No Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, quero homenagear todos os lutam contra este cobarde invasor e destruidor das suas vidas, e quero homenagear, também, todos os que estudam e tentam travar este temível e terrível adversário, procurando a sua cura através de um trabalho e de um estudo que, em Portugal, é "tão esquecido" e tão pouco divulgado nos media, ao contrário dos golos , dos jogos e vidas privadas de alguns futebolistas, treinadores, de alguns dirigentes de clubes, de alguns models, das novelas, da dita socialité, de certos e certas apresentadoras de TV, de certos e certas cantoras "feitas à pressa", de certos atores e atrizes, de muitos e muitos gestores e banqueiros, de muitos e muitos deputados e ministros, enfim, de um triste país, pequeno país, que se encosta às pequenas coisas de mesquinha gente, esquecendo quem GRANDE O FAZ OU VAI FAZENDO, discretamente, humildemente, quase em silêncio!
Uma palavra de apreço, também, para os médicos e enfermeiros que dedicadamente trabalham nos hospitais e que tornam melhores os dias dos doentes oncológicos e os ajudam a suportar uma dor que breve os levará, com um sorriso, com dignidade, mesmo sabendo que o fim do caminho se avizinha e que sempre deles se abeirou, sem esquecer os que fazem do voluntariado nesta área uma forma, também, de amarem e de se darem a quem mais precisa.
No entanto, tal como disse o Presidente do Colégio de Oncologia (3.2.2012), é lamentável que continue a não haver um plano nacional que identifique necessidades e meios para diagnosticar e tratar o cancro, lembrando que os doentes andam “perdidos" e sem orientações concretas sobre os tratamentos.
Jorge Espírito Santo (JES), chamou a atenção para o facto de, em Portugal, "a doença oncológica ser o parente pobre" da área da saúde, lembrando que “há muita coisa para fazer”, sobretudo numa altura dramática como a que vivemos, na qual serão (e já estão) a ser duramente e desumanamente tratados estes e outros doentes crónicos, sem meios para continuar os tratamentos, sem dinheiro para a compra de medicamentos, para o aluguer de táxis, ambulâncias, para pagamento de exames auxiliares de diagnóstico específicos, sem falar da fome que grassa já nas suas casas e da falta de condições que a invernia vem agravando, estes, estes pobres doentes condenados, são o pior dos rostos da desgraça à qual o capitalismo selvagem os lançou, o pior dos rostos de uma justiça social e de uma política económica e financeira que continua a não olhar a meios para atingir os seus fins, mesmo que esse fim seja o pagamento de uma dívida para a qual nunca contribuíram, desgraçadamente secundarizados que estiveram, sempre, das luzes da ribalta, sempre negadas, sempre vedadas, até no momento em que uma morte digna seria o mínimo que um país decente deveria facultar para quem sempre dedicado lhe foi e até servil.
Este país não está a ser sério nem justo com as políticas de saúde que tem implementado! Sobretudo para com os doentes oncológicos e os doentes crónicos!
Segundo um estudo divulgado em 2009, a verba aplicada em Portugal em doentes de cancro representava 3.9 por cento do orçamento para a saúde, contrastando com os 8.15 por cento que representam os gastos com as doenças cardiovasculares e, de acordo com os números do INE relativos a 2010, os cancros na laringe, brônquios e pulmão são os que provocam mais mortes em Portugal (4.046), seguindo-se o cancro do cólon (2.650 mortes), do estômago (2.323), do tecido linfático (2.009) e da próstata (1.786 casos mortais registados).
«Os recursos que são consumidos no combate ao cancro - desde a prevenção até aos cuidados paliativos - são muito mais baixos do que o impacto que a doença tem na sociedade», defendeu JES.
Lembrando o «bolo global da área da saúde», o especialista critica o facto de a fatia gasta com o cancro ser «muito mais pequena do que o impacto da doença na sociedade».
Recordo que, segundo dados da Liga Portuguesa Cotra o Cancro, em 2010 morreram 42 mil pessoas, mais 20 por cento do que no ano anterior, e deverá «dentro de cinco a seis anos» tornar-se na principal causa de morte no país, ultrapassando as doenças cardiovasculares.
Três anos passados sobre a divulgação da Carta de Princípios de Coimbra e terminada a vigência dos quatro Planos Oncológicos Nacionais, “não temos nada para os substituir”, disse JES, acrescentando que "não se pode intervir numa área tão importante como o combate ao cancro sem envolver todos os atores: a ordem, as sociedades científicas e os doentes”.
E a sensibilização e sensatez dos nossos políticos, digo eu, quando propõem e, sobretudo, quando votam medidas legislativas que continuam a penalizar quem mais penalizado não pode estar – os condenados com esta doença (o cancro) – e o sofrimento horrível e indescritível dos seus familiares que, em silêncio, sufocam a dor e a raiva de uma morte anunciada.