terça-feira, 5 de julho de 2011

Erradicar a fome





Quando li a notícia sobre a eleição do brasileiro José Graziano da Silva,  61 anos, como novo director-geral da Organização das Nações Unidas para a FAO -  Agricultura e Alimentação,  em 2012, para quem "erradicar a fome no mundo não é a missão impossível que muitos acreditam ser”, fiquei feliz e senti mais uma vez uma esperança renovada no Homem e na sua capacidade de bem-fazer. Esperança e confiança na política e em políticos como este.
Assim os países que mais podem possam apoiá-lo nesta missão gigantesca, tão importante e tão urgente. Apoiá-lo de facto, não só com palavras mas sobretudo com meios. Assim o queiram, porque impossível não é. O próprio J. Graziano da Silva acrescenta que se existe consenso mundial em alguma coisa que diga respeito à FAO,  é de que a existência de 925 milhões de pessoas com fome no mundo não é razoável, sustentável nem admissível, e simultaneamente, de que o funcionamento da FAO não é eficiente, transparente e racional.
De facto, vivemos num mundo onde cada vez mais o desenvolvimento técnico e científico se vê e sente, nem sempre ao serviço do bem comum e nem sempre ao serviço do lado certo e justo da vida.  Um mundo onde cada vez mais assistimos à escalada do poder de certas nações e à sua afirmação no contexto internacional, através dos seus arsenais militares e nucleares ou do petróleo e diamantes que enriquecem as elites no poder, com o sacrifício do seu próprio povo, irremediavelmente condenado à morte pela fome,  pela guerra,  pela escravização, e perfeitamente subjugados ao primitivismo cultural de práticas altamente ofensivas aos direitos humanos.
Muitos destes países, numa estratégica diplomática claramente tendenciosa e perversa, trocam vidas por poder e fazem da ganância a sua bandeira.
Os países democráticos não podem continuar a pactuar com governos e políticos que promovem a corrupção e a injustiça, o genocídio e o terror.
A luta contra a fome é um dos 25 Objectivos do Milénio definidos pelas Nações Unidas e a meta é reduzir para metade o número de pessoas subnutridas até ao ano de 2015.
Em 2010,  a subnutrição no mundo caiu pela primeira vez em 15 anos, de 1,02 mil milhões de pessoas para 925 milhões, cerca de 13% da população mundial. De qualquer modo, nunca nos poderemos dar por satisfeitos enquanto soubermos que milhões e milhões morrem de fome enquanto outros,  esbanjando, sucumbem face ao consumismo obsceno e aterrador de um mercado selvagem que os torna cada vez mais presa fácil do capitalismo.
Para se cumprir o objectivo, o valor referido terá de ser reduzido até aos 400 milhões de pessoas nos próximos três anos.
Homem experiente e com trabalho feito no Brasil durante o governo de Lula,  Graziano da Silva, considera que erradicar a fome é uma meta razoável e alcançável. Para ele,  a actual alta do preço dos alimentos não é apenas uma situação pontual que inevitavelmente continuará a ter efeitos muito adversos nas nações mais pobres e mais dependentes da importação de bens alimentares. "A questão dos preços dos alimentos é uma das mais urgentes e à qual devemos dar atenção particular pois este não é um desequilíbrio temporário". "É preciso chegar a uma estabilização dos mercados financeiros internacionais, caso contrário haverá reflexos sobre as cotações das matérias-primas".
Quanta instabilidade e cenários de morte todos os dias se observam nas TVs, jornais, revistas, provocados pela falta de alimentos ou pela carestia dos mesmos!
Alastra assustadoramente a geografia da fome no mundo inteiro!
Segundo as estimativas do Banco Mundial,  44 milhões de pessoas entraram na pobreza desde Junho de 2010.
Numa altura em que sistematicamente se fala dos biocombustíveis ou do monopólio das multinacionais sobre as sementes, que ele  considera (e bem)  um bem da humanidade, convém não perder de vista que a utilização de colheitas agrícolas na produção de combustíveis alternativos deve ser urgentemente analisada para não redundar em injustiças cada vez maiores e com consequências muito mais perversas.
Impõe-se a ponderação séria e rigorosa na busca da equidade e sustentabilidade do planeta. E os países mais ricos e os mais pobres devem encetar diálogos e programas inequívocos nesse combate à fome implementando-os com a seriedade que se exige na defesa dos mais desfavorecidos pela sorte e pela sociedade.
"Pretendo agir de forma transparente e democrática para tentar conseguir um consenso mínimo para gerir de modo participativo esta organização e evitar a paralisia", declarou Graziano da Silva imediatamente após a sua eleição. "De forma mais diplomática",  reconhecendo no seu programa eleitoral que a FAO experimentara "um longo período de negligência com a agricultura, a pesca, as florestas, o desenvolvimento rural e a segurança alimentar no mundo".
Força, amigo!

"Um por todos e todos por um"