domingo, 8 de julho de 2012

Professores de Miguel Relvas




Muito pior do que saber que o aluno Miguel Relvas teve as equivalências que teve e que chegou a doutor sem estudar nada ou quase nada, e até mentiu e falseou informações, é saber que houve professores que o avaliaram sem nunca o terem visto naquela escola, como refere o EXPRESSO, havendo até agora um único e corajoso docente - coronel na reserva Almeida Tomé – que diz ter sido seu professor de Geoestratégia, Geopolítica e Relações Internacionais, assumindo que o teve como estudante.

Esses senhores professores que admitiram ao EXPRESSO só terem conhecimento que Miguel Relvas era licenciado neste curso, por esta Universidade, através dos jornais, o que deveriam fazer? O que vão fazer? O que se lhes deveria fazer, a eles e a quem disto há muito SABIA?

Não me venham com conversa! Não há hipótese de conversa alguma quando estamos perante mais um caso de gravíssima falta de profissionalismo e de ética profissional, a imputar à Universidade em geral mas, em particular, aos responsáveis que atribuíram, deste modo, as equivalências a este “aluno”, aos que concordaram com isso, aos que consentiram todas estas decisões, subscrevendo-as e assinando-as, dando despacho a mais uma vergonhosa decisão legislativa que dissemina cada vez mais a injustiça e a falta de Moral e Ética Política, na Educação (neste caso) mas também em tantos e tantos outros setores da nossa vida nacional.

"Era um aluno interessado e até modesto. Via-se que tinha bagagem, mas como tinha muitos afazeres veio pouco às aulas". A falta de assiduidade refletiu-se na nota final.”

O que é isto, meus senhores? Andam a fazer pouco dos professores sérios (que os há!), das Universidades sérias (que as há!) e dos estudantes sérios que a sério estudam!

“Via-se que tinha bagagem” (não sei como!) mas não se viu o que a olhos vistos era “claramente visto”: que era um oportunista e que, valendo-se da sua posição como deputado, solicitara equivalências que, certamente, se o não fosse, não pediria, pois neste país, infelizmente, interessa mais um canudo e um título de doutor ou engenheiro do que assumir com lealdade os compromissos que juraram cumprir naquela que deveria ser a nobre missão de governar e dirigir um país quando para tal foram investidos e mandatados.

Corrupção e compadrio, tráfico de influências e chantagem, manipulação de informações, falsificações, compra de favores, compra de silêncios, ameaças, tudo tem valido neste país, pelo que vemos, lemos, ouvimos, vamos sabendo, nesta ponta do iceberg que revolta e enoja tanto mais quanto mais a vamos vendo emergir.

“(…) mas como tinha muitos afazeres veio pouco às aulas". “A falta de assiduidade refletiu-se na nota final”.

Como? Passou a tudo! Onde estão os critérios de avaliação? Onde estão as provas efetuadas? Os enunciados dessas provas devidamente datados e arquivados e os documentos que se afixam sempre nas Faculdades com esse fim e nessas circunstâncias?
Vergonha, senhores professores que este aluno (e alunos como este) defendem! Vergonha, senhores professores que isto aceitaram!

A coerência e o brio profissional não podem estar sujeitas a pressões de espécie alguma, seja para avaliar um ministro ou o filho do senhor que varre a nossa rua.

Inconcebível este malabarismo pedagógico-político e esta esperteza saloia que tem tomado proporções gigantescas e sido tão frequente no nosso país!

Se fosse um simples professor de uma simples escola básica ou secundária, um  simples Conselho de Turma ou até  um simples Conselho Pedagógico a fazer isto a um simples aluno, caíam-lhe logo todos em cima, amedrontados que estão, sistematicamente, com o que possa resultar se a “fundamentação” do professor visado “não lhes bastar” ou “parecer não bastar ao Ministério”, ainda que esse aluno nunca na vida tivesse tido uma classificação positiva que demonstrasse, inequivocamente, que alguma coisa soubesse da sua disciplina, ou mesmo, ainda que assíduo ou fingindo-se assíduo tivesse sido.

Teme-se sempre, inclusive, a posição continuada e obstinada do encarregado de educação que pode sempre recorrer, depois, ao Ministério de Educação, para que o “menino” ou “menina” passem mesmo sem saber, numa clara afronta e desrespeito pelo trabalho de quem, por isso mesmo, o reprovou, e se recusa a passagens meramente administrativas, afinal, ainda em voga.

Mas o aluno Miguel Relvas e quem o avaliou, ultrapassou todos os limites do razoável!

É mais um escândalo na Educação! É mais um escândalo no nosso país! É mais um motivo de risota para a União Europeia e um murro no estômago da nossa democracia.

Nesta como noutras legislaturas, são atropelos a seguir a atropelos: desde licenciaturas feitas, ainda ninguém sabe como nem por quem, até avaliadores que desconhecem os avaliados mas cujas notas, supostamente, lhe atribuíram, passando por despachos feitos à pressa para um qualquer filho(a) de ministro entrar num curso ao qual não acederia se tal relação de parentesco com ele não existisse, tudo tem tido lugar neste país e nestas políticas de educação. Tudo do muito que ainda falta destapar!

Os Gato Fedorento faziam “Uma espécie de Magazine”. Os nossos governos e deputados têm feito uma espécie de Política”.

Vamos consentir que isto fique assim? Mais crimes sem castigo?

Se ainda há vergonha, por favor, demitam quem nos envergonha.



Nazaré Oliveira