Ainda em 1906, Carolina Beatriz Ângelo (a primeira especialista em ginecologia e a primeira mulher a poder votar em Portugal), Adelaide Cabete (médica e professora), Domitila de Carvalho (a primeira mulher a entrar na porta férrea da Universidade de Coimbra, Emília Patacho e Maria do Carmo Lopes, aderiram ao Comité Português da La Paix et le Désarmement par les Femmes. É digno de registo este passo, sobretudo, porque permitiu com coragem e grande sacrifício, ainda em plena Monarquia, preparar uma luta que se avizinhava terrivelmente difícil mas perante a qual jamais abrandarão. Marcarão decisivamente a História do século XX português, particularmente, a história da militância política das Mulheres Portuguesas.
Para combater, sobretudo, a ignorância e a superstição, aparece o Grupo das Treze, em Maio de 1911, número simbólico com o qual as sócias da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas quiseram surpreender e, desde logo, quebrar uma primeira superstição.
Com o objectivo de elucidar a sociedade quanto aos seus propósitos tinham máximas, todas elas compostas por 13 palavras, como: ”O fanatismo é uma espécie de lepra que corrompe e devora o pensamento”. Ou ainda: “A sociedade ideal será aquela em que a mulher levante templos à ciência”. E também: “A ciência fortalece as almas, a superstição amortalha-as na treva da Morte”.
Foi com este espírito ousado, que surgiram, tentando despertar novas ideias nas assembleias que as ouviam: “Iluminar as almas, libertar as consciências, eis a verdadeira missão da mulher moderna”.
Criaram um distintivo: uma medalha com o número 13, com a qual apareceram na sessão solene de apresentação pública do Grupo, estando presentes Judite Pontes Rodrigues, Carolina Amado, Ernestina Pereira Santos, Lydia d’Oliveira, Maria Veleda, Antónia Silva, Adelina Marreiros, Honorata de Carvalho, Marianna Silva, Filipa d’Oliveira, Berta Vilar Coelho, Lenia Loyo Pequito, Carolina Rocha da Silva - esta última em substituição de Maria da Madre de Deus Diniz d’Almeida, que não pode comparecer na sessão inaugural.
Como “Grupo das Treze” não duraram muito: existiram apenas até Outubro de 1913, mas, como sócias da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas foram activistas dinâmicas, destacando-se, também, pelas iniciativas cívicas e políticas, Ana de Castro Osório. Lutaram com heroicidade e determinação pelo direito ao voto das mulheres, pela lei do divórcio (entre outras) e apoiaram a Obra Maternal, instituição criada no tempo da monarquia com o objectivo de proteger e educar as crianças sem família ou vítimas de maus tratos. Em 1913, reivindicaram no Senado e na Câmara de Deputados a revogação da lei que permitia o direito de fiança a violadores de menores.
Nunca poderemos esquecer, também, Carolina Michaëlis de Vasconcelos, que no início de 1911 se tornou a primeira professora universitária; Alice Pestana, grande defensora da educação feminina e da criança; Guiomar Torrezão, a operária das letras que fez dos jornais e das suas obras publicadas em livro as armas da sua luta; Regina Quintanilha, a primeira mulher a vestir uma toga, formando-se em Direito; Angelina Vidal, que deu a sua voz pelos mais desfavorecidos; Maria Rapaz, que se fez passar por homem para conseguir melhores condições de vida; Irene Lisboa, Áurea Judite do Amaral, e tantas e tantas operárias, burguesas, mulheres anónimas, no campo e na cidade, em casa ou na rua, que foram e continuam a ser lutadoras pela igualdade efectiva de género e por uma vida com dignidade e justiça para todos.
De registar, igualmente, organizações de mulheres que se dedicavam ao apoio a vítimas da Guerra – 1ª Guerra Mundial -, caso das Damas Enfermeiras da Cruz Vermelha Portuguesa, que incluía algumas mulheres de políticos, como a presidente Alzira Dantas Machado, mulher de Bernardino Machado, das mulheres de Afonso Costa, António José de Almeida, Norton de Matos e outras. Além de promoverem a assistência e a educação das mulheres dos soldados que lutavam na Guerra, fundaram escolas profissionais e lutaram pela igualdade de direitos entre homem e mulher.
Com o final da I República e o advento do Estado Novo, as mulheres remeteram-se para a esfera doméstica. Mas a luta não parara. Nem parou!
Como referira Adelaide Cabete, em 1924, é preciso defender todas as mulheres que sofrem e fazer a reforma de leis iníquas e desumanas que as mantêm num estado de inferioridade humilhante e revoltante.
Nazaré Oliveira
Bibliografia consultada:
DICIONÁRIO NO FEMININO – SÉCULOS XIX E XX”, ZÍLIA DE CASTRO OSÓRIO E JOÃO ESTEVES (DIR.)
CONSELHO NACIONAL DAS MULHERES PORTUGUESAS, A 4 DE MAIO DE 1924.
JORNAL DO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA
Para combater, sobretudo, a ignorância e a superstição, aparece o Grupo das Treze, em Maio de 1911, número simbólico com o qual as sócias da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas quiseram surpreender e, desde logo, quebrar uma primeira superstição.
Com o objectivo de elucidar a sociedade quanto aos seus propósitos tinham máximas, todas elas compostas por 13 palavras, como: ”O fanatismo é uma espécie de lepra que corrompe e devora o pensamento”. Ou ainda: “A sociedade ideal será aquela em que a mulher levante templos à ciência”. E também: “A ciência fortalece as almas, a superstição amortalha-as na treva da Morte”.
Foi com este espírito ousado, que surgiram, tentando despertar novas ideias nas assembleias que as ouviam: “Iluminar as almas, libertar as consciências, eis a verdadeira missão da mulher moderna”.
Criaram um distintivo: uma medalha com o número 13, com a qual apareceram na sessão solene de apresentação pública do Grupo, estando presentes Judite Pontes Rodrigues, Carolina Amado, Ernestina Pereira Santos, Lydia d’Oliveira, Maria Veleda, Antónia Silva, Adelina Marreiros, Honorata de Carvalho, Marianna Silva, Filipa d’Oliveira, Berta Vilar Coelho, Lenia Loyo Pequito, Carolina Rocha da Silva - esta última em substituição de Maria da Madre de Deus Diniz d’Almeida, que não pode comparecer na sessão inaugural.
Como “Grupo das Treze” não duraram muito: existiram apenas até Outubro de 1913, mas, como sócias da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas foram activistas dinâmicas, destacando-se, também, pelas iniciativas cívicas e políticas, Ana de Castro Osório. Lutaram com heroicidade e determinação pelo direito ao voto das mulheres, pela lei do divórcio (entre outras) e apoiaram a Obra Maternal, instituição criada no tempo da monarquia com o objectivo de proteger e educar as crianças sem família ou vítimas de maus tratos. Em 1913, reivindicaram no Senado e na Câmara de Deputados a revogação da lei que permitia o direito de fiança a violadores de menores.
Nunca poderemos esquecer, também, Carolina Michaëlis de Vasconcelos, que no início de 1911 se tornou a primeira professora universitária; Alice Pestana, grande defensora da educação feminina e da criança; Guiomar Torrezão, a operária das letras que fez dos jornais e das suas obras publicadas em livro as armas da sua luta; Regina Quintanilha, a primeira mulher a vestir uma toga, formando-se em Direito; Angelina Vidal, que deu a sua voz pelos mais desfavorecidos; Maria Rapaz, que se fez passar por homem para conseguir melhores condições de vida; Irene Lisboa, Áurea Judite do Amaral, e tantas e tantas operárias, burguesas, mulheres anónimas, no campo e na cidade, em casa ou na rua, que foram e continuam a ser lutadoras pela igualdade efectiva de género e por uma vida com dignidade e justiça para todos.
De registar, igualmente, organizações de mulheres que se dedicavam ao apoio a vítimas da Guerra – 1ª Guerra Mundial -, caso das Damas Enfermeiras da Cruz Vermelha Portuguesa, que incluía algumas mulheres de políticos, como a presidente Alzira Dantas Machado, mulher de Bernardino Machado, das mulheres de Afonso Costa, António José de Almeida, Norton de Matos e outras. Além de promoverem a assistência e a educação das mulheres dos soldados que lutavam na Guerra, fundaram escolas profissionais e lutaram pela igualdade de direitos entre homem e mulher.
Com o final da I República e o advento do Estado Novo, as mulheres remeteram-se para a esfera doméstica. Mas a luta não parara. Nem parou!
Como referira Adelaide Cabete, em 1924, é preciso defender todas as mulheres que sofrem e fazer a reforma de leis iníquas e desumanas que as mantêm num estado de inferioridade humilhante e revoltante.
Nazaré Oliveira
Bibliografia consultada:
DICIONÁRIO NO FEMININO – SÉCULOS XIX E XX”, ZÍLIA DE CASTRO OSÓRIO E JOÃO ESTEVES (DIR.)
CONSELHO NACIONAL DAS MULHERES PORTUGUESAS, A 4 DE MAIO DE 1924.
JORNAL DO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA