Muito pior
do que saber que o aluno Miguel Relvas teve as equivalências que teve e que
chegou a doutor sem estudar nada ou quase nada, e até mentiu e falseou
informações, é saber que houve professores que o avaliaram sem nunca o terem
visto naquela escola, como refere o EXPRESSO, havendo até agora um único e
corajoso docente - coronel na reserva Almeida Tomé – que diz ter sido seu
professor de Geoestratégia, Geopolítica e Relações Internacionais, assumindo
que o teve como estudante.
Esses
senhores professores que admitiram ao EXPRESSO só terem conhecimento que Miguel
Relvas era licenciado neste curso, por esta Universidade, através dos jornais,
o que deveriam fazer? O que vão fazer? O que se lhes deveria fazer, a eles e a
quem disto há muito SABIA?
Não me venham com conversa! Não há hipótese de conversa alguma quando estamos
perante mais um caso de gravíssima falta de profissionalismo e de ética
profissional, a imputar à Universidade em geral mas, em particular, aos
responsáveis que atribuíram, deste modo, as equivalências a este “aluno”, aos
que concordaram com isso, aos que consentiram todas estas decisões,
subscrevendo-as e assinando-as, dando despacho a mais uma vergonhosa decisão
legislativa que dissemina cada vez mais a injustiça e a falta de Moral e Ética
Política, na Educação (neste caso) mas também em tantos e tantos outros setores
da nossa vida nacional.
"Era um aluno interessado e até
modesto. Via-se que tinha bagagem, mas como tinha muitos afazeres veio pouco às
aulas". A falta de assiduidade refletiu-se na nota final.”
O que é
isto, meus senhores? Andam a fazer pouco dos professores sérios (que os há!),
das Universidades sérias (que as há!) e dos estudantes sérios que a sério
estudam!
“Via-se
que tinha bagagem” (não sei como!) mas não se viu o que a olhos vistos
era “claramente visto”: que era um oportunista e que, valendo-se da sua posição
como deputado, solicitara equivalências que, certamente, se o não fosse, não
pediria, pois neste país, infelizmente, interessa mais um canudo e um título de
doutor ou engenheiro do que assumir com lealdade os compromissos que juraram
cumprir naquela que deveria ser a nobre missão de governar e dirigir um país
quando para tal foram investidos e mandatados.
Corrupção e
compadrio, tráfico de influências e chantagem, manipulação de informações,
falsificações, compra de favores, compra de silêncios, ameaças, tudo tem valido
neste país, pelo que vemos, lemos, ouvimos, vamos sabendo, nesta ponta do
iceberg que revolta e enoja tanto mais quanto mais a vamos vendo emergir.
“(…) mas
como tinha muitos afazeres veio pouco às aulas". “A falta de assiduidade refletiu-se na nota final”.
Como? Passou a tudo! Onde estão os critérios
de avaliação? Onde estão as provas
efetuadas? Os enunciados dessas provas devidamente datados e arquivados e os
documentos que se afixam sempre nas Faculdades com esse fim e nessas
circunstâncias?
Vergonha, senhores professores que este aluno (e alunos como este) defendem! Vergonha, senhores professores que isto aceitaram!
Vergonha, senhores professores que este aluno (e alunos como este) defendem! Vergonha, senhores professores que isto aceitaram!
A coerência
e o brio profissional não podem estar sujeitas a pressões de espécie alguma,
seja para avaliar um ministro ou o filho do senhor que varre a nossa rua.
Inconcebível este malabarismo pedagógico-político e esta esperteza saloia que
tem tomado proporções gigantescas e sido tão frequente no nosso país!
Se fosse um
simples professor de uma simples escola básica ou secundária, um simples Conselho de Turma ou até um simples Conselho Pedagógico a fazer isto a
um simples aluno, caíam-lhe logo
todos em cima, amedrontados que estão, sistematicamente, com o que possa
resultar se a “fundamentação” do professor visado “não lhes bastar” ou “parecer
não bastar ao Ministério”, ainda que esse aluno nunca na vida tivesse tido uma
classificação positiva que demonstrasse, inequivocamente, que alguma coisa soubesse
da sua disciplina, ou mesmo, ainda que assíduo ou fingindo-se assíduo tivesse
sido.
Teme-se
sempre, inclusive, a posição continuada e obstinada do encarregado de educação
que pode sempre recorrer, depois, ao Ministério de Educação, para que o
“menino” ou “menina” passem mesmo sem saber, numa clara afronta e desrespeito
pelo trabalho de quem, por isso mesmo, o reprovou, e se recusa a passagens
meramente administrativas, afinal, ainda em voga.
Mas o aluno Miguel Relvas e quem o avaliou,
ultrapassou todos os limites do razoável!
É mais um
escândalo na Educação! É mais um escândalo no nosso país! É mais um motivo de
risota para a União Europeia e um murro no estômago da nossa democracia.
Nesta como
noutras legislaturas, são atropelos a seguir a atropelos: desde licenciaturas
feitas, ainda ninguém sabe como nem por quem, até avaliadores que desconhecem
os avaliados mas cujas notas, supostamente, lhe atribuíram, passando por
despachos feitos à pressa para um qualquer filho(a) de ministro entrar num
curso ao qual não acederia se tal relação de parentesco com ele não existisse,
tudo tem tido lugar neste país e nestas políticas de educação. Tudo do muito
que ainda falta destapar!
Os Gato Fedorento faziam “Uma espécie de
Magazine”. Os nossos governos e deputados têm feito uma espécie de Política”.
Vamos
consentir que isto fique assim? Mais crimes sem castigo?
Se ainda
há vergonha, por favor, demitam quem nos envergonha.
Nazaré Oliveira