Centenas e centenas de
pais, neste momento, olham com confiança mas também com alguma apreensão e
angústia, este momento crucial na vida dos seus filhos que é a entrada no
ensino superior.
Poucos vão estudar o
que verdadeiramente pretendem nas áreas para os quais estão vocacionados e
muitos se espalharão por uma panóplia de cursos e universidades que este mundo
e o outro oferecem, a troco de bom dinheiro mas nem sempre a troco de qualidade
e seriedade, quer na preparação pedagógico-científica quer na forma como
entraram ou foram e vão entrando.
Continua a existir a
ideia, quer em filhos quer em pais, de que o natural é entrar para um curso
superior, uma universidade, obcecados que estão com títulos de doutores ou
engenheiros, perfeitamente alheados de uma realidade que as voltas lhes trocará
quando no fim das licenciaturas nada de novo ou de bom surgir, apesar das
expetativas, apesar de um querer que
em nada ser se tornou, nem para eles
nem para o país.
De qualquer modo, no
nosso país, continua a sentir-se a falta de um ensino técnico-profissional mais
alargado, melhor estruturado, que constitua uma séria e eficaz alternativa aos
tais cursos superiores do nosso ensino “clássico”.
Considero fundamental
que no fim do 3º ciclo os alunos fossem desde logo encaminhados para escolas
técnicas/profisssionais, pressupondo, naturalmente, a existência de boa
orientação profissional nesse fim de ciclo, com psicólogos residentes em todas elas
(coisa que infelizmente e estranhamente não existe, porque o Ministério da
Educação não os quer colocar!), de forma a evitar-se o que tanto se vê: alunos
sem capacidades para as ditas áreas curriculares tradicionais mas com clara
aptidão para disciplinas muito mais práticas e “tecnológicas” e para cursos que
lhes permitisse um trajeto muito mais adequado para a sua entrada na vida
ativa, evitando-se o flagelo das retenções repetidas e o faz de conta de planos
de recuperação ou de planos de apoio que, na prática, mais não são do que o
adiar do problema ou da sua (boa) resolução.
Tantos jovens e tão
bons alunos que não entraram no curso que verdadeiramente queriam ou que se
veem obrigados a parar um caminho jamais sonhado que os levaria à carreira
idealizada!
Quantos jovens
formidáveis ficam pelo caminho por causa da desorganização a que assistimos na
Educação e Ensino em geral, sem uma clara definição de tudo isto?
Quantos jovens formidáveis ficam pelo caminho
por causa da falta de diálogo e de bom senso entre Ministério, Escolas,
Associação de Pais e Sindicatos?
Quantos jovens
formidáveis ficam pelo caminho por causa de exames mal concebidos ou provas mal
corrigidas?
Quantos jovens
formidáveis ficam pelo caminho por causa de umas
décimas?
Quantos jovens
formidáveis ficam pelo caminho por causa da falta de dinheiro dos seus pais?
Quantos jovens
formidáveis ficam pelo caminho porque não tiveram hipótese de ter explicadores
ou aulas particulares que reforçassem as suas capacidades a certas disciplinas
e as melhorassem?
Quantos jovens
formidáveis ficam pelo caminho por causa de maus professores, maus encarregados
de educação, más escolas e critérios de classificação desadequados e
escandalosamente facilitadores em muitas delas?
Quantos jovens
formidáveis ficam pelo caminho por causa de notas inflacionadas, falta de
profissionalismo, injustiças e favorecimentos?
Quantos? Muitos!
Demasiados!
Se verificarmos com que classificações entraram muitos alunos
em certos estabelecimentos do ensino superior privado para cursos “iguais“ nas
universidades ditas públicas, vemos aqui muitas das consequências nada boas que
o sistema atual está e continua a engendrar.
No fim desses cursos,
dessas licenciaturas, como todos nós sabemos, nada distinguirá os que entraram
com 9.5, 11, 12 … 15, 16, 19 valores… a não ser a sua universidade e a
excelência do seu trabalho, e, sobretudo, a
forma como essas universidades exigiram a entrada aos alunos que as mesmas escolheram e aos professores que procederam à avaliação
dessa mesma entrada (testes/exames).
É óbvio que o
Ministério deve ter um papel importante na supervisão de tudo isto, de forma a
evitar-se aquilo que todos nós conhecemos, e bem, sobre a entrada dos nossos
estudantes no ensino superior.
“Nem tudo o que luz é ouro”!
Os alunos deviam prestar provas para entrar na(s) universidade(s)
que quisessem, isto é, deveria caber a essas universidades a responsabilidade
de os aceitar ou não, de acordo com exames específicos definidos pelas mesmas, a
partir dos quais pudessem ser aferidos conhecimentos científicos considerados essenciais
para a entrada nesses cursos pretendidos mas, também, a componente vocacional.
Os exames nunca são nem serão demais. Claro que contam e devem manter-se, mas com rigor, muito rigor, feitos
por equipas muito boas e muito bem supervisionadas.
E os “pesos” exigidos deveriam ser muito maiores para os exames
feitos nas próprias faculdades que o aluno escolhe do que nos “pesos” dos
exames nacionais, porque, como sabemos, nem sempre os exames nacionais são
provas feitas com a qualidade científica a exigir nem com as temáticas naturalmente
adequadas a um 12º ano que considero um ano pré-universitário e que, como tal,
deveria ser tratado.
O que é demais é a
injustiça de ver que muitos vão ser “doutores e engenheiros” à custa da falta
de coragem que continua a ver-se e a fazer-se sentir nas entradas para o ensino
superior e na sua organização, e que permite que alunos entrem nos mesmos
cursos em diferentes faculdades/universidades, com classificações que,
pasme-se, “vão do 8 ao 80”. E isto, sem falar dos que tiveram e continuam a ter
dinheiro “para tudo e mais alguma coisa”, cunhas
e outros esquemas perversos que se manterão e a revolta e injustiça que provocam
enquanto não houver da parte do Ministério uma tomada de posição séria e
inequívoca para mudar e cortar o mal pela raiz.
Nazaré Oliveira