segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

domingo, 29 de janeiro de 2012

Prós e Contras em Angola


Tenho lido comentários e críticas muito pouco construtivas e muito pouco elegantes sobre a jornalista Fátima Campos Ferreira e o programa Prós e Contras que fez a partir de Angola, dia 16 deste mês.

É lamentável, muito lamentável e até de um profundo cinismo e hipocrisia, que essas críticas venham e continuem a vir de gente que defende a Lusofonia e a cooperação entre os povos, mesmo de jornalistas de jornais ditos conceituados mas que, verdadeiramente, só estão interessados em denegrir quem a paz, a coesão entre os povos e a cordialidade das relações entre eles defende.

Foi isso que a FCF e a RTP foram fazer e permitir: um REENCONTRO. O REENCONTRO.

Mais a mais, quem a critica e quem o programa criticou, que tem feito em prol desse estreitamento de relações que tanto propagandeia? Agarrados que (só) estão a um passado histórico que existiu, estão longe de contribuir, como fez esta equipa e o programa, para um presente que é preciso renovar e incentivar, numa óptica de respeito pela soberania dos povos e pela própria intervenção jornalística que não tem nem deve ser sensacionalista nem catastrófica. Foi um programa que perspectivou um futuro promissor para muitos portugueses e para muitos angolanos que residem em Portugal.

Gostei de sentir isso porque acredito que a História de Portugal e a História de Angola não se resumirá, nunca, só à História do Colonialismo. E o programa mostrou, mesmo pelo nível dos intervenientes e pelos projectos que estão e pretendem levar a cabo, que outra realidade surgirá e está a surgir, sem aves agoirentas, claro, como estas sobre as quais falo.

Estas, esta gente que a critica, só se interessaria se o programa lhes trouxesse o que afinal também nós sabemos, lá como cá, que é a existência de situações menos boas, quer ao nível da governação quer a outros níveis. Mas o programa, que fez jus ao seu tema – Reencontro -, cumpriu-o. E eu gostei. Gostei muito. Fiquei orgulhosa. Das palavras à música, dos sons às cores…sentimos África. Torcemos por África, pelos angolanos e pelos portugueses.

Aprendi muita coisa. Descobri e refecti muita coisa importante para esse estreitamento de relações entre Portugal e Angola mas, particularmente, descobri que vale a pena esse estreitamento de relações. Afinal, estavam à de quê? De lavagem de roupa suja, de azedumes e da já habitual arrogância portuguesa?

Há pessoas que só olham para o jornalismo sensacionalista e não para o jornalismo sensacional que se faz e que, hoje em dia, é também um parceiro fundamental para o diálogo intercultural e civilizacional que em muito vai contribuir para a mudança de paradigma que tanto se apregoa, e até, para relações diplomáticas mais profícuas entre países, nesta “aldeia global” que o jornalismo e os jornalistas ajudam a crescer.

“A missão histórica e civilizadora” da qual Salazar tanto falava (ver o seu Acto Colonial), parece que ainda mexe muito com certa gente!

Que pena!

Nem nós merecemos esta gente nem deste modo Portugal será o que mundialmente se espera que sejamos (sobretudo na União Europeia): um interlocutor privilegiado nas relações com os países africanos (PALOP)!

Nazaré Oliveira

Parabéns à Universidade do Minho

PARABÉNS à Universidade do Minho! Parabéns aos seus professores e investigadores!

As nossas universidades não estão nos primeiros lugares dos rankings mas têm feito um trabalho NOTÁVEL ao nível da investigação científica, trabalho esse ao nível dos melhores!
E isto, meus amigos, é que conta! Isto é que vai contar para conseguir combater doenças terríveis como estas!

Estou muito orgulhosa!
Um estudo coordenado por uma investigadora da Universidade do Minho descobriu uma molécula-chave que «abre novas perspectivas» no tratamento de doenças como Parkinson, Alzheimer, hipertensão hereditária e cancro.
«Este estudo abre novas perspetivas no tratamento destas e de outras doenças», sublinha Sandra Paiva, da Escola de Ciências da UM.

Como explica, as células produzem proteínas responsáveis pela entrada dos nutrientes disponíveis ou preferidos e destruindo as proteínas que não são necessárias. Naquele estudo, foi descoberta uma molécula-chave envolvida no processo de destruição de proteínas na célula. «Quando a molécula recebe informação da presença de determinado nutriente, destrói então os transportadores indesejáveis», acrescenta.

Segundo Sandra Paiva, os resultados deste estudo representam «um grande avanço» na compreensão dos mecanismos de degradação de proteínas.

«Os defeitos nestes mecanismos estão associados a doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer, à hipertensão hereditária e ao cancro. Este estudo abre novas perspectivas no tratamento destas e de outras doenças», sublinha.

Lembra que as células de cancro, por exemplo, «necessitam de muita energia e, ao conseguirmos reduzir o número de transportadores, podemos de algum modo privá-las de alimento, tornando-as mais sensíveis à quimioterapia».

Este trabalho utilizou como modelo um microrganismo, a levedura do pão ou da cerveja, que é fácil de crescer em laboratório e partilha uma grande semelhança dos seus genes com os genes em humanos.

A investigação foi realizada por uma equipa coordenada por Sandra Paiva e por Sebastien León, do Instituto Jacques Monod da Universidade de Paris.

A equipa inclui ainda Neide Vieira, Margarida Casal, Carina Cunha e Jéssica Gomes, todas da UMinho, e outros investigadores das universidades de Paris e Madrid.

A investigação acaba de ser publicada no conceituada revista Journal of Cell Biology e foi premiada no 2011 Nature Cell Biology Poster Prize Winners, na Croácia.

Sandra Paiva recebeu o American Club Annual Award 2001 e tem 15 artigos publicados em revistas científicas.

Lusa/SOL

sábado, 28 de janeiro de 2012

Atrás de um grande homem


“A foto da eurodeputada italiana Licia Ronzulli com a filha recém-nascida ao colo durante uma sessão plenária no Parlamento Europeu em Estrasburgo (à esquerda), em outubro de 2010, percorreu o mundo e foi vista como um protesto pelos direitos das mulheres com dificuldade em conciliar a vida laboral e familiar.
Em dezembro de 2011, a bebé Vittoria voltou ao plenário de Estrasburgo (à direita). Um local só para crescidos.”

De facto, as mulheres continuam a ser sacrificadas, se comparadas com os homens, quando se trata da sua vida profissional, esquecendo-se muitos homens (e muitas mulheres também) que a conquista (árdua) da igualdade de género de nada servirá se na prática não for aplicada e respeitada. Por todos.

Apesar da luta incrível que as mulheres têm travado para que essa igualdade deixe de ser mera teorização de um princípio que nunca lhes deveria ter sido negado ao longo da História, na prática, há uma estranha “masculinização” na observância desta e de outras conquistas da mulher que, verdadeiramente, têm entravado a sua entrada, por exemplo, em maior número, na Política, área na qual a mulher, indiscutivelmente, faz muita falta e marca sempre a diferença.

Não quero dizer com isto que se houvesse mais creches, mais jardins de infância, mais infantários, se resolvesse o problema que ainda persiste relativamente ao afastamento da mulher de certas carreiras ou a crítica que às mulheres se faz quando, invocando o acompanhamento dos filhos, necessitam de faltar ao seu trabalho ou (infelizmente) declinam convites para certos cargos. Não.

O que eu penso é que tem de haver uma nova postura das instituições e das políticas face à mulher, à mulher-mãe e, ultimamente, à mulher-mãe-sózinha, à família monoparental, que na prática não existe e que, se existe, prima por uma profunda injustiça que é a subalternização do seu papel como mãe, isto é, a desvalorização do seu papel e função como mãe que na prática mais não é do que a sua penalização como tal, como se ser mãe ou querer ser mãe fosse desde logo um impeditivo para se entrar numa carreira ou se querer entrar e estar na Política, trazendo à baila aquele velho chavão, estúpido e ignorante, que diz que as mulheres são para estar em casa, a coser meias…

Em Portugal, continuamos a não estar muito longe disto. Em certas entrevistas, continua a haver quem pergunte às entrevistadas se tenciona engravidar, se tenciona ter mais filhos…
E mesmo se uma mulher envereda pela sua especialização académica, se se importa com a sua carreira e à mesma se dedica, a primeira das castrações sociais, por estranho que pareça, começa muitas vezes “em casa”!
Em casa e com os vizinhos, com os colegas, agarrados que ainda estão à ideia de que as mulheres, afinal, quando passam à prática, não podem ser como os homens, quero dizer, ter os mesmos direitos e valerem-se deles.

Embora não o confessem, muitos homens dão-se mal com o sucesso profissional das mulheres e com a sua enorme capacidade de trabalho e de resistência!

É urgente esta mudança de mentalidade. Criar mecanismos que deixem as mulheres ser MÃES e que contribuam para que jamais ter filhos possa ser impeditivo de exercer este ou aquele cargo ou abraçar esta ou aquela carreira.
Pelo contrário, que façam com que seja possível conciliar esse amor incondicional e essa responsabilidade que um filho representa, com aquilo que é também legítimo desejar: ter uma carreira, uma profissão, que se quer exercer também com responsabilidade, seja-se deputada, professora, varredora de rua, secretária, polícia, médica, gestora ou outra qualquer.

As mulheres, mulheres-trabalhadoras, continuam a ser as grandes sacrificadas quanto a isto. Sobretudo as mulheres conscienciosas da sua importância, não só em casa mas sobretudo na sociedade.

Já agora: quando ouço que “atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher”, sinceramente, não gosto.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Cry me a river

CRY ME A RIVER - Para ouvir (e sentir) sempre!
Aqui, interpretada por cinco das minhas cantoras favoritas.





Basta de corridas!

Recebi hoje na minha página do Facebook esta imagem e este texto (em espanhol) que publico:

 “Y de repente el toro miró hacia mí. Con la inocencia de todos los animales reflejada en los ojos, pero también con una imploración. Era la querella contra la injusticia inexplicable, la súplica frente a la innecesaria crueldad. Esta vez el me tuvo pìedad a mi y me senti la peor basura del mundo."

Comunidad Gaia
De: Fabian Oconitrillo Gonzalez
BASTA DE CORRIDAS!!!!!!!! FUERON LAS PALABARAS DEL TORERO AL VER QUE EL ANIMAL TUVO PIEDAD DE EL Y LE SUPLICABA QUE HICIERA LO MISMO POR EL!!!!

Que imagen mas fuerte por Dios, xq paises disfrutan del sufrimiento ajeno!!!??

 Realmente…
Pobres seres nas mão da pior besta, que é o Homem! O Homem que maltrata, tortura e mata, para diversão, como os toureiros e outros afins! Mas a luta continua! A luta pela dignidade PARA TODOS os seres, humanos e não humanos. Fazer da tortura e do assassínio um espetáculo envergonha-me. No século XXI, numa altura em que a inovação tecnológica e a investigação científica atingem níveis dos quais me orgulho (se colocados ao serviço do bem estar da Humanidade, claro!), numa altura em que as descobertas constantes nos diferentes domínios do SABER deveriam enriquecer a nossa relação com o MUNDO e com a NATUREZA, à qual pertencemos e sem a qual nada seríamos... olhamos para o outro com a pretensa superioridade de quem pequeno é mas sempre "grande" se acha. Uma "superioridade" que historicamente em dor se tornou, dor gerou e com dor se explica e sente. Seja touradas, nazismo, racismo, xenofobia, ditaduras... a luta continua contra a estupidez e a desumanidade de quem a provoca e promove. SÓ O CONHECIMENTO LIBERTARÁ! O CONHECIMENTO SÉRIO DE QUEM CONVICTAMENTE DEFENDE DIREITOS PARA ANIMAIS HUMANOS E NÃO HUMANOS.

Hoje - Dia Internacional das Vítimas do HOLOCAUSTO

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O marido requeria a entrega e depósito judicial da mulher!





Em 1932, em resposta a uma pergunta de António Ferro sobre qual seria o papel destinado à mulher no novo governo e regime (…) Oliveira Salazar afirmou que «…a mulher casada, como o homem casado, é uma coluna da família, base indispensável de uma obra de reconstrução moral» e «a sua função de mãe, de educadora dos seus filhos, não era inferior à do homem». Segundo ele, devia-se deixar «o homem a lutar com a vida no exterior, na rua… E a mulher a defendê-la, no interior da casa».

Para Salazar, os homens e as mulheres não eram encarados como indivíduos mas como membros da família, o núcleo primário «natural» e «orgânico» do Estado Novo corporativo.

As mulheres, que constituíam o «esteio» dessa família tradicional defendida pela ideologia salazarista, tinham sido atiradas pelo regime liberal para o mercado de trabalho onde entravam em concorrência com os homens e, por isso, com o novo regime, deveriam regressar ao «lar». Para defender esse regresso à família e a separação de esferas de actuação entre homens e mulheres, Salazar aparentemente valorizou o papel de mãe e de esposa. Mas a apregoada «superioridade» feminina era derivada da sua função «natural» – portanto biológica.

Como a ideologia salazarista não se pautou pelos conceitos de «cidadania», de «igualdade» e de «liberdade», só aceitou o princípio da «diferença sem a igualdade» em vez «da igualdade na diferença», reservou às mulheres uma esfera própria de actuação – privada e pública – mas não atribuiu ao espaço feminino um valor igual ao do masculino.

(…) As leis que no regime salazarista regularam os direitos políticos das mulheres e a sua situação na família, no trabalho e na sociedade, basearam-se na Constituição de 1933.


Embora afirmando a igualdade de todos os cidadãos perante a lei e negando «o privilégio do sexo», esta incluía uma cláusula que consagrava as excepções ao princípio de igualdade constitucional: «salvo, quanto às mulheres, as diferenças da sua natureza e do bem da família».

(…) O Código do Processo Civil de 1939 reintroduziu o poder concedido ao marido de requerer a entrega e «depósito» judicial da mulher casada. Este possibilitava ao marido, em caso de saída da mulher da casa familiar, exigir judicialmente que ela fosse aí compulsivamente «depositada» em sua casa, como se fosse um fardo.

As mulheres deixaram também de poder exercer comércio, viajar para fora do país, celebrar contratos e administrar bens sem o consentimento do marido. (…) O casamento tornou-se indissolúvel (…) e todos os casados pela Igreja – a larguíssima maioria -, que se separavam, já não se podiam voltar a casar. Esta situação (…) gerou (…) ligações extra-matrimoniais não legalizadas e aumentou o número, já de si grande, dos filhos ilegítimos.

(…) Curiosamente, o Estado Novo foi o primeiro a conceder em Portugal o direito de voto e de elegibilidade às mulheres, embora sob certas condições (…). No entanto, (Salazar) especificou que o voto feminino não tinha sido conquistado pelas mulheres mas «decretado» pelo Chefe.

Texto (parte)  apresentado por Irene Pimentel na sessão de abertura do Congresso Feminista/ 26 de Junho de 2008, in  caminhosdamemoria.wordpress.com

domingo, 22 de janeiro de 2012

Para compreender a linguagem financeira

Achei muito interessante esta publicação no ABC de PPM. De facto, considero cada vez mais necessário que o dito cidadão "comum" tenha um entendimento razoável, mínimo que seja, de assuntos sobre Finanças e Economia. Por razões óbvias, claro!
E a Comunicação Social, sem dúvida, é o grande manual, a grande lição e a grande escola para esse cidadão.
Aqui fica.

Tive hoje a oportunidade de assistir a uma conferência na Universidade de Osaka, em que o orador era o holandês Joris Luyendijk, jornalista e autor de obras recentes sobre as mudanças que o sector da comunicação social está a viver na actualidade. É também o autor de um dos blogues do The Guardian, chamado ‘The Joris Luyendijk Banking Blog – Going Native in the World of Finance’. A intenção do blogue é explicar ao cidadão comum a complexa linguagem do sector financeiro, através do testemunho daqueles que vivem e trabalham no mundo financeiro dia após dia.
Luyendijk salientou que na sua perspectiva hoje vive-se uma guerra entre os políticos e os mercados financeiros. O problema surge quando o nível de responsabilização daqueles que actuam no mercado financeiro é muito menor do que aqueles que actuam nos palcos políticos democráticos. Outro problema surge para a comunicação social, todos sabem que político entrevistar dependendo da problemática que está a ser discutida. Porém quem é que dá a cara pelos mercados financeiros? Normalmente os actores financeiros escondem-se entre influentes firmas de Relações Públicas e não são obrigados a prestar declarações nem a justificarem-se perante os cidadãos do país onde actuam.
Fica aqui a recomendação da leitura da obra aclamada de Luyendijk em inglês "Hello, Everybody!" (UK) or “People Like Us” (US).

in http://abcdoppm.blogs.sapo.pt/

sábado, 21 de janeiro de 2012

Talking about REVOLUTION

Deputados da Assembleia da República optaram por ser carrascos

Aqui ou em qualquer lugar, um carrasco é sempre um carrasco. E o rosto e o olhar de um carrasco é sempre um rosto e um olhar como o deste carrasco.

Ontem, na Assembleia da República esteve em causa o futuro dos Touros e dos Cavalos, em Portugal, baseado numa exigência ética, que se quer para um país civilizado e culto.

Discutia-se uma Petição com mais de sete mil assinaturas de Portugueses conscientes de viverem na modernidade, e em que se pedia a Abolição das Touradas em Portugal, que como se sabe é um acto sádico, medieval e covarde mascarado de “tradição”.

Ontem, deveria optar-se entre a VIDA e a TORTURA. Condenar-se-ia os Touros e os Cavalos ao massacre e ao sofrimento? Ou deixá-los-iam viver em liberdade, como é de seu direito? Essa era a grande questão.

Ontem, os deputados da Nação decidiram.

CARRASCOS OU LIBERTADORES dos Touros e dos Cavalos?

Ontem, para meu grande espanto, os deputados optaram por ser CARRASCOS.

Em nome de quê? Obviamente em nome do lobby económico (ao qual se rendem vergonhosamente) e da ignorância.

Durante vinte minutos, ouviu-se da boca dos representantes dos seis partidos com assento parlamentar, uma enxurrada de “nadas” que envergonhou Portugal e os Portugueses cultos.

Isabel Aguincha (PSD) centrou-se na liberdade individual. Podemos então maltratar um ser vivo quando nos der na gana.

Gabriela Canavilhas (PS), que todos sabemos ser uma aficionada ferrenha, e que está a marimbar-se para a Cultura, pensa que a liberdade da diversidade é que é, ainda que essa liberdade vá contra a liberdade de outros seres vivos, como o de terem o direito à VIDA.

Teresa Anjinho (CDS-PP) mais valia estar calada, porque só desprestigiou o partido que representa e Portugal. A actividade económica e a questão jurídica estão acima de qualquer valor humano. A VIDA que se lixe.

Paulo Sá (PCP), nem foi carne nem peixe. Estão abertos à reflexão, mas não à proibição. O que resumindo, não é nada. Então para quê reflectir? Mas não admira nada, com os antecedentes de tortura deste partido. O que mudou desde Staline?

Heloísa Apolónia (PEV) entende que a tauromaquia é CULTURA, mas é coisa que pode mudar. O que é importante é conhecer a violência no espectáculo... Como se toda a gente já não soubesse que a tourada é um dos espectáculos com maior VIOLÊNCIA. Mais valia estar calada.

Catarina Martins (BE) mostrou-se claramente contra a Tourada. Foi o único partido que o fez. Estão ao lado dos peticionários, e a Tourada é algo que deve acabar. Sim. Vamos à luta. É uma exigência ética.

Para ouvir as suas palavras o BE disponibilizou este vídeo na Internet:


Depois de ouvir o que ouvi, fiquei cheia de VERGONHA. Exceptuando o Bloco de Esquerda, que se abeirou do bom senso, os restantes partidos demonstraram uma mediocridade cultural estarrecedora.

Em nenhuma intervenção (à excepção do BE) se discutiu o SOFRIMENTO DOS ANIMAIS, que para os nossos deputados não deve ter qualquer importância, o que demonstra uma falta de sensibilidade atroz.

Vinte minutos de pobreza mental. Como podemos estar entregues a gente tão inculta, tão insensível, tão ignorante?

Ignorantes, sim. Nada sabem de Biologia, de Ética, de Antropologia, de Anatomia, de Sofrimento. E dizem-se doutores, frequentaram universidades. São os “senhores deputados”. Mas optaram por ser CARRASCOS. Em vez de defenderem o que é prestigiante para Portugal, defenderam o que o coloca no charco.

Não tiveram a CORAGEM CÍVICA de defender os valores da Cultura Culta, mas tão só os seus próprios gostos e interesses pessoais.

Eu tenho de dizer francamente: pensava que o meu País estivesse em mãos de gente lúcida e com exigências éticas. Gente culta e iluminada. Mas ENGANEI-ME redondamente.

Venceu a MEDIOCRIDADE.

Para finalizar, não resisto a transcrever o que disse o Professor Paulo Borges (do PAN – Partido dos Animais e da Natureza), acerca do que ontem se passou na Assembleia da República, e que subscrevo inteiramente:

«Os deputados eleitos pelos portugueses manifestaram-se hoje (ontem) maioritariamente a favor da continuação das touradas em Portugal e mesmo os que assumiram ser contra nada fizeram de concreto para avançar com um projecto-lei contra elas. Os que falaram de cultura e liberdade do homem omitiram a escravidão e o sofrimento de um animal como nós, inteligente e senciente. Com isto mostraram ser coniventes com o crime moral de torturar animais inocentes para gozo e embrutecimento de uma minoria humana e mostraram ser completamente indiferentes à ética, à ciência, ao progresso da civilização e ao desprestígio internacional de Portugal. Os portugueses que tirem as devidas conclusões acerca de quem os representa. Eu já tirei as minhas há muito tempo.»

E eu também.

Portugal está na cauda da Europa. E continuará na cauda da Europa com estes deputados, mentalmente cegos, que ainda não saíram da Idade Média, a (des)governá-lo.

A TOURADA cairá em Portugal, como está a cair nos restantes oito países. É uma questão de tempo (pouco). Isto é um dado adquirido. Queiram ou não os deputados da Nação. Ou pretendem ficar “orgulhosamente sós” na sua mediocridade, enquanto o mundo evolui?

Ontem venceu a IGNORÂNCIA.

Em breve vencerá a LUCIDEZ.


Obrigada, Isabel Ferreira.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

JFK - mataram-no a seguir

Absolutamente de acordo com Tiago Mesquita quando, hoje, no seu blogue (do EXPRESSO), diz:.

"Foram precisos vários tiros de espingarda para calar este senhor. A verdade é que ele mexeu com quase tudo o que estava instituído. Pior, mexeu com tudo aquilo que não se vê, com o negro, com o sórdido. E remexeu de tal forma nos poderes instalados, ocultos e nebulosos que ainda hoje se desconhece quem esteve por detrás do seu assassinato. Os cubanos, a mafia, os russos, a própria CIA, banqueiros e grandes fortunas no estrangeiro que ele insistia em querer taxar, todos juntos, enfim.
Há versões de todo o género e para todos os gostos.
Nunca se vai saber. Foi feito para ser assim, um segredo que estava destinado a morrer com ele.
Agora o fascinante, verdadeiramente arrepiante, é ouvir este discurso e perceber que este senhor continua a ser um dos políticos que maior visão, coragem, e que estranhamente, ou não, mantém um discurso actual que na altura lhe foi fatal.

Tudo o que ele disse na altura é verdade e aplica-se aos dias de hoje.

Foi o seu último discurso. E que discurso! Depois, mataram-no.

Já não há políticos assim. Infelizmente."

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Canção para regressar

Gosto muito deste trabalho de Pedro Barroso! Grande compositor, poeta e cantor.

Celebremos as diferenças

Dos melhores trabalhos que já vi sobre a necessidade, a urgência e a importância de nos respeitarmos TODOS, apesar das diferenças que possam existir entre nós.
No texto principal que orgulhosamente publico, de um blogue que sigo, poderão confirmar tudo isto e verificar a categoria do mesmo e a EXCELENTE MENSAGEM QUE CONTÉM, sobretudo para os dias de HOJE.

Acabemos com os estereótipos, com a segregação, o racismo, o bullying... 

Celebremos as diferenças!

"I´M HUMAN!"

Para saber mais:

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Se os povos da Europa não se levantarem

  
 
<>Se os povos da Europa não se levantarem, os bancos trarão o fascismo de volta. <><>
No momento em que a Grécia é colocada sob a tutela da Troika, que o Estado reprime as manifestações para tranquilizar os mercados e que a Europa prossegue nos salvamentos financeiros, o compositor Mikis Theodorakis apela aos gregos a combater e alerta os povos da Europa para que, ao ritmo a que as coisas vão, os bancos voltarão a implantar o fascismo no continente. 
 
Entrevistado durante um programa político popular na Grécia, Theodorakis advertiu que, se a Grécia se submeter às exigências dos chamados "parceiros europeus" será " o nosso fim quer como povo quer como nação". Acusou o governo de ser apenas uma "formiga" diante desses "parceiros", enquanto o povo o considera "brutal e ofensivo". Se esta política continuar, "não poderemos sobreviver … a única solução é levantarmo-nos e combatermos”.
Resistente desde a primeira hora contra a ocupação nazi e fascista, combatente republicano desde a guerra civil e torturado durante o regime dos coronéis, Theodorakis também enviou uma carta aberta aos povos da Europa , publicada em numerosos jornais… gregos. Excertos:
"O nosso combate não é apenas o da Grécia, mas aspira a uma Europa livre, independente e democrática. Não acreditem nos vossos governos quando eles alegam que o vosso dinheiro serve para ajudar a Grécia. (…) Os programas de "salvamento da Grécia" apenas ajudam os bancos estrangeiros, precisamente aqueles que, por intermédio dos políticos e dos governos a seu soldo, impuseram o modelo político que conduziu à actual crise. Não há outra solução senão substituir o actual modelo económico europeu, concebido para gerar dívidas, e voltar a uma política de estímulo da procura e do desenvolvimento, a um proteccionismo dotado de um controlo drástico das Finanças. Se os Estados não se impuserem aos mercados, estes acabarão por engoli-los, juntamente com a democracia e todas as conquistas da civilização europeia. A democracia nasceu em Atenas, quando Sólon anulou as dívidas dos pobres para com os ricos. Não podemos autorizar hoje os bancos a destruir a democracia europeia, a extorquir as somas gigantescas que eles próprios geraram sob a forma de dívidas.   Não vos pedimos para apoiar a nossa luta por solidariedade, nem porque o nosso território foi o berço de Platão e de Aristóteles, de Péricles e de Protágoras, dos conceitos de democracia, de liberdade e da Europa. (…) Pedimos-vos que o façam no vosso próprio interesse. Se autorizarem hoje o sacrifício das sociedades grega, irlandesa, portuguesa e espanhola no altar da dívida e dos bancos, em breve chegará a vossa vez. Não podeis prosperar no meio das ruínas das sociedades europeias. Quanto a nós, acordámos tarde mas acordámos. Construamos juntos uma Europa nova, uma Europa democrática, próspera, pacífica, digna da sua história, das suas lutas e do seu espírito. Resistamos ao totalitarismo dos mercados que ameaça desmantelar a Europa transformando-a em Terceiro Mundo, que vira os povos europeus uns contra os outros, que destrói o nosso continente, provocando o regresso do fascismo".

sábado, 14 de janeiro de 2012

Wang Yue - a indiferença da China


Wang Yue no hospital em 16 de outubro (Foto: AFP)

Quando soube deste caso, dia 20 de Outubro de 2011, fiquei horrorizada. Aliás, fico horrorizada com a falta de solidariedade, seja onde for ou com quer for, trate-se de pessoas e de animais.

Neste caso, que correu mundo, ainda mais doloroso foi ver as imagens do sucedido: neste caso, ninguém ia ter com a criança, caída no chão, ABANDONADA, A MORRER... todos passavam e iam à sua vida, serenamente, como se nada de horroroso se tivesse passado, como se nada, ali, merecesse uma pequena paragem que fosse para se inteirarem do sucedido! Nada! Nem o corpinho da criança caída e inerte lhes movia a curiosidade!

Gente que assim faz gente não é!

Desprovidos de sensibilidade e de humanidade, autómatos ao serviço de um ideário político e económico que vítimas faz e continuará a fazer em nome da supremacia económica e da consolidação de um papel cimeiro no comércio à escala mundial, a qualquer preço, tão pretendido e para o qual tudo vale e tem valido a pena, até a desumanização dos cidadãos, servem o partido e os líderes partidários que endeusam de forma cega e bajuladora, perfeitamente esventrados de uma intervenção cívica e democrática que lhes tem sido negada ao longo de décadas e décadas de um perfeito centralismo político na governação que a medo os tem e a medo os controla.

Esta gente (nem todos, claro!) nem da sua História tem retirado ensinamentos! Parou no tempo! Continua parada no tempo em matéria de Direitos Humanos e, Tianamen, afinal, não foi assim há tantos anos!

De que vale o PODER, a FAMA, o DINHEIRO, se deixamos que isto aconteça?

Nada deveria sobrepôr-se ao interesse do indívíduo, da pessoa. Nem o Estado.

Nada justifica isto, muito menos governantes e políticas que ao serviço do povo, verdadeiramente não estão.

Este trágico acontecimento que correu mundo, “trouxe a lume” a falta de valores morais na China. Morais e não só, se olharmos para a História deste país e para a forma como sempre fez o enquadramento das massas, a doutrinação da juventude e o controlo ideológico das famílias, subordinando-as sempre a um Estado e a um Partido omnipotente e omnipresente, totalitário e capaz das maiores injustiças e arbitrariedades em matéria social.

De facto, quando os jovens passam a ter como prioritário ficar ricos e fazem do seguidismo a sua Filosofia , tudo passa a ser considerado secundário, sobretudo os valores - o altruísmo, a solidariedade social, a cidadania…Tudo passa a ser esquecido, até as infâmias de um regime que com prepotência e recorrendo sistematicamente à delação e ao medo, à repressão e à censura, se tem mantido no poder, com intervenções diplomáticas que meras operações de cosmética têm sido nas suas relações internacionais cínicas e prepotentes, que a todos têm cativado em nome de um capitalismo que nos condenou e condena a esta subserviência dos horrores, perpetrada pelos governos “do ocidente” e que, em nome da economia e por causa dos erros dessa sua economia, servem quem nunca deveriam servir e se vendem a qualquer preço.

Incrível, estranhíssima, a resposta de responsáveis da província de Guangdong, quando decidiram lançar um debate desencadeado por este trágico acontecimento, um debate sobre a necessidade de se adotar uma legislação que permita a assistência obrigatória a quem precise, incluindo sanções para aqueles que não prestem ajuda às pessoas vítimas de acidentes!  

Incrível! Como se fosse necessário legislar sobre a sua (a nossa) obrigação de ajudar quem na rua está, a esvair-se em sangue, pisada uma e mais vezes por carros e pessoas.

Sim, o olhar também mata, como se costuma dizer, e aqui também matou, mas a indiferença, essa,  foi o golpe de misericórdia.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Descobertas, encontros, desencontros




Os Descobrimentos marítimos nos séculos XV e XVI, quer dos portugueses quer dos espanhóis, permitiram o encontro do outro, nem sempre fácil, nem sempre pacífico.
 
Um encontro olhado com a desconfiança de quem não conhece mas com o espanto de quem nada assim vira.
 
Foi um encontro confronto, como um dia vos disse, parte a parte, feito de preconceitos, de racismo, de prepotência, de discriminações quanto às minorias e etnias…mas também de deslumbramento e receio. Um encontro que levou à escravização do outro e à sua morte, à morte de 20 milhões de seres humanos, sobretudo na altura em que se tornava mais agressivo o tráfico de seres humanos – o tráfico negreiro-, o exemplo mais triste e mais sombrio do desrespeito pelos direitos humanos.
 
De facto, o negro era a peça, era o homem-objecto. Sem protecção jurídica, como uma mercadoria que, apesar de valiosa, era tratada ao mais baixo nível daquilo a que poderíamos chamar desumanidade.
 
Vozes se levantaram contra tal, caso dos frades Francisco Vitória e António de Montesinos, Bartolomeu de Las Casas e o nosso Padre António Vieira, cujos intervenções  apelam ao respeito pelo homem, mesmo o escravo, considerando os horrores em que viviam e a forma como eram explorados.
 
Com o Humanismo, nos séculos XV e XVI, veiculando a perspectiva antropocêntrica, olha-se para o Homem como o centro do Universo, o centro da Humanidade. E começa a fazer-se luz sobre esta nova forma de olhar a vida, a sociedade, buscando a harmonia e o equilíbrio em tudo o que, de alguma forma, faz emergir os valores mais nobres desse Homem, como a ética social, a procura do Bem comum, a procura do Bem para todos, a felicidade e a procura do bem-estar, o combate às causas que provocam o sofrimento e dor e as razões e princípios que nos devem levar a condenar todo e qualquer obstáculo à plena realização do Homem como ser superior.
  
Na realidade, para  reconhecermos a importância do  Bem comum temos que reconhecer a Pessoa. A Justiça. A Moral.
 
Mas o século XVI também trouxe a loucura das perseguições religiosas…das perseguições movidas pelo espírito e Tribunal da Inquisição e do Índex,  particularmente contra  os protestantes e contra aqueles que apelidavam de heréticos.
 
Ninguém escapou ao olhar terrível da Inquisição. No entanto, não podemos deixar de recordar que um Lutero e um Calvino, por exemplo, já condenavam a forma como desumanamente se eliminavam e calavam os que pretendiam a liberdade de culto no seu tempo. E a forma corrupta e opressora como se arquitectava a sociedade de então, no mais completo desrespeito por aquela que era (é) a grande mensagem de Jesus Cristo “são todos iguais aos olhos de meu Pai”!
 
Até os homens de ciência foram perseguidos. Livreiros, intelectuais, professores… caso de Gil Vicente, Damião de Góis…
 
Utilizavam a tortura e faziam-se condenações à morte baseadas em  denúncias a maior parte das vezes anónimas! Sem julgamento justo! Sem direito à inocência! Sem direito à defesa! Como alguém disse, “a suspeição era o princípio do fim”.
 
Os condenados não chegavam a saber por que é que os acusavam e, se mostrassem arrependimento, prisioneiros  ficavam.
 
Em Portugal, século XVI, os judeus sofreram horrores com isto: os mais elementares direitos eram-lhes retirados por causa de professarem a sua religião. Inclusive o direito à vida. A circularem livremente sem que alguém os espiasse e condenasse arbitrariamente.
 
Documentos históricos datados de Abril de 1506, falam de um trágico acontecimento em Lisboa, motivado por uma  afirmação que um deles fizera, durante uma missa, de que a luz que um crucifixo reflectia não era de origem divina! Foi morto de imediato e, nesse dia, por causa disso, mataram-se quase 2000 cristãos-novos!…
 
Vivia-se a medo!
 
Chega o século XVIII, o século das revoluções, como diz Hobsbawn e, com ele, aqueles valores tão queridos ao pensamento francês que haveriam de frutificar em 1789: os valores da tolerância, da razão e da dessacralização dos valores éticos.
 
Era urgente romper a muralha do “Antigo Regime” com tudo o que isso significava em matéria de Humanidade e respeito pelo outro, pelo outro indefeso, sem quaisquer direitos. A não ser o direito do dever à obediência criado fundamentado pela “lei do mais forte”!
 
O Movimento das Luzes, nascido em terras protestantes (caso da Grã-Bretanha e Alemanha), e animado pela sua vertente crítica e de forte apelo à razão e tomada de consciência, proclamam a Liberdade, o Progresso e o Homem, temas que  influenciaram, inclusivé, o pensamento filosófico de pensadores como Locke.
  
Montesquieu, Voltaire, Rousseau e Diderot são  a força das ideias que irrompem  nesse século XVIII fantástico, de mudança e ruptura, agindo de imediato como modificadores quer da estrutura político-económica quer da sociológica.
 
Vão ser, particularmente estes homens, os grandes orientadores do caminho a seguir…
  
Um novo período da História começa com aquela que é considerada o paradigma das revoluções: a Revolução Francesa de 1789.
 
Uma revolução considerada ideologicamente burguesa, é certo, tendo em conta o seu envolvimento intelectual mas, segundo historiadores, o pensamento político não o é, pois, tendo sido influenciado por Rousseau, e sendo este o grande lutador contra a desigualdade e justamente considerado o grande defensor dos direitos naturais do Homem, caso da liberdade e igualdade perante a lei, arrasta desde logo consigo todo um povo oprimido pela minoria reinante e pela terrível hierarquização social e diferenciação social fundamentada, entre outras, na condição de nascimento.
  
Na sua obra “Discurso sobre a origem da desigualdade” (cerca de 1755), desenvolve a teoria do bom selvagem, acusando a civilização de corromper o Homem.
  
Refere, no seu “Contrato Social” de 1762 que, “se indagarmos em que consiste precisamente o maior bem de todos, que deve ser o fim de todo o sistema da legislação, achar-se-á que se reduz a dois objectos principais: a liberdade e a igualdade”.
  
Nada justifica que um homem ou alguns homens mandem mais do que outros. Por isso é que o poder político, para se legitimar, precisa do consenso entre governados e governante, manifestando-se este poder sob a forma de um “contrato social”, através do qual o povo “delega a soberania no soberano mas com a condição de a exercer no interesse dos governados”.
 
A resistência ao poder opressor é um direito dos súbditos e resulta do reconhecimento da sua liberdade.
  
É interessante não esquecermos que a Revolução Americana e a grande contestação dos colonos ingleses sobretudo por volta de 1763,  foi fortemente influenciada por estas ideias político-filosóficas e não teve, somente, as  motivações económicas desses colonos ingleses! Recorde-se que muitos dos que lutaram a seu lado  eram militares e intelectuais franceses, logo, agentes de mudança!
 
E isso compreende-se melhor quando lemos a sua primeira Declaração dos Direitos que, em 1776, proclama “que todos os homens nascem  iguais, que o seu Criador os dotou de certos direitos inalienáveis, que para garantir esses direitos os homens instituem entre si governos cujo justo poder emana do consentimento dos governados (…)” e mais tarde da Constituição.
  
Vai instituir o primeiro regime democrático.
  
A Revolução Americana é a primeira a trazer a mudança e a sua influência está na origem de muitas outras revoluções, como a Francesa, em 1789.
  
Neste ano, 1789, a França redige a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
  
Este documento, ainda hoje nos deixa impressionados, quer pelo seu sentido revolucionário quer pelo seu sentido humanista.
  
Influenciou a Declaração Universal dos Direitos Humanos adoptada pela ONU em 1948, e a  redacção  da Carta da Nações Unidas, tão importantes para o diálogo e paz entre as nações, tão importante  para a defesa dos direitos humanos no Mundo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Aristides de Sousa Mendes



Os homens são do tamanho dos valores que defendem. Aristides de Sousa Mendes foi, talvez por isso, um dos poucos heróis nacionais do século XX e o maior símbolo português saído da II Guerra Mundial. Em 1940, quando era cônsul em Bordéus, protagonizou a "desobediência justa". Não acatou a proibição de Salazar de se passarem vistos a refugiados: transgrediu e passou 30 mil, sobretudo a judeus. Foi demitido compulsivamente. A sua vida estilhaçou-se por completo. "É o herói vulgar. Não estava preso a causas. Estava preso a uma questão fundamental: a sua consciência", afirma o jornalista Ferreira Fernandes.
Aristides de Sousa Mendes foi o "Schindler português" muito antes de o alemão começar a sua actividade humanitária em prol dos judeus. Atendendo à verdade histórica, Oskar Schindler é que foi o Aristides alemão.
De uma coisa ninguém tem dúvidas: Aristides de Sousa Mendes é um dos maiores símbolos nacionais da II Guerra Mundial. Foi o homem como metáfora do humanismo. Em 1940, Aristides era cônsul de Portugal em Bordéus e, indo contra uma directiva expressa de Salazar para não se concederem vistos a refugiados que quisessem atravessar a França para chegar a Portugal, desobedeceu e passou 30 mil vistos. "Na vida de cada pessoa há uma ou outra oportunidade para se revelar, para mostrar aquilo em que acredita e levar isso até às últimas consequências", diz D. Manuel Clemente, bispo auxiliar de Lisboa. "Ele revelou um sentido de rasgo, um sentido de risco."
No século XX português não há outra figura que tenha mudado tanto - objectiva e materialmente - a vida de milhares pessoas. "Ele representa a desobediência justa", refere António Costa Pinto, historiador e professor do Instituto de Ciências Sociais. "É o exemplo de solidariedade. A sua figura é muito associada ao humanismo do século XX."
No momento crucial da vida na Europa e no mundo, Aristides de Sousa Mendes foi capaz de distinguir o essencial do acessório. "Percebeu que não poderia ficar indiferente à sorte de milhares de pessoas que foram aparecendo no Consulado de Portugal em Bordéus", diz José de Sousa Mendes, sobrinho de Aristides.
Nascido numa abastada família de antigos fidalgos de província, de Cabanas de Viriato, perto de Viseu, Aristides e o irmão gémeo cursam Direito em Coimbra e seguem a carreira diplomática. Perseguido pelo regime sidonista e I República em geral, após o golpe de 28 de Maio de 1926 é colocado em Vigo, num posto prestigiante e de confiança. A seguir é transferido para Antuérpia, outro posto de confiança, onde ficará nove anos. Com 50 anos é o decano do corpo diplomático.
Em 1938, após Salazar recusar o seu pedido para permanecer na Bélgica, é colocado em Bordéus. Em 1939, com o rebentar da II Guerra Mundial e, em 1940, devido à invasão da França pelas tropas alemãs, milhares de refugiados fogem para sul. Os jardins do Consulado e as ruas vizinhas servem de local de acampamento a milhares de pessoas, das mais variadas nacionalidades, sobretudo judeus, que fogem da perseguição nazi, mas também gente que foge somente da guerra.
Com a proibição de Salazar - que além de presidente do Conselho de Ministros era ministro dos Negócios Estrangeiros - de se passarem vistos a refugiados, sobretudo a "israelitas", Aristides de Sousa Mendes segue a sua formação humanista e católica e desobedece. Passa (com dois dos seus filhos mais velhos) milhares e milhares de vistos àqueles fugitivos, entre os dias 17 e 19 de Junho de 1940. Terão sido passados cerca de 30 mil, nesses escassos dias. "Concede vistos sem olhar a nacionalidades, etnias ou religiões. Graças a ele, Portugal ficou na história como um país que apoiou os refugiados durante a II Guerra Mundial", lembra a historiadora Irene Pimentel. "Aristides marca de forma indelével a história de Portugal porque permitiu reconciliar-nos com a nossa dignidade. Mais do que qualquer outra pessoa da sua época, dignificou o que era ser-se humano e ser-se português", diz Fernando Nobre, presidente da Fundação AMI.
O mais atraente na história de Aristides de Sousa Mendes é ele ser uma espécie de herói vulgar, que está preso "apenas" à sua consciência. Quando se deu a ocupação do Consulado, fechou-se num quarto para reflectir o que deveria fazer. Numa alucinante inquietação, ficou apenas ele e o seu dilema: respeitaria as ordens superiores - o que, aliás, havia feito toda a vida - ou responderia à sua consciência? "Aristides de Sousa Mendes era um homem vulgar, um funcionário ordeiro, com mais de 50 anos e 12 filhos, que nunca se tinha oposto ao regime ditatorial existente em Portugal", conta o jornalista Ferreira Fernandes. "Mas naquela hora respondeu à sua consciência. E isso foi extraordinário."
Continuando a desobedecer às ordens superiores, provou que não tinha vocação de capacho. Pela inacção dos colegas de Bayonne e de Hendaye, desloca-se a estas cidades nos dias seguintes e ele próprio emite mais alguns milhares de vistos. "Segue a sua consciência humanista universal", refere Medeiros Ferreira, historiador e professor universitário. "Opta nitidamente pela desobediência civil. Opta por salvar aquelas milhares de pessoas que estavam nas escadarias do Consulado à espera de um visto salvador."
As perspectivas dos seus actos não se limitavam a ser sombrias. Excediam em perigo mais do que a imaginação humana pudesse conceber. "Fez tudo o que estava ao seu alcance, mesmo que isso lhe custasse a carreira, a vida e o bem-estar da sua família", conta José de Sousa Mendes. No dia 24 de Junho recebe um telegrama de Salazar ordenando-lhe o regresso imediato a Lisboa. "Enfrentou a ira de Salazar, que não podia permitir que um diplomata desobedecesse às suas ordens", relata Irene Pimentel. Após 32 anos de serviço, Aristides de Sousa Mendes (com uma família de 12 filhos) é demitido compulsivamente sem direito a qualquer reforma ou indemnização. Além disto, é interditado de exercer advocacia e os filhos de frequentarem a universidade. O irmão também é demitido do serviço diplomático. A sua vida estilhaça-se por completo: desmorona-se em prol de um ideal. "Mas quem atinge assim o pico, atinge a glória", afirma D. Manuel Clemente.
Há uma grande presença de Deus na sua vida. O cônsul coloca o seu catolicismo acima de tudo. "Viveu a vida como responsabilidade, a vida como encargo, a vida como compaixão. Actuou de maneira exemplar na história portuguesa e da Humanidade", resume D. Manuel Clemente. Foi um homem conservador, que se adaptara ao regime do Estado Novo, e que levou o seu cristianismo até às últimas consequências.
Alberga no seu palácio de Cabanas de Viriato muitas famílias de refugiados, hipotecando para o efeito todo o recheio. Já na miséria, é auxiliado pela Comunidade Israelita de Lisboa a partir de 1941, sendo muitos dos seus filhos chamados por aqueles que haviam sido salvos, sobretudo a partir dos Estados Unidos e do Canadá. "Aquilo que mais admiro foi a capacidade de ter aguentado a vida nos quase 14 anos que se seguiram àquele acontecimento", sublinha José de Sousa Mendes. "O seu mundo desabou totalmente."
Em 1945, terminada a Guerra, tendo feito uma exposição para tentativa de reapreciação do seu processo, não recebe resposta. A situação de miséria agrava-se. Em 3 de Abril de 1954 morre, no Hospital da Ordem Terceira, em Lisboa, desonrado e sozinho (os filhos já tinham todos emigrado para a América), acompanhado apenas por uma sobrinha.
Ainda hoje a figura de Aristides de Sousa Mendes é controversa. "A nível da diplomacia, há quem diga que o dever de obediência deveria estar acima da sua atitude humanitária", conta Irene Pimentel. "Eu acho que não. É precisamente nestas alturas que se vê a postura dos seres humanos." Pormenor importante: por incrível que pareça, Aristides de Sousa Mendes só foi reabilitado nos anos 80 do século XX - e muito por pressão exterior. Foi primeiro elogiado nos Estados Unidos e em Israel. É considerado o justo entre os justos.
"Em 1987, reencontrei um dos filhos dele que emigrou para o Canadá, numa homenagem a Aristides, na Alameda dos Justos, em Jerusalém, onde há uma árvore dedicada a cada um dos justos que ajudou os judeus durante a guerra. Fomos convidados para regar essa árvore", conta, emocionado, José de Sousa Mendes. "Aristides não tem um monumento em Portugal. Mais do que um monumento, deveria haver simplesmente uma lei que dissesse: 'A nuvem - aquela coisa efémera -, a nuvem mais bonita em Portugal, todos os dias, deveria chamar-se Aristides de Sousa Mendes'", remata Ferreira Fernandes.