“A foto da eurodeputada italiana Licia Ronzulli com a filha recém-nascida ao colo durante uma sessão plenária no Parlamento Europeu em Estrasburgo (à esquerda), em outubro de 2010, percorreu o mundo e foi vista como um protesto pelos direitos das mulheres com dificuldade em conciliar a vida laboral e familiar.
Em dezembro de 2011, a bebé Vittoria voltou ao plenário de Estrasburgo (à direita). Um local só para crescidos.”
De facto, as mulheres continuam a ser sacrificadas, se comparadas com os homens, quando se trata da sua vida profissional, esquecendo-se muitos homens (e muitas mulheres também) que a conquista (árdua) da igualdade de género de nada servirá se na prática não for aplicada e respeitada. Por todos.
Apesar da luta incrível que as mulheres têm travado para que essa igualdade deixe de ser mera teorização de um princípio que nunca lhes deveria ter sido negado ao longo da História, na prática, há uma estranha “masculinização” na observância desta e de outras conquistas da mulher que, verdadeiramente, têm entravado a sua entrada, por exemplo, em maior número, na Política, área na qual a mulher, indiscutivelmente, faz muita falta e marca sempre a diferença.
Não quero dizer com isto que se houvesse mais creches, mais jardins de infância, mais infantários, se resolvesse o problema que ainda persiste relativamente ao afastamento da mulher de certas carreiras ou a crítica que às mulheres se faz quando, invocando o acompanhamento dos filhos, necessitam de faltar ao seu trabalho ou (infelizmente) declinam convites para certos cargos. Não.
O que eu penso é que tem de haver uma nova postura das instituições e das políticas face à mulher, à mulher-mãe e, ultimamente, à mulher-mãe-sózinha, à família monoparental, que na prática não existe e que, se existe, prima por uma profunda injustiça que é a subalternização do seu papel como mãe, isto é, a desvalorização do seu papel e função como mãe que na prática mais não é do que a sua penalização como tal, como se ser mãe ou querer ser mãe fosse desde logo um impeditivo para se entrar numa carreira ou se querer entrar e estar na Política, trazendo à baila aquele velho chavão, estúpido e ignorante, que diz que as mulheres são para estar em casa, a coser meias…
Em Portugal, continuamos a não estar muito longe disto. Em certas entrevistas, continua a haver quem pergunte às entrevistadas se tenciona engravidar, se tenciona ter mais filhos…
E mesmo se uma mulher envereda pela sua especialização académica, se se importa com a sua carreira e à mesma se dedica, a primeira das castrações sociais, por estranho que pareça, começa muitas vezes “em casa”!
Em casa e com os vizinhos, com os colegas, agarrados que ainda estão à ideia de que as mulheres, afinal, quando passam à prática, não podem ser como os homens, quero dizer, ter os mesmos direitos e valerem-se deles.
Embora não o confessem, muitos homens dão-se mal com o sucesso profissional das mulheres e com a sua enorme capacidade de trabalho e de resistência!
É urgente esta mudança de mentalidade. Criar mecanismos que deixem as mulheres ser MÃES e que contribuam para que jamais ter filhos possa ser impeditivo de exercer este ou aquele cargo ou abraçar esta ou aquela carreira.
Pelo contrário, que façam com que seja possível conciliar esse amor incondicional e essa responsabilidade que um filho representa, com aquilo que é também legítimo desejar: ter uma carreira, uma profissão, que se quer exercer também com responsabilidade, seja-se deputada, professora, varredora de rua, secretária, polícia, médica, gestora ou outra qualquer.
As mulheres, mulheres-trabalhadoras, continuam a ser as grandes sacrificadas quanto a isto. Sobretudo as mulheres conscienciosas da sua importância, não só em casa mas sobretudo na sociedade.
Já agora: quando ouço que “atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher”, sinceramente, não gosto.