sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

150 anos da definição de célula - a efeméride que ficou por comemorar

Excelente informação! Excelente notícia que partilho! Mais uma vez, muito obrigada, António Piedade!



No ano de 2011 ocorreu uma efeméride que passou totalmente desapercebida quase a todos e à maior parte da comunidade científica: os 150 anos da definição de célula do biólogo alemão Max Schultze (1825 – 1874). O reparo surgiu de uma carta enviada pelo biólogo alemão U. Kutschera (Instituto de Biologia da Universidade de Kassel, Alemanha) ao editor da revista Nature, publicada a 22 de Dezembro de 2011.

Max Schultze é conhecido dos neurocientistas pela sua identificação e caracterização das terminações nervosas associadas aos órgãos sensoriais, e o seu trabalho minucioso sobre as diferentes células componentes da retina é pioneiro.


Dos hematologistas pela sua contribuição definitiva para a identificação das plaquetas sanguíneas. O seu papel enquanto microscopista é incontornável e foi fundador da revista Archiv für mikroskopische Anatomie, em 1865, sendo seu director até ao ano da sua morte.

Contudo, é uma personagem quase esquecida na história da biologia. Uma pesquisa breve na internet permite verificar que Schultze é pioneiro da observação intracelular, anatomista e histologista de excelência, mas a sua contribuição paradigmática para a Teoria Celular é, de facto, pouco referida.

Ao comparar observações microscópicas da composição intracelular (protoplasmática) de tecidos musculares de animais, com as de organismos unicelulares como os protozoários, Schultze entendeu que a definição para célula primeiramente baptizada, em 1665, por Robert Hooke (personagem marcante da revolução científica do século XVII) a partir da palavra latina “cella” (pequena divisão ou quarto de paredes rígidas), estava muito incompleta.



A célula, unidade da vida tal como tinha sido postulado na Teoria Celular de Schwann e Schleiden, em 1839, tinha de ser definida de forma mais completa e…universal. Não podia reduzir-se à sua membrana ou parede exterior, tinha que ganhar outra dimensão com a sua natureza interior. Tinha de incluir os componentes intracelulares observados por Schultze como comuns a células de tecidos animais e a organismos unicelulares. Schultze notou de que havia uma história comum a todas as células, ou melhor, a todos os organismos e que essa história estava inscrita no seio da célula.

O seu trabalho contribuiu, assim e decididamente, para dar novos horizontes para a Teoria Celular. A publicação em 1861 do seu artigo intitulado “On muscle-particles and what we should call a cell” (Archiv für Anatomie, Physiologie und wissenschaftliche Medicin, 1861, 1–27) pode ser considerada a pedra basilar da Biologia e Fisiologia Celular. Neste artigo, Schultze discute as suas observações das “partículas” componentes das células musculares e sobre o que é que pode ser designado ou não por célula.


Apesar de ter caído em esquecimento, Schultze causou à época uma ruptura paradigmática com a sua definição de célula e abriu novos horizontes conceptuais para o entendimento do conceito de célula e, muito mais significativo, o da evolução da célula, o da noção de uma célula ancestral comum a todos os organismos vivos. Este aspecto ganha outra relevância se atentarmos a que “A Origem das Espécies” de Charles Darwin tinha sido publicada cerca de três anos antes, em 1858. Tudo estava em revolução!

Os avanços na instrumentação microscópica não terão sido alheios ao da nova definição. É que a célula é a mesma para Schultze e para Hooke. A tecnologia marca a diferença na capacidade de observação, e logo, no avanço do conhecimento da natureza celular.

Ainda hoje é assim. Aliás, é assim desde que a ciência experimental se tornou moderna pela utilização de instrumentos nas observações científicas. E isto ocorreu, não pela observação do microscópico, mas sim do longínquo com o telescópio, ou melhor, com a luneta de Galileu Galilei, no ido mês de Março de 1610.

António Piedade
Ciência na Imprensa Regional

Grinch


Lembro-me sempre deste filme, sobretudo nesta altura do Natal!
Que mensagem nos transmite! Que banda sonora fabulosa! Que canções!
Quem o viu jamais se esquecerá dele!
E os olhinhos dos nossos filhos, brilhando, brilhando, presos ao écran?
E o nosso sorriso de felicidade por vê-los assim?


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

George Steiner

Fui Il Postino

No passado mês de Outubro, no dia 9, o escritor António Lobo Antunes visitou o crítico de literatura George Steiner, na residência desde, que fica perto de Cambridge. Na longa conversa que tiveram, em francês, publicada na revista Ler deste mês falaram, como talvez não pudesse deixar de ser, da função de professor, que Steiner exerceu com devoção e paixão, como um carteiro que leva uma mensagem a outrem...

 "George Steiner: Sou antes de mais um professor. Foi essa a minha vocação. A minha culpa seria a de ser um mau professor. Sempre tive medo disso. Terei eu o direito de ensinar? Quem mo dá? É um direito enorme, moral, psicológico. Escrevi um livrinho, As lições dos Mestres, em que estudo esse fenómeno. E sempre disse a mim próprio: «Com que direito entras numa sala para dares uma aula?» É isso. É como para si o escrever todos os dias: o ensino foi para mim uma vocação. A própria palavra rabin, rabi, quer dizer «professor», nada mais, nada menos. São homónimas. O rabi é, pura e simplesmente, o senhor que dá as aulas. E isto, não o escolhi, isto escolheu-me, como a literatura o escolheu a si; e isto trouxe-me grande angústias e grandes alegrias. E quando tive de deixar o ensino foi o mais duro golpe da minha vida. Sinto muito a falta dos meus alunos.

António Lobo Antunes: O meu pai era professor e depois, quando teve de se retirar, por alturas da sua reforma, aos 70 anos, tive a impressão de que ele era, ao mesmo tempo, mestre e discípulo de si próprio.

George Steiner: Sim, tentamos. É uma fórmula belíssima. Tentamos. Mas sinto muito a falta da contradição, do bom aluno que diz «não». Falta-me a resistência, a mão que pressiona contra uma resistência viva.

 (...)

George Steiner: Se eu pudesse ensinar de novo, se tivesse os meus alunos nesta sala (...). Acabam de colcar um retrato meu na Universidade de Londres, um retrato que, a meu pedido, ficou com o nome de Il Postino. Conhece o filme acerca de Neruda, Il Postino [O Carteiro de Pablo Neruda]? Define-me em absoluto. Eu sou o postino: trago as cartas dos grandes escritores e é preciso colocá-las nas caixas certas. Nem sempre é fácil. Quando se explica aos novos alunos da Universidade de Londres por que razão existe um quadro deste senhor, eles acham todos que Il Postino é o meu nome. Ao que eu digo: «Não expliquem, deixem-nos pensar assim.» É um grande privilégio, cuja coroação é a vossa presença aqui. É maravilhoso poder levar cartas! Não fui banqueiro, não vendi casacos de peles; de todos os desastres possíveis fui postino. É isto ser professor. O bom professor abre livros aos outros, abre momentos aos outros. E eu tive alunos muitíssimos dotados, o que foi um grande privilégio: saber que eles são mais dotados do que eu.

António Lobo Antunes: Era isso que dizia o meu pai. Nunca compreendi muito bem a sua paixão pelo ensino. Era para ele uma grande paixão (...). Ele realizava-se nas suas aulas na Faculdade de Medicina. Para ele, eram um imenso prazer. E, após a sua reforma, ensinava aos netos. Lembro-me de, quando tinha sete anos, termos viajado de autocarroa té Paris; fomos a Espanha, à França, à Suíça, à Itália, e ainda me lembro do seu discurso de meia hora em frente a um Tintoretto, sobre as perspectivas das estrelas em Tintoretto, em frente a um Rembrandt, e para mim, uma criança, isso foi muito aborrecido.

George Steiner: Mas nunca mais se esqueceu.

António Lobo Antunes: Não.

George Steiner: É isso. Logo, ele era um bom professor."

In Ler, Livros & Leitores, páginas 47 e 52 (Tradução do francês de Joana Jacinto).

Posted by Helena Damião at 14:40   De Rerum Natura

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal

Para todos, votos de um FELIZ NATAL e de um NOVO ANO  com saúde e tranquilidade.

Paz para o Mundo e Harmonia entre todos os povos.


Avaliação de Professores - 2011

As escolas não estão bem.

Continua a não olhar-se para os professores como a 1ª prioridade e continua a avaliação de pares por pares que, irreversivelmente, está a destruir o ambiente entre os docentes.

Até a gestão democrática nas escolas é uma miragem, desde a forma como se constituíram as comissões de avaliação para o desempenho até à continuação de lobbys cada vez mais activos em matéria de tráfico de influências, do conhecimento dos Directores, que nada fazem mas deles sabem e tudo aceitam, desde a feitura de horários até à escolha das turmas que certos professores leccionam, passando até pela escolha dos colegas com os quais querem trabalhar nos Conselhos de Turma, sem falar de alunos que integram essas mesmas turmas!

A situação agravou-se desde a implementação deste modelo de avaliação do desempenho dos professores, sobretudo, com a falta de imparcialidade e impunidade escandalosamente visíveis através dos compadrios instalados ou de situações que, porque sujeitas a pressões e chantagens diversas, vão beneficiar incompetentes, hipócritas e manipuladores.

Muitos e bons profissionais rejeitam cada vez mais este modelo, apesar do medo da estagnação na carreira e outras ameaças ter levado muitos ao pedido de aulas assistidas e ao descalabro que se viu (e vê).

Por outro lado, é cada vez mais notório o protagonismo dado pelas Direcções aos (maus) tecnocratas/burocratas -, preocupadíssimos que estão com a produção de papelada quer para uso interno e administrativo, quer mesmo para os alunos, descurada que tem sido a vertente científica e didáctica do seu trabalho no seu verdadeiro contexto.

Aliás, muitas Direcções não fazem ideia nem querem fazer, do que se passa realmente com os seus professores! Só sabem o que alguns lhes dizem, e de forma claramente tendenciosa, alheando-se de recursos interpostos por encarregados de educação ou pelos próprios colegas, num claro desrespeito pelo direito de resposta e, mais grave, desconsiderando tudo isso quando até em causa está a falta de profissionalismo de certos professores aos quais aceitaram dar “excelente”!

Chegou-se ao cúmulo de haver professores a treinar várias vezes e a repetir aulas dadas no horário normal – para serem as ditas duas aulas assistidas que o seu avaliador iria “classificar”! Avaliadores que muitas vezes trabalhavam à noite e que mal sabiam do trabalho dos seus avaliados…de dia! E andam estes professores a dar lições de moral aos seus alunos!...

Que falta de rigor e de seriedade! Que folclore para Direcções e Comissões de Avaliação do Desempenho! Duas aulas que vão determinar se o professor é Muito Bom ou Excelente!

E o resto? E o que se sabe até aí e se fingiu não saber até ao momento de avaliar?

Continuam todos estes jogos de bastidores nas escolas e estas monstruosidades, como por exemplo, professores que nunca nada de seu produziram ou de qualidade fizeram, mas que, graças à sua esperteza, facilmente iludiram os seus ingénuos avaliadores, e até os intimidaram, no sentido de terem classificações que jamais mereceriam mas que obstinadamente reivindicaram, recorrendo sistematicamente aos vazios legais que, infelizmente, na maior parte das vezes, beneficiam quem não devem, à custa de advogados feitos à sua medida.

Para se ser EXCELENTE já não interessa que se seja uma referência científica e pedagógica! Basta que, como aconteceu neste último biénio,  tenha tido uma imagem, embora falsa, de porreiraço, tenha feito umas coisitas que publicitou até à exaustão em cartazes que inundaram as salas de professores, mas que, na realidade, pouco ou nenhum interesse tiveram para os alunos e escola, sobretudo aos alunos, exaustivamente bombardeados por actividades que pela primeira vez viram aos ditos e dos quais nunca nada de interesse lhes vislumbraram, a não ser aulas rotineiras e os mesmos materiais de avaliação repetidos de ano para ano ou de escola para escola, tal a mediania e mediocridade do seu desempenho e a pouca motivação que criaram e continuarão a criar, com conhecimento dos seus encarregados de educação que, até por isso, reclamaram junto das Direcções.  

Avaliados houve, também, que não o foram na componente científica e/ou que o foram por colegas de grupos disciplinares diferentes. Avaliados que tiveram como avaliadores colegas que pouco ou nada fizeram se comparados com os que avaliaram... Avaliados com avaliadores que competiram entre si as classificações ou que, de certa maneira, sofreram ajustes de contas… Avaliados que em matéria de dedicação à escola e ao trabalho com os alunos em nada se compara com o dos seus avaliadores, estes últimos, agarrados a cargos para os quais foram propostos ou nomeados pelas Direcções, cargos que muitas vezes lhes dão a visibilidade que, de outra forma não alcançariam. 

Muitos professores foram avaliados com "excelente" por um trabalho que a escola nunca viu ou viu MUITO POUCO, grande parte dele "virtual" e baseado em cópias de colegas de outras escolas, ou até, como se veio a   saber, de trabalhos NUNCA feitos ou aplicados nas aulas!

Que falta de ética profissional!

Há maus professores a serem avaliados com Muito Bom ou Excelente  porque, simplesmente, deram com avaliadores, comissões de avaliação e Directores pouco exigentes e pouco profissionais, a fazerem de conta que nada sabiam de certos professores medíocres que nunca nada de bom fizeram, nem pela escola nem pelos alunos nem pela comunidade. E isto foi e continua a ser uma enorme desconsideração para com os verdadeiros e bons profissionais e até com os alunos e encarregados de educação que "abrem a boca de espanto" perante casos que vêm mais tarde a conhecer.

 Avaliadores, pese embora o esforço e honestidade de alguns, que na sua maioria só conheceram dos seus avaliados aquilo que eles lhes quiseram mostrar "de bom", ofuscados com a ideia de uma "liderança" ou "superioridade pedagógica" que o cargo lhes parece dar, entusiasmados com aquela sensação de "poder" que está a corromper não só as escolas como as empresas públicas, o Parlamento e  os Tribunais.

Chega-se ao cúmulo de um Director aceitar a proposta de “Excelente” para um professor ao qual aplicou um processo disciplinar!  

É justo olhar para um  professor  e fingir que foi bom professor quando na realidade nunca o foi, quer na preparação das aulas, na condução das mesmas, na elaboração de testes de avaliação, na definição de estratégias e até na hipocrisia com que pensou e levou à prática as ditas duas aulas assistidas?

Que pena os alunos e os encarregados de educação não serem chamados a intervir na avaliação de certos "excelentes"!

Muitas escolas actuais parecem escolas do fascismo e a autonomia só tem interessado para algumas coisas, sobretudo, para as Direcções escolherem/proporem quem da sua confiança fica à frente dos cargos, afectando desde logo com parcialidade e favoritismo os apoiantes que recrutam habilmente para as diversas comissões e cargos.  

E tudo continuará a piorar se  os pares continuarem a ser avaliados por pares, seja com que modalidade for, e isto sem falar dos professores-directores que há anos e anos não dão uma aula ou entram numa sala de aula, bem como, certos dirigentes sindicais!

 Pior ainda, julgam estar a ser justos nas decisões que tomam e vitimizam-se com o trabalho de gabinete, como se a realidade do trabalho em sala de aula fosse “o paraíso na terra”!  

A sociedade continua a ver muito mal a classe docente. Não admira!

Onde está a seriedade num processo que está a gerar tamanhas monstruosidades?  

Degradaram-se as relações humanas, pessoais e profissionais nas escolas e já não se consegue fingir que se está bem com tanta prepotência, incompetência e injustiça.

Já não se reconhece o trabalho dos que sempre se deram às suas escolas e aos seus alunos, DESDE A PRIMEIRA HORA, com brio e com satisfação.  

No terreno, claro!



Maria Nazaré Oliveira

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Vaclav Havel e a inesgotável paixão pela liberdade


Agora, que Vaclav Havel, o herói da "revolução de veludo", morreu, celebremos a paixão inesgotável da sua vida - a liberdade1. "Eu estava aqui, no centro de Praga, quando ele foi eleito Presidente a primeira vez. Graças a Vaclav Havel, a minha vida mudou, pude estudar o que queria, viajei, escolhi os meus representantes e exprimi publicamente as minhas opiniões". Esta afirmação foi proferida no domingo à noite por um cidadão checo de 43 anos de idade. Não é possível melhor epitáfio.

Agora, que Vaclav Havel, o herói contemporâneo da "revolução de veludo", morreu, celebremos a paixão inesgotável da sua vida - a liberdade. Antes do Presidente houve o dissidente e, no princípio de tudo, havia um jovem dramaturgo seguidor de Kafka e influenciado por Beckett e Ionesco que inscrevia os seus trabalhos literários na tradição do teatro do absurdo. Havel começou por ser um grande criador da linguagem, e isso viria a ter a maior importância na sua trajectória cívica e política. Oriundo das classes abastadas da capital checoslovaca, e só por isso imediatamente perseguido pelos apparatchik comunistas, esses fanáticos da mediocridade enaltecida como consumação de um igualitarismo infantil, ele rapidamente se impôs, nos meios intelectuais do seu país, pelo poder corrosivo da sua obra dramática. O seu génio aplicava-se à desmistificação de um sistema totalitário fundado na permanente perversão das palavras. Se é verdade que todas as ditaduras recorrem à subversão da linguagem, essa forma especialmente repulsiva do cinismo político, não é menos certo que os regimes comunistas levaram tal procedimento até aos limites do impensável. Nas suas peças teatrais, Havel denunciava esse mundo opressivo e burocrático em que as palavras tinham perdido todo o significado e qualquer relação com a realidade. A contundência da crítica foi percebida pelas autoridades comunistas que reagiram com violência, reprimindo ferozmente aquele que passaram a considerar como "perigoso elemento anti-socialista". Proibiram-no de levar a cabo qualquer actividade artística, perseguiram-no e prenderam-no. Na sua imensa boçalidade, transformaram o intelectual crítico num herói cívico.

O dramaturgo assumiu corajosamente o papel do dissidente. Os tanques de guerra soviéticos que ocuparam as ruas de Praga nessa já distante Primavera de Praga esmagaram pela força a esperança nascente de uma via alternativa e não autoritária de edificação de uma sociedade socialista, mas não destruíram a vontade daqueles que entenderam que cada pessoa podia opor uma forte resistência moral ao sistema autocrático e que da associação de múltiplos actos de insubmissão individual poderia resultar uma grande mudança colectiva. Havel foi um desses homens corajosos que não desistiram. A sua actuação oposicionista intensificou-se. Publicou, com outros resistentes, a famosa carta 77, documento de grande significado histórico no processo de contestação às tiranias do Leste Europeu. Nenhum silêncio autoritariamente imposto asfixiou a sua rebeldia. Na sua luta pela liberdade nunca tergiversou, jamais cedeu. Pouco a pouco, a sua dimensão moral foi-se afirmando como uma referência política fundamental e, não por acaso, na sequência dos acontecimentos revolucionários de 1989, foi consensualmente escolhido para assumir a Presidência da República, na hora do reencontro do seu país com a democracia e com a liberdade. Era o tempo em que multidões delirantes, constituídas sobretudo por jovens, invadiam as ruas geladas de Praga gritando "Havel para o Castelo", em alusão à residência oficial do Presidente da República. Vem aliás a propósito lembrar que nessa altura alguns jovens portugueses imbuídos de um espírito generoso deslocaram-se a Praga na intenção de exprimirem o seu apoio aos estudantes em luta e aí conheceram, em circunstâncias singulares, numa cave onde funcionava um clube de jazz, o próprio Havel, que os recebeu com grande entusiasmo. Recordo-me ainda hoje da emoção com que o meu amigo Álvaro Beleza se referia a esse momento único.

Aclamado pelo seu povo, este intelectual cujo compromisso cívico resultava quase exclusivamente do seu amor pela liberdade, ascendia ao exercício de um poder que verdadeiramente nunca procurou. Como se ele próprio se transformasse numa personagem do teatro do absurdo. Entre a cadeia e o Castelo, o percurso de Havel é a história de uma inteligência intransigente, culta e profundamente livre.

Como Presidente, primeiro da Checoslováquia e depois da República Checa, acabou por seguir o trajecto inevitável dos homens políticos - fez opções, emergiu a via do consenso, dividiu, algumas vezes desiludiu. A sua grande dimensão intelectual e a sua grandeza moral não foram, porém, em nenhuma ocasião postos em causa. E mesmo quando, como no momento da invasão americana do Iraque, que apoiou, adoptou posições mais controversas, estou certo que actuou em obediência à preocupação de promoção da democracia e da liberdade. Há homens que se enganam por razões demasiado nobres para poderem ser alvos da crítica fácil. Era o caso de Havel.

Em 1997, este antigo dissidente anticomunista não hesitou em denunciar o "grande erro que consiste em pretender reduzir o homem a um simples produtor de lucro". A hegemonia de um capitalismo opressivo causava-lhe perturbação e, no fundo, a sua obra também anuncia a crítica do tempo em que vivemos, com o risco de aniquilação de aspectos fundamentais do indivíduo e destruição da dignidade humana. Importa, contudo, não relativizar as coisas - por muito injusta e inquietante que seja a época que presentemente atravessamos no Ocidente, ela não tem nada a ver com esse período de trevas que o comunismo representou em vários países europeus. A facilidade com que hoje, por ignorância ou má-fé, se utiliza a palavra totalitarismo, constitui um verdadeiro insulto àqueles que como Havel enfrentaram os efeitos do totalitarismo soviético dentro dos seus próprios países.

Em 1989, alguém escreveu que a primeira consequência da queda dos regimes de Leste consistia na reunificação da linguagem no espaço cultural europeu. Havel, pelo seu génio e pela sua indomável coragem, contribuiu para que isso acontecesse. A sua vida mudou muitas vidas, o seu percurso tornou muitos outros percursos possíveis, a sua luta pela liberdade alterou radicalmente milhões de existências individuais.

Quando chegou ao Castelo de Parga, investido nas funções presidenciais, ocorreu-lhe proferir uma afirmação simples, mas plena de significado - "o meu poder é o poder dos sem poder". Bem sabemos que as coisas nunca são exactamente assim, mas, sem homens como ele, seriam insuportavelmente piores. Como já foram no passado. Como nada nos garante que não voltem a ser no futuro. E essa também é uma boa razão para homenagearmos e lembrarmos a vida extraordinária de um homem que foi nosso contemporâneo e lutou, com as armas da sua inteligência, da sua cultura e do seu carácter, pela afirmação da liberdade. Esse homem chamava-se Vaclav Havel e projectou-se de Praga para o Mundo.

Francisco Assis -22-12-2011 in PÚBLICO deste dia

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Portugueses desconhecidos

Sempre achei que seria muito interessante e até um acto de grande justiça, alguém, um dia, publicar e dar a conhecer o nome e o trabalho de grandes portugueses, aqui ou espalhados pelo mundo mas completamente esquecidos e postos na sombra pelo seu próprio país.
De facto, é isso que acontece, embora ultimamente tenham aparecido alguns jornalistas, jornais e programas de TV que, honra lhes seja feita, vão trazendo reportagens fantásticas dessa fantástica gente que tão orgulhosos nos deixa.

É o caso, por exemplo, dos investigadores, cientistas, professores... homens e mulheres simples que vão fazendo e contribuindo para a História e Desenvolvimento do nosso país, para a História da nossa gente e da nossa cultura ... Para o nosso bem-estar.




São tão simples e tão discretos perante a sua enorme tarefa de olhar e cuidar dos outros! 
Admiro-os cada vez mais. Todos os dias!
Fazem parte da minha lista de HERÓIS!
Não ganham o que ganham os "Mourinhos" e "Cristianos Ronaldos" nem outros que tais que nós tão bem conhecemos!
Não têm os aplausos merecidos nem o tempo de antena que os programas de TV para totós ocupam... nem os talk-shows de ocasião à procura de audiências a qualquer preço, com apresentadores e convidados escandalosamente pagos para de cor-de-rosa pintar a triste realidade de um povo à beira-mar adormecido!
Estes meus heróis, trabalham anónima e tão discretamente para o país, para a Humanidade e para o bem comum, tantas vezes em espaços exíguos e sem conforto, tão humildemente, mas com a responsabilidade do tamanho do Universo e um coração de Gigante.

Não têm a arrogância dos medíocres nem a presunção dos mentecaptos... Claro que não têm!

SÃO ÚNICOS NESTA GRANDIOSIDADE que só muito poucos atingirão.
O seu ESPÍRITO DE ENTREGA e DEDICAÇÃO jamais serão esquecidos por mim.

http://sicnoticias.sapo.pt/vida/article1067334.ece
http://laurindaalves.blogs.sapo.pt/471627.html)
http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?p_pagina=122497
http://www.joaojosemarques.net/outrasleituras/items/view/8666
http://www.jornaltorrejano.pt/edicao/noticia/?id=4185&ed=683
http://dererummundi.blogspot.com/2010/11/medicos-portugueses.html
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=14455

Wind of Change


"Wind of Change" - um dos (muitos) trabalhos fantásticos dos SCORPIONS!
Um poema e um vídeo feito de História, Coragem e Esperança!


I follow the Moskva
Down to Gorky Park
Listening to the wind of change
An August summer night
Soldiers passing by
Listening to the wind of change

The world is closing in
Did you ever think
That we could be so close, like brothers
The future's in the air
I can feel it everywhere
Blowing with the wind of change

Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow dream away
In the wind of change

Walking down the street
Distant memories
Are buried in the past forever
I follow the Moskva
Down to Gorky Park
Listening to the wind of change

Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow share their dreams
With you and me
Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow dream away
In the wind of change

The wind of change
Blows straight into the face of time
Like a stormwind that will ring the freedom bell
For peace of mind
Let your balalaika sing
What my guitar wants to say

Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow share their dreams
With you and me
Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow dream away
In the wind of change

2011 - Retrospectiva feita pela O.N.U.


Em 2011 o mundo chegou a 7 biliões de habitantes, o que lhe impõe uma série de desafios.

Embora produza alimentos suficientes, milhares de pessoas ainda passam fome e  as mudanças climáticas afectaram todo o planeta, que sofreu com severas secas e implacáveis tempestades desencadeando doenças, desruição e morte.

A insegurança alimentar deu provas de ser um risco para a paz mundial, também dependente do desenvolvimento sustentável, alcançável apenas com a participação de todos.

A união é possível. Foi assim que assistimos à queda de governos ditatoriais no Médio Oriente e na África. O povo clamou por liberdade e democracia. Vimos não só as ruas tomadas por manifestantes em diversos países, como também testemunhamos os que compareceram nas urnas para fazer valer as suas vontades após anos de conflito.

A ONU esteve presente em todos os momentos, socorrendo os mais vulneráveis, apoiando processos eleitorais, prevenindo violações de direitos humanos e agindo onde elas ocorreram. Trabalhadores humanitários arriscaram as suas vidas para garantir acesso aos direitos mais básicos. Dezenas deles morreram, mas deixaram plantadas as sementes da esperança, que não morrerá.

O apoio técnico também foi levado pelos nossos especialistas para ajudar os governos nas respostas a crises, como no Japão, evitando uma catástrofe nuclear depois do terraqmoto e do tsunami.

A comunidade internacional deu  as  boas-vindas a um novo país, o Sudão do Sul, e neste caminho da democracia, do direito à igualdade, também progride para receber a Palestina, hoje Estado-Membro da UNESCO.

Estes e outros momentos memoráveis estão na “Retrospectiva das Nações Unidas 2011”, aqui

Fonte de inf.: wordpress.com/

sábado, 17 de dezembro de 2011

Doce Novembro

Um filme marcante e um dos belíssimos temas musicais do mesmo (Only Time) cantado pela Enya.

Cinema Paraíso

Banda sonora de um dos filmes mais belos que já vi: Cinema Paraíso.

 

O capitalismo chegou ao fim da linha

A crise actual não é de curta duração: é o grande desabamento de um sistema. Resta saber o que vai suceder-lhe, diz Immanuel Wallerstein nesta entrevista ao programa Interview na emissora de televisão russa RT.
Sophie Shevardnadze, Esquerda.net, 18 de outubro de 2011

A entrevista durou pouco mais de onze minutos, mas alimentará horas de debates em todo o mundo e certamente ajudará a observar melhor o período tormentoso em que vivemos. Aos 81 anos, o sociólogo norte-americano Immanuel Wallerstein acredita que o capitalismo chegou ao fim da linha: já não pode mais sobreviver como sistema. Mas – e aqui começam as provocações – o que surgirá no seu lugar pode ser melhor (mais igualitário e democrático) ou pior (mais polarizado e explorador) do que temos hoje em dia.

Estamos, pensa este professor da Universidade de Yale e personagem assíduo dos Fóruns Sociais Mundiais, no meio de uma bifurcação, um momento histórico único nos últimos 500 anos. Ao contrário do que pensava Karl Marx, o sistema não sucumbirá num acto heróico. Desabará sobre suas próprias contradições. Mas atenção: diferente de certos críticos do filósofo alemão, Wallerstein não sugere que as acções humanas são irrelevantes.

Ao contrário: para ele, vivemos o momento preciso em que as acções colectivas, e mesmo individuais, podem causar impactos decisivos sobre o destino comum da humanidade e do planeta. Ou seja, as nossas escolhas realmente importam. “Quando o sistema está estável, é relativamente determinista. Mas, quando passa por uma crise estrutural, o livre-arbítrio torna-se importante.”

É no emblemático 1968, referência e inspiração de tantas iniciativas contemporâneas, que Wallerstein situa o início da bifurcação. Lá se teria quebrado “a ilusão liberal que governava o sistema-mundo”. Abertura de um período em que o sistema hegemónico começa a declinar e o futuro se abre a rumos muito distintos, as revoltas daquele ano seriam, na opinião do sociólogo, o facto mais potente do século passado – superiores, por exemplo, à revolução soviética de 1917 ou a 1945, quando os EUA emergiram com grande poder mundial.

As declarações foram colhidas no dia 4 de Outubro pela jornalista Sophie Shevardnadze, que conduz o programa Interview na emissora de televisão russa RT (abaixo). A transcrição e a tradução para o português são iniciativas de Outras Palavras.

Há exatamente dois anos, disse ao RT que o colapso real da economia ainda demoraria alguns anos. Esse colapso está a acontecer agora?

Não, ainda vai demorar um ano ou dois, mas está claro que essa quebra está a chegar.

Quem está em maiores dificuldades: os Estados Unidos, a União Europeia ou o mundo todo?

Na verdade, o mundo todo vive problemas. Os Estados Unidos e União Europeia, claramente. Mas também acredito que os chamados países emergentes, ou em desenvolvimento – Brasil, Índia, China – também vão enfrentar dificuldades. Não vejo ninguém em situação tranquila.

Está a dizer que o sistema financeiro está claramente falido. O que há de errado com o capitalismo contemporâneo?

Essa é uma história muito longa. Na minha visão, o capitalismo chegou ao fim da linha e já não pode sobreviver como sistema. A crise estrutural que atravessamos começou há bastante tempo. No meu ponto de vista, por volta dos anos 1970 – e ainda vai durar mais uns vinte, trinta ou quarenta anos. Não é uma crise de um ano, ou de curta duração: é o grande desabamento de um sistema. Estamos num momento de transição. Na verdade, na luta política que acontece no mundo — que a maioria das pessoas se recusa a reconhecer — não está em questão se o capitalismo sobreviverá ou não, mas o que vai suceder-lhe. E é claro: podem existir dois pontos de vista extremamente diferentes sobre o que deve tomar o lugar do capitalismo.

Qual é a sua visão?

Eu gostaria de um sistema relativamente mais democrático, mais relativamente igualitário e moral. Essa é uma visão, nós nunca tivemos isso na história do mundo – mas é possível. A outra visão é de um sistema desigual, polarizado e explorador. O capitalismo já é assim, mas pode advir um sistema muito pior que ele. É como vejo a luta política que vivemos. Tecnicamente, significa a bifurcação de um sistema.

Então, a bifurcação do sistema capitalista está directamente ligada aos caos económico?

Sim, as raízes da crise são, de muitas maneiras, a incapacidade de reproduzir o princípio básico do capitalismo, que é a acumulação sistemática de capital. Esse é o ponto central do capitalismo como sistema, e funcionou perfeitamente bem por 500 anos. Foi um sistema muito bem sucedido no que se propõe a fazer. Mas desfez-se, como acontece com todos os sistemas.

Esses tremores económicos, políticos e sociais são perigosos? Quais são os prós e contras?

Se pergunta se os tremores são perigosos para você e para mim, então a resposta é sim, são extremamente perigosos para nós. Na verdade, num dos livros que escrevi, chamei-os de “inferno na terra”. É um período no qual quase tudo é relativamente imprevisível a curto prazo – e as pessoas não podem conviver com o imprevisível a curto prazo. Podemos ajustar-nos ao imprevisível no longo prazo, mas não com a incerteza sobre o que vai acontecer no dia seguinte ou no ano seguinte. Não se sabe o que fazer, e é basicamente o que estamos a ver no mundo da economia hoje. É uma paralisia, pois ninguém está a investir, já que ninguém sabe se daqui a um ano ou dois vai ter esse dinheiro de volta. Quem não tem certeza de que em três anos vai receber o seu dinheiro, não investe – mas não investir torna a situação ainda pior. As pessoas não sentem que têm muitas opções, e têm razão, as opções são escassas.

Então, estamos nesse processo de abalos, e não existem prós ou contras, não temos opção, a não ser estar nesse processo. Vê uma saída?

Sim! O que acontece numa bifurcação é que, nalgum momento, pendemos para um dos lados, e voltamos a uma situação relativamente estável. Quando a crise acabar, estaremos num novo sistema, que não sabemos qual será. É uma situação muito optimista no sentido de que, na situação em que nos encontramos, o que eu e você fizermos realmente importa. Isso não acontece quando vivemos num sistema que funciona perfeitamente bem. Nesse caso, investimos uma quantidade imensa de energia e, no fim, tudo volta a ser o que era antes.

Um pequeno exemplo. Estamos na Rússia. Aqui aconteceu uma coisa chamada Revolução Russa, em 1917. Foi um enorme esforço social, um número incrível de pessoas colocou muita energia nisso. Fizeram coisas incríveis, mas no final, onde está a Rússia, em relação ao lugar que ocupava em 1917? Em muitos aspectos, está de volta ao mesmo lugar, ou mudou muito pouco. A mesma coisa poderia ser dita sobre a Revolução Francesa.

O que isso diz sobre a importância das escolhas pessoais?

A situação muda quando se está numa crise estrutural. Se, normalmente, muito esforço se traduz em pouca mudança, nessas situações raras um pequeno esforço traz um conjunto enorme de mudanças – porque o sistema, agora, está muito instável e volátil. Qualquer esforço leva a uma ou outra direcção. Às vezes, digo que essa é a “historização” da velha distinção filosófica entre determinismo e livre-arbítrio. Quando o sistema está relativamente estável, é relativamente determinista, com pouco espaço para o livre-arbítrio. Mas, quando está instável, passando por uma crise estrutural, o livre-arbítrio torna-se importante. As acções de cada um realmente importam, de uma maneira que não se viu nos últimos 500 anos. Este é o meu argumento básico.

Sempre apontou Karl Marx como uma de suas maiores influências. Acredita que ele ainda seja tão relevante no século XXI?

Bem, Karl Marx foi um grande pensador no século XIX. Ele teve todas as virtudes, com as suas ideias e percepções, e todas as limitações, por ser um homem do século XIX. Uma das suas grandes limitações é que ele era um economista clássico demais, e era determinista demais. Viu que os sistemas tinham um fim, mas achou que esse fim se dava como resultado de um processo de revolução. Eu estou a sugerir que o fim é reflexo de contradições internas. Todos somos prisioneiros de nosso tempo, disso não há dúvidas. Marx foi um prisioneiro do facto de ter sido um pensador do século XIX; eu sou prisioneiro do facto de ser um pensador do século XX.

Do século 21, agora.

É, mas eu nasci em 1930, eu vivi 70 anos no século XX, sinto que sou um produto do século XX. Isso provavelmente revela-se como limitação no meu próprio pensamento.

Quanto – e de que maneiras – esses dois séculos diferem? São realmente tão diferentes?

acredito que sim. Acredito que o ponto de viragem deu-se por volta de 1970. Primeiro, pela revolução mundial de 1968, que não foi um evento sem importância. Na verdade, considero-o o evento mais significantes do século XX. Mais importante que a Revolução Russa e mais importante que os Estados Unidos terem-se tornado o poder hegemónico, em 1945. Porque 1968 quebrou a ilusão liberal que governava o sistema mundial e anunciou a bifurcação que viria. Vivemos, desde então, na esteira de 1968, em todo o mundo.

Disse que vivemos a retomada de 68 desde que a revolução aconteceu. As pessoas às vezes dizem que o mundo ficou mais valente nas últimas duas décadas. O mundo ficou mais violento?

Eu acho que as pessoas sentem um desconforto, embora ele talvez não corresponda à realidade. Não há dúvidas de que as pessoas estavam relativamente tranquilas quanto à violência em 1950 ou 1960. Hoje têm medo e, em muitos sentidos, têm o direito de sentir medo.

Acredita que, com todo o progresso tecnológico, e com o facto de gostarmos de pensar que somos mais civilizados, não haverá mais guerras? O que isso diz sobre a natureza humana?

Significa que as pessoas estão prontas para serem violentas em muitas circunstâncias. Somos mais civilizados? Não sei. Esse é um conceito dúbio, primeiro porque o civilizado causa mais problemas que o não civilizado; os civilizados tentam destruir os bárbaros, não são os bárbaros que tentam destruir os civilizados. Os civilizados definem os bárbaros: os outros são bárbaros; nós, os civilizados.

É isso que vemos hoje? O Ocidente a tentar ensinar os bárbaros de todo o mundo?

É o que vemos há 500 anos.

Tradução: Daniela Frabasile, publicada em Outras Palavras
Um artigo de 18 de Outubro de 2011outrapoliticaemsampa (versão original)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

MacDonalds - a crueldade escondida


Carregado por mercyforanimals em 17/11/2011

A new Mercy For Animals undercover investigation into a McDonald's egg supplier exposes the fast-food giant's secret ingredient: shocking cruelty to animals.

Hidden-camera footage taken at Sparboe Egg Farm facilities in Iowa, Minnesota and Colorado reveals:

* Hens crammed into filthy wire cages with less space for each bird than a standard-sized sheet of paper to live her entire miserable life, unable to fully stretch her wings or engage in most other natural behaviors

* Workers burning off the beaks of young chicks without any painkillers and callously throwing them into cages, some missing the cage doors and hitting the floor

* Rotted hens, decomposed beyond recognition as birds, left in cages with hens still laying eggs for human consumption

* A worker tormenting a bird by swinging her around in the air while her legs were caught in a grabbing device - violence described as "torture" by another worker

* Chicks trapped and mangled in cage wire - others suffering from open wounds and torn beaks

* Live chicks thrown into plastic bags to be suffocated

Common sense tells us that animals should be given at a minimum the freedom to walk, stretch their limbs, turn around and engage in natural behaviors. Yet, this McDonald's supplier deprives hens of even
these most basic freedoms.

Barren battery cages are so cruel that the entire European Union and the states of California and Michigan have banned their use. Additionally, leading food retailers, such as Whole Foods, Hellmann's, and Wolfgang Puck, and hundreds of colleges and universities refuse to use or sell eggs from hens subjected to the inherent abuses of battery cages.

MFA is calling on McDonald's Corporation to end its use of eggs from hens confined in battery cages in the United States, as it has already in the European Union.

Sadly, not a single federal law currently provides any protection to birds at the hatchery, on the factory farm, or during slaughter. Further, most states - including those in which this investigation was conducted - have sweeping exemptions for farmed animals, which allow for abuses to run rampant without prosecution.

While McDonald's has the moral obligation and purchasing power to lessen the cruelty suffered by the millions of hens who are abused and exploited to produce eggs for its restaurants, consumers also hold enormous power of their own in preventing animal abuse by adopting a compassionate vegan diet.

http://www.MercyForAnimals.org
http://www.McDonaldsCruelty.com

Discurso de Hitler (Dezembro de 1941)

Há setenta anos e três dias - a 11 de dezembro de 1941 - Adolf Hitler fez um discurso perante o Reichstag para declarar guerra aos Estados Unidos da América. Um discurso impressionante a vários títulos, permanentemente mudando de estilo e de sentido, quase como se fosse da autoria de alguém com divisão de personalidade.
É sempre perturbante pensar ou escrever ou falar sobre Hitler, e perturbante também lê-lo, por aquilo que esperamos e por aquilo que não esperamos.Há setenta anos e três dias - a 11 de dezembro de 1941 - Adolf Hitler fez um discurso perante o Reichstag para declarar guerra aos Estados Unidos da América. Um discurso impressionante a vários títulos, permanentemente mudando de estilo e de sentido, quase como se fosse da autoria de alguém com divisão de personalidade.
É sempre perturbante pensar ou escrever ou falar sobre Hitler, e perturbante também lê-lo, por aquilo que esperamos e por aquilo que não esperamos. O discurso de há setenta anos e três dias tem, por exemplo, várias invocações à "Divina Providência", à "vontade de Deus", agradecimentos ao "Senhor do Universo" que surpreenderão quem tiver ouvido dizer (por exemplo ao atual Papa) que Hitler era uma espécie de descrente. Não era nada disso, como sabe quem se informou, mas mesmo assim a recorrência da retórica religiosa no seu discurso é notória.
Impressionam mais ainda, porém, as passagens em que Hitler tenta fazer passar a imagem de um homem razoável, inclinado a negociar, desejoso de paz, citando agora um tratado assinado, um pouco depois um discurso de um político estrangeiro. Parece quase um político normal, este homem, articulando os seus artifícios, escondendo as suas reais intenções, recorrendo à dupla linguagem, como fazem ainda hoje muitos políticos.
A sonolência dessas passagens não nos prepara para os momentos em que Hitler verdadeiramente perde (aos nossos olhos) a tramontana. Quando se dirige aos homens do Reichstag e lhes pergunta "o que é a Europa, meus deputados"? Aí, lança-se numa longa e rebarbativa passagem que é o Hitler que esperaríamos que ele fosse: um homem obcecado por questões de raça e de sangue, completamente levado por um torvelinho de teorias marteladas sucessivamente sobre judeus e negróides, persas e helénicos, normandos e anglo-saxões, de que fala com tanta verve que é como se os seus fantasmas estivessem ali com ele.
(Em vez disso, com ele estavam homens assombrados pelos mesmos fantasmas. Dois dias depois, Goebbels decidiu explicar que as palavras do seu Führer "não eram palavras vãs" e que implicavam "a destruição dos judeus", que iriam "pagar com as suas próprias vidas". E disse-o em público. Sabendo das consequências, é impossível pensar nisso sem sentir um frio na espinha.)
Uma parte do seu discurso de que eu nunca tinha ouvido falar é uma narrativa paralela em que Hitler compara a sua vida com a do presidente Roosevelt (Franklin Delano), a partir da coincidência de terem chegado ao poder no mesmo ano. Hitler rebaixa-se, faz questão de dizer que era um zé-ninguém, um soldado raso, um morto de fome, quando comparado com Roosevelt, que tinha nascido no meio da riqueza, estudado nas melhores universidades, sido beneficiado com os melhores empregos.
Tudo isso é apenas preparação para um ataque às políticas económicas de Roosevelt. Aí aparece um Hitler anti-keynesiano. Ambos os países, a Alemanha e os EUA, tinham milhões de desempregados e as finanças públicas em desordem em 1933, alega Hitler, que se gaba de ter resolvido ambos os problemas. Quanto a Roosevelt, acusa ele, "aumentou enormemente a dívida do seu país, desvalorizou o dólar, perturbou a economia... o New Deal deste homem foi o maior erro jamais cometido por alguém... num país europeu a carreira deste homem teria terminado num tribunal por desperdiçar o tesouro público, e dificilmente evitaria uma pena por gestão criminosa e incompetente".
Já na altura os EUA tiveram bastante sorte em ter um Roosevelt em vez de um Hitler. E ainda bem que ninguém se lembrou (então) de proibir o keynesianismo, nem de levar políticos a tribunal por políticas de expansão da economia.

Rui Tavares in PÚBLICO de 14.12.11

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Na Síria... mais crimes contra a Humanidade!

A ONU pede ação para conter a violência na Síria que já matou mais de 5 mil pessoas.

A Alta comissária dos Direitos Humanos reuniu-se com Conselho de Segurança, a portas fechadas, nesta seguda-feira; ela se disse alarmada como relatos de aumento de operações militares na cidade de Homs.

A alta comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas, Navi Pillay, pediu à comunidade internacional que tome medidas urgentes para evitar uma situação de violência sectária na Síria.

Segundo Pillay, “várias fontes estão alertando para a iminência de um grande ataque militar à cidade de Homs”, onde se concentram muitos opositores do presidente Bashar al-Assad. O país árabe está enfrentando protestos por democracia desde meados de março.
Nesta segunda-feira, Navi Pillay reuniu-se com membros do Conselho de Segurança e afirmou que o número de mortos pela violência política já ultrapassa 5 mil.

No encontro, à porta fechada em Nova York, Pillay disse que não tem como confirmar os relatos de uma operação iminente, mas segundo ela as indicações são críveis.

O Escritório de Direitos Humanos foi informado de que centenas de tanques e armamentos pesados foram enviados a Homs, nos últimos dias. Trincheiras foram construídas ao redor da cidade e dezenas de postos de controle foram instalados na região.

A alta comissária disse que há imagens de vídeo mostrando corpos nas ruas, prédios crivados de bala e tanques do exército em áreas residenciais. Mas segundo Pillay, não é possível atestar a veracidade das imagens. O governo sírio proibiu a entrada de uma Comissão de Inquérito da ONU ao país afirmando que a decisão de investigar a violência era “tendenciosa e 100% política.”

Entre as vítimas da violência na Síria estão civis e militares desertores que se negaram a atirar em civis.

A alta comissária da ONU afirmou temer que a repressão aos manifestantes, em breve, coloque a Síria numa situação de guerra civil.

Lembrou que o governo sírio está a ignorar a reprovação internacional sobre o que está ocorrendo no país.

A alta comissária pediu ao presidente al-Assad que publicamente “dê uma ordem para que as suas forças de segurança não cometam violações dos direitos humanos em Homs”. Fez esta declaração após uma entrevista à rede americana ABC na qual Assad afirmou jamais “ter dado ordens às suas forças para matar civis.”

Navi Pillay pediu ao Conselho de Segurança que fale “com uma só voz” e tome “medidas urgentes e decisivas” para proteger os sírios.

Segundo ela, foram cometidos crimes contra a Humanidade no país.

Fonte: RÁDIO ONU

Cooperativas agrícolas - a chave para reduzir a fome e a pobreza



Cooperativas: oportunidade para o pequeno agricultor

As ação das cooperativas agrícolas são um importante mecanismo de garantia da segurança alimentar e redução da pobreza. Elas beneficiam diretamente o pequeno agricultor ao aumentar seu poder de negociação e a capacidade de compartilhar recursos, informam a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Programa Mundial de Alimentos (WFP). As três agências lançaram no dia 31 de outubro o Ano Internacional das Cooperativas 2012 (IYC, na sigla em inglês), em Nova York.

As agências ressaltaram que não se deve subestimar a importância das cooperativas para vida dos agricultores e suas famílias. Fortalecidos dentro de um grupo maior, os agricultores têm condições de negociar contratos melhores e preços mais justos para insumos como sementes, fertilizantes e equipamentos. Além disso, as cooperativas oferecem condições que os agricultores dificilmente aproveitariam individualmente, como a garantia do direito à terra e melhores ofertas de mercado.

Desde associações de pequeno porte até em contratos milionários em escala global, as cooperativas operam em todos os setores da economia, contam com mais de 800 milhões de associados e garantem 100 milhões de empregos no mundo - 20% a mais do que as empresas multinacionais. Em 2008, as 300 maiores cooperativas do mundo movimentaram cerca de U$ 1,1 trilhão, cifra comparável ao PIB (Pruto Interno Bruto) de muitas economias de grande porte.

Cooperativas: pilar do desenvolvimento agrícola e da segurança alimentar

O setor agrícola, que inclui também silvicultura, pesca e pecuária, é a principal fonte de renda e emprego nas áreas rurais, onde a maior parte da população pobre e faminta vive. Ao gerar emprego no campo, as cooperativas desempenham um papel importante no apoio aos pequenos produtores - homens e mulheres - e grupos marginalizados.

As cooperativas oferecem oportunidades de mercado ao pequeno produtor, formação na gestão de recursos naturais, acesso à informação, tecnologia, inovação e serviços de extensão agrária. Em muitos países, a FAO oferece sementes de qualidade e fertilizantes aos produtores e cooperativas agrícolas e trabalha em conjunto na aplicação de práticas agrícolas mais sustentáveis e produtivas.

O FIDA trabalha com as cooperativas agrícolas locais no Nepal, em centros de desenvolvimento de cabras, que ajudam os agricultores a criar mercados para o abastecimento e criação de alta qualidade. Por meio da iniciativa Compras para Progresso (P4P, em inglês), o Programa Mundial de Alimentos e seus parceiros trabalham com organizações de pequenos agricultores em 21 países para ajudá-los a produzir excedentes, aumentar o acesso ao mercado e melhorar a renda.

Assim, o pequeno agricultor pode garantir a própria subsistência e a segurança alimentar das comunidades, além de aumentar sua participação na economia e ajudar a cobrir a demanda crescente por alimentos nos mercados locais, nacionais e internacionais.

No Brasil, as cooperativas foram responsáveis por 37,2% do PIB agrícola e de 5,4% do PIB nacional em 2009, garantindo cerca de U$ 3,6 bilhões em exportações. Em Maurício, as cooperativas representam mais de 60% da produção nacional no setor alimentar. No Quénia, as cooperativas de poupança e crédito têm ativos de U$ 2,7 bilhões, cerca de 31% da poupança bruta nacional.

Apoio às cooperativas agrícolas: o IYC e o futuro

As três agências da ONU irão promover o crescimento das cooperativas agrícolas:

Apoiando iniciativas para entender melhor o funcionamento das cooperativas e avaliar seu impacto no desenvolvimento económico e na vida do pequeno agricultor. Um exemplo é a base de dados da FAO de boas práticas em inovações institucionais;

Apoiando as cooperativas na formação de redes que permitam aos agricultores reunir ativos e competências para superar barreiras de mercado e outras limitações como a falta de acesso aos recursos naturais;

Auxiliando governos na implementação de políticas, leis e projetos que levem em consideração as necessidades de homens e mulheres no campo e criem um ambiente adequado para o crescimento das cooperativas agrícolas;

Fortalecer o diálogo e a cooperação entre governos, cooperativas agrícolas, comunidade internacional de pesquisadores e representantes da sociedade civil para avaliar as melhores condições de desenvolvimento das cooperativas no mundo.

Durante 2012 e nos anos subsequentes, as agências estarão comprometidas no apoio às cooperativas, consideradas um modelo de negócio viável e adaptável às necessidades das comunidades rurais dos países em desenvolvimento.


Fonte: Site da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) by fernandacamilo

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Make a better place for you and for me

Um dos excelentes trabalhos de Michael Jackson! Em todos os aspectos!

Que fantástica mensagem!


There's a place in your heart and I know that it is love
And this place could be much brighter than tomorrow
And if you really try you'll find there's no need to cry
in this place you'll feel there's no hurt or sorrow

There are ways to get there if you care enough
for the living make a little space make a better place

heal the world make it a better place for you and for me
and the entire human race there are people dying
if you care enough for the living
Make a better place for you and for me

If you want to know why there's a love that can not lie
Love is strong it only cares of joyful giving if we try
we shall see in this bliss we can not feel fear or dread
we stop existing and start living

then it feels that always love's enough for us growing
so make a better world make a better world . . .

Heal the world make it a better place for you and for me
and the entire human race there are people dying
if you care enough for the living
make a better place for you and for me

And the dream we were conceived in will reveal
a joyful face and the world we once believe in
will shine again in grace then why do we keep
strangling life wound this earth crucify its soul
Though it's plane to see this world in eavenly in god's glow

We could fly so high let our spririts never die
In my heart I feel you are all my brothers
Create a world with no fear togheter we'll cry happy tears
see the nations turn their swords into plowshares

We could really get there if you cared enough
for the living make a little space to make a better place . . .

Heal the world make it a better place for you and for me
and the entire human race there are people dying
if you care enough for the living
make a better place for you and for me

Heal the world make it a better place for you and for me
and the entire human race there are people dying
if you care enough for the living
make a better place for you and for me