por acaso do mesmo modo que a Política carreira não deveria ser.

Um bom político deixa que as suas obras falem por si e não que os seus discursos provem o que jamais conseguirão de outro modo provar: transparência e rigor ao serviço do país que juraram servir.

Um bom político gosta de Política mas sabe de Política.

Preocupa-se com a Política porque a Política servirá para organizar o seu país na senda do progresso e na procura da harmonia social tão desejada, mas, só bons políticos boa Política farão, certo?

Um bom político deseja sê-lo e não só parecê-lo. Entregar-se à causa do seu país com espírito de missão e fazer dessa missão um ato sublime de resistência à adversidade como aconteceu com grandes homens ao longo da História.

No entanto, esses, fizeram-no com sentido de Justiça. Justiça e equidade social, sentido de Estado, como só os grandes políticos conseguem porque do seu povo o bem retribuído lhes será, exatamente porque é esse bem o fim último da sua ação.

Um bom político dá-se a conhecer pelas ideias e projetos que quer e concretiza para o seu país, para o bem do seu país, e não pelo proveito que deles possa tirar para se promover ou enaltecer pessoal ou profissionalmente.

Um bom político não nasce: faz-se.

Faz-se através de um querer servir mas não servir-se, de um conhecimento académico mas pragmático e realista, ajustado às realidades de um país que de si precisa para singrar, florescer, desenvolver-se.

Um bom político aprende com os livros mas mais aprende com a realidade da vida do seu povo à qual não deve fugir, muito menos fingir não ver ou conhecer.

Um bom político tem que ter fortemente interiorizado o sentido cívico da sua missão e a responsabilidade nacional acrescida de que se reveste o seu trabalho e que à prática levará, constituindo-se modelo de cidadania acima de qualquer suspeita.

Sem isto, nada valerá a pena.

Nem a ele nem à democracia que diz servir.


nazaré oliveira