quarta-feira, 8 de junho de 2011

Encontro de Culturas








Os livros, são os guardiões do tempo! Um fascínio, um deslumbramento! E em cada página, o encontro com a História, com a vida!

Foi na perspectiva deste encontro, tantas vezes desencontro, que esta mostra bibliográfica se fez e nela se alicerçou, constituindo, os livros expostos, uma pequena parte da riqueza que a nossa Biblioteca guarda.

Procurei os silêncios da História, os bastidores. Os aplausos mas, também, as lágrimas. A glória e, tantas vezes a decepção.

Numa etapa importante da História nacional, Portugal, a partir do século XV, mostra-se ao Mundo e nele marca, sem dúvida, o seu nome, indo ao ENCONTRO DE SI MESMO.

Dilatando esse mundo, cria novas condições sociais para a Humanidade, concorrendo não só para o alargamento do conhecimento científico, como para o conhecimento de outros povos.

Segundo historiadores deste período, Portugal foi um dos “luminares da ciência”, preparando, com um “saber de experiências feito” a epopeia dos Descobrimentos.

Refira-se, a propósito, o nome do Infante D. Henrique, impulsionador e estratega da mesma, que sabiamente preparou aquilo que um historiador refere como os “germens dos mundos novos” (desde 1431 que este introduzira novos cursos na Universidade de Lisboa, orientados para a Expansão Marítima e, imagine-se, havia sábios portugueses a regerem cadeiras em Bolonha, Lovaina, Salamanca e outras!).


 Portugal quis, buscou e conseguiu protagonismo: procurou um rumo, novas gentes, novas riquezas, um “porto seguro “por mares nunca d` antes navegados.

Mas, é no encontro com as gentes que a sua marca perdurará.
Um encontro feito de confrontos e uma marca feita ora com dor e intolerância ora “com a alegria e o colorido do desconhecido que extasia e cativa”, como refere Pêro Vaz de Caminha na sua CARTA.


Ao longo d` OS LUSÍADAS, justamente considerado por Jaime Cortesão “o poema da fusão do Homem com o Universo”, Camões apresenta-nos a epopeia do povo português, o “sentido novo da vida, feito juntamente de juízo crítico e de fé, obediência e rebeldia, comunhão divina e amor humano e, mais que tudo, o poema de uma larga, generosa e fraterna compreensão dos outros homens e de outros povos, pela capacidade de compreender e amar a diversa humanidade (…)”.

O estabelecimento da Rota do Cabo, como sabemos, permitiu, entre outros aspectos, a comunicação entre os diferentes povos e diferentes culturas:

Com os africanos:

Houve um fraco e superficial intercâmbio civilizacional: muitas hostilidades e desconfianças perante a chegada dos portugueses geraram conflitos e muita violência. Sobretudo, no litoral africano, designadamente nas regiões da Guiné, Senegal, Nigéria e Angola, onde o tráfico de escravos constituiu negócio rentável para a Coroa (Gomes Eanes de Zurara refere que os escravos chegam a Portugal em 1441, à cidade de Lagos).

A África foi uma autêntica sangria humana pois, durante 4 séculos e meio, perdera 20 a 30 milhões de seres (1/3 dos embarcados nunca chegava ao destino). 

E vai ser esse tráfico negreiro a provocar uma das consequências mais importantes: a miscigenação entre grupos étnicos diferentes e o inerente intercâmbio de culturas raciais.

Ainda hoje, desses cruzamentos raciais, encontramos marcas da cultura europeia na cultura africana e americana, o mesmo acontecendo à própria Europa que assimilou usos e costumes desses povos, testemunhando uma política de heranças bidireccionais, visíveis nas línguas europeias, plantas, hábitos alimentares e religião.

Com os asiáticos:

Esse encontro civilizacional foi redutor e, naturalmente, conflituoso. Não esqueçamos que os povos aí encontrados eram herdeiros de culturas milenares e que, para além do islamismo, que os portugueses já conheciam, ainda encontraram o hinduísmo e o budismo, entre outras, traduzindo-se isto numa certa intolerância e incompreensão.

Os próprios orientais, tinham dos portugueses uma certa arrogância, nada facilitadora na permuta cultural.

Daí a promoção da missionação e também da miscigenação, muitas vezes “à força” e com pouquíssimos resultados.


Na América:

Podemos afirmar que foi aqui, verdadeiramente, que os europeus se afirmaram em termos civilizacionais, particularmente, espanhóis e portugueses. Mas, todos os meios justificaram o domínio daquelas populações, massacradas e escravizadas.

Não podemos deixar de referir o papel que tiveram na defesa dessas populações, homens como o Padre António Vieira e Bartolomeu de Las Casas, entre outros.


Se as permutas culturais marcaram desde então a América, a Europa mudou com este encontro a todos os níveis: geográfico, na exploração de recursos naturais, conhecimentos farmacêuticos, enriquecimento da língua e música.

Ao desencravarem os mundos até então isolados, os Descobrimentos surpreenderam os europeus com a extrema diversidade étnica e civilizacional do género humano, ao mesmo tempo que demonstraram, com objectividade e prova, a unidade física do ser humano.

Iniciaram, sem dúvida, a ERA DO ENCONTRO, contribuindo decisivamente para a formulação dos Direitos Humanos na época moderna, assente no pressuposto racional da unidade e igualdade de TODOS OS HOMENS e defesa da sua dignidade.

Como disse Fernando Pessoa:

“Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena”

Maria Nazaré Oliveira

(Minha intervenção na conferência efectuada dia 6.3.07, na E.S.Bocage, integrada no projecto ENCONTRO DE CULTURAS.
A investigação temática e bibliográfica que fiz, com o apoio do meu querido colega e amigo Professor António Vilhena, resultou numa mostra bibliográfica que também esteve patente ao público)