sábado, 14 de janeiro de 2012

Wang Yue - a indiferença da China


Wang Yue no hospital em 16 de outubro (Foto: AFP)

Quando soube deste caso, dia 20 de Outubro de 2011, fiquei horrorizada. Aliás, fico horrorizada com a falta de solidariedade, seja onde for ou com quer for, trate-se de pessoas e de animais.

Neste caso, que correu mundo, ainda mais doloroso foi ver as imagens do sucedido: neste caso, ninguém ia ter com a criança, caída no chão, ABANDONADA, A MORRER... todos passavam e iam à sua vida, serenamente, como se nada de horroroso se tivesse passado, como se nada, ali, merecesse uma pequena paragem que fosse para se inteirarem do sucedido! Nada! Nem o corpinho da criança caída e inerte lhes movia a curiosidade!

Gente que assim faz gente não é!

Desprovidos de sensibilidade e de humanidade, autómatos ao serviço de um ideário político e económico que vítimas faz e continuará a fazer em nome da supremacia económica e da consolidação de um papel cimeiro no comércio à escala mundial, a qualquer preço, tão pretendido e para o qual tudo vale e tem valido a pena, até a desumanização dos cidadãos, servem o partido e os líderes partidários que endeusam de forma cega e bajuladora, perfeitamente esventrados de uma intervenção cívica e democrática que lhes tem sido negada ao longo de décadas e décadas de um perfeito centralismo político na governação que a medo os tem e a medo os controla.

Esta gente (nem todos, claro!) nem da sua História tem retirado ensinamentos! Parou no tempo! Continua parada no tempo em matéria de Direitos Humanos e, Tianamen, afinal, não foi assim há tantos anos!

De que vale o PODER, a FAMA, o DINHEIRO, se deixamos que isto aconteça?

Nada deveria sobrepôr-se ao interesse do indívíduo, da pessoa. Nem o Estado.

Nada justifica isto, muito menos governantes e políticas que ao serviço do povo, verdadeiramente não estão.

Este trágico acontecimento que correu mundo, “trouxe a lume” a falta de valores morais na China. Morais e não só, se olharmos para a História deste país e para a forma como sempre fez o enquadramento das massas, a doutrinação da juventude e o controlo ideológico das famílias, subordinando-as sempre a um Estado e a um Partido omnipotente e omnipresente, totalitário e capaz das maiores injustiças e arbitrariedades em matéria social.

De facto, quando os jovens passam a ter como prioritário ficar ricos e fazem do seguidismo a sua Filosofia , tudo passa a ser considerado secundário, sobretudo os valores - o altruísmo, a solidariedade social, a cidadania…Tudo passa a ser esquecido, até as infâmias de um regime que com prepotência e recorrendo sistematicamente à delação e ao medo, à repressão e à censura, se tem mantido no poder, com intervenções diplomáticas que meras operações de cosmética têm sido nas suas relações internacionais cínicas e prepotentes, que a todos têm cativado em nome de um capitalismo que nos condenou e condena a esta subserviência dos horrores, perpetrada pelos governos “do ocidente” e que, em nome da economia e por causa dos erros dessa sua economia, servem quem nunca deveriam servir e se vendem a qualquer preço.

Incrível, estranhíssima, a resposta de responsáveis da província de Guangdong, quando decidiram lançar um debate desencadeado por este trágico acontecimento, um debate sobre a necessidade de se adotar uma legislação que permita a assistência obrigatória a quem precise, incluindo sanções para aqueles que não prestem ajuda às pessoas vítimas de acidentes!  

Incrível! Como se fosse necessário legislar sobre a sua (a nossa) obrigação de ajudar quem na rua está, a esvair-se em sangue, pisada uma e mais vezes por carros e pessoas.

Sim, o olhar também mata, como se costuma dizer, e aqui também matou, mas a indiferença, essa,  foi o golpe de misericórdia.